Responsável pelo texto, agente literária Lúcia Riff não foi comunicada pela agência; nomes incluídos já foram alvo de ataques do governo federal e aliados
Uma lista da agente literária Lucia Riff, com recomendação de "6 autoras para não perder de vista", foi retirada do site da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) sem explicações. Entre as indicações, estavam os livros das jornalistas Patrícia Campos Mello ("A máquina de ódio") e Eliane Brum ("Brasil, construtor de ruínas") e o da cientista política Ilona Szabó ("A defesa do espaço cívico"). As três já foram alvos de ataques de membros do governo federal e seus aliados.
A lista havia sido encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), parceira da Apex no Brazilian Publishers (BP), projeto de fomento da exportação de conteúdos editoriais brasileiros. Através da sua assessoria, a Apex disse que não iria se pronunciar sobre o caso, mas informou que "ainda está avaliando o conteúdo".
Os outros livros da lista são "Suíte Tóquio", de Giovana Madalosso; "O peso do pássaro morto", de Aline Bei; e "O que ela sussurra", de Noemi Jaffe.
Em suas colunas na imprensa, Eliane Brum faz críticas recorrentes ao governo Bolsonaro. Repórter da Folha de S.Paulo, Patricia Campos Mello é autora de várias reportagens sobre esquemas de distribuição de fake news e ataques contra adversários desde a campanha presidencial de 2018. Essas investigações deram origem ao livro "A máquina de ódio", em que analisa as ações de difamação. Na semana passada, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, foi condenado a indenizar a jornalista por danos morais.
Pesquisadora em segurança pública, Ilona Szabó é conhecida conhecida por sua posição contrária à flexibilização do porte de armas. Ela já foi citada em um de discurso de Jair Bolsonaro sobre a demissão do então ministro Sergio Moro, em abril. O presidente reclamou da resistência do ex-juiz em retirar Ilona da suplência do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP).
Szabó acredita que a inclusão do seu nome e das outras autoras críticas ao governo acabou resultando na retirada da lista.
— O atual governo não sabe conviver com críticas e com pessoas de opiniões diferentes — diz ela. — É um governo intolerante, que tenta calar pessoas que divergem de suas propostas, e os chama de inimigos. E é exatamente sobre as expressões e consequências dessa intolerância para a democracia que falo no meu livro censurado chamado “A defesa do espaço cívico”. Para mim mais esse fato só prova que eu precisava escrevê-lo.
Fundadora da Agência Riff, Lucia Riff conta que teve contato apenas com a Brazilian Publishers. Em nenhum momento, porém, foi avisada de que a lista sairia do ar. A lista segue no ar no site do projeto. A agente disse que não havia recebido nenhuma restrição ou recomendação para compor a lista.
— Pelo contrário — diz. — Tive total liberdade na preparação da lista de sugestões. O difícil, no caso, foi escolher apenas 6 livros...
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