Cora Rónai
George Soros não gosta do Facebook, e vice versa. Na semana passada,
essa antipatia e desconfiança mútua atingiram novo patamar, quando o
filantropo bilionário publicou no "The New York Times" um artigo pedindo
a cabeça de Mark Zuckerberg. O motivo seria a (polêmica) decisão do
Facebook de aceitar propaganda política sem fazer checagem de fatos,
como faria com qualquer outra espécie de conteúdo. Soros acredita que
Trump se elegeu com a ajuda do Facebook, e teme que isso aconteça
novamente.Não concordo com ele em relação às causas da eleição de Trump. Acho que o atual presidente dos Estados Unidos foi eleito sobretudo devido à inabilidade do Partido Democrata, que não soube interpretar os sentimentos do povo, e escolheu a pior candidata possível, uma arquetípica representante do establishment num momento em que tudo o que o eleitor queria era uma mudança radical do status quo.
Mas isso é (quase) uma outra história. Em relação ao Facebook e aos anúncios políticos, tendo a concordar -- e, sobretudo, concordo com plataformas como o Twitter e o Spotify, que simplesmente baniram propaganda política paga.
O Facebook alega que não pode fazer papel de censor, e que interferir no que define como "debate político" seria uma agressão à liberdade de expressão. Isso só é verdade até certo ponto, porque esse mesmo Facebook não hesita em tirar do ar, com uma velocidade espantosa, qualquer imagem que mostre um seio de mulher; além disso, o verdadeiro debate político não acontece através de agências de propaganda e marketing, mas através de opiniões e conversas autênticas.
Se já ficou estabelecido que é importante separar o joio do trigo em todo o resto da informação que circula na plataforma, não há motivo para deixar anúncios políticos correndo soltos. Propaganda política sem checagem de fatos é um desserviço à população.
" A decisão do Facebook de não exigir checagem de fatos para publicidade de candidatos políticos em 2020 abriu as portas para declarações falsas, manipuladas, extremas e incendiárias" escreveu Soros. "Esse conteúdo é recompensado com ótimo posicionamento e promoção, se atender aos padrões algorítmicos projetados pelo Facebook para popularidade e engajamento."
Em outras palavras, quanto mais radical o anúncio, maior circulação terá. Isso qualquer um que usa a rede percebe. Para Soros, nem Zuckerberg nem a COO Sheryl Sandberg devem ser deixados à frente do comando da rede social:
"Repito e reafirmo minha acusação contra o Facebook, sob a liderança de Zuckerberg e Sandberg. Eles seguem apenas um princípio norteador: maximizar os lucros independentemente das consequencias. De um jeito ou de outro, eles não devem ser deixados no controle do Facebook".
O Facebook discorda, e diz que Soros está equivocado.
“A noção de que estamos alinhados com qualquer figura ou partido político contraria os nossos valores e os fatos. Continuamos fazendo investimentos sem precedentes para manter nossa plataforma segura, para combater a interferência estrangeira nas eleições em todo o mundo e para combater a desinformação. ”
Se posso dar meu palpite, Facebook, uma forma realmente eficaz de "combater a desinformação" seria... checando os fatos da propaganda política. Não esqueça que, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.
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