Jeremy Egner, do New York Times
Frases como “o russo na floresta” e “corta para a tela preta” se tornaram gíria entre os americanos depois que “Os Sopranos”, com sua abordagem autoral para uma série de TV, deu início a uma nova era, que também gerou sucessos como “Breaking bad” e “The shield”, além de outras mais singulares e criativas, como “Mad men”, “Transparent” e “Atlanta”. “Nunca achei que ‘Sopranos’ criaria uma nova linhagem”, diz o criador da série. “Eu só quis me aproximar o máximo possível do cinema”.
“Os Sopranos” foi originalmente concebida como um filme, correto?
Sim. Minha ideia era ter Robert De Niro como... bom, ele ainda não tinha nome, e Anne Bancroft como sua mãe. Mas eu estava em uma agência nova, e eles disseram que as comédias de máfia já tinham morrido, e eu tinha que esquecer aquilo. Acho que eles não tinham captado bem o espírito.
Por que um seriado de máfia, especificamente?
Eu, como ítalo-americano, queria ver ítalo-americanos retratados. Aí as pessoas diziam: “Você não mostrou os italianos como eles são. Nem todos são bandidos”. Nem no programa. A Dra. Melfi ( Lorraine Bracco, analista de Tony Soprano ) não era uma criminosa. Os personagens principais eram.
Você ficou chateado com as críticas sobre a forma como os ítalo-americanos apareciam?
Não. Fiquei ligado nisso, apenas. Em “Sopranos” tinha muita coisa que não se via em outros programas que retratam a máfia, e ficava chateado quando as pessoas não viam isso. Íamos filmar o episódio “Pine Barrens” na reserva florestal de South Mountain, em Nova Jersey, e o administrador local nos expulsou de lá porque éramos uma péssima amostragem de italianos. Depois ele foi preso ( risos ).
James Gandolfini formatou Tony Soprano com características que você não tinha imaginado?
No primeiro dia de filmagens, havia uma cena em que Christopher dizia a Tony que ia escrever o roteiro de um filme e levá-lo a Hollywood. No diálogo, Tony dizia: “Tá maluco?”, e lhe dava um tapinha amoroso. Na hora de filmar, Jim o puxou de sua cadeira pelo colarinho e disse: “Tá maluco, porra?”. Pensei: “Esse é Tony Soprano”. Parecia um gângster de verdade.
Houve algum momento, no começo, em que você teve uma pista do que viria no futuro?
Acho que “College” ( “Faculdade” ), quinto episódio da primeira temporada, me trouxe uma espécie de revelação. Quando Tony levou sua filha para conhecer faculdades ( e, no caminho, matou barbaramente um antigo mafioso que tinha mudado de lado ). Alguns dos melhores episódios foram aqueles em que ele (ou alguém) estava fora de seu habitat. Como “Pine Barrows”. Eram como pequenos filmes, o que eu sempre quis fazer. Um filminho por semana. Nunca quis fazer histórias contínuas.
Por que não?
Não sei. Pensava em “Dallas” — não queria aquilo. Mas fui convencido, depois, e acabou sendo uma ótima ideia.
Houve episódios que você gostaria de ter refeito?
Sim, a ida deles à Itália. Aquele não era o nosso habitat. Não sabíamos direito do que estávamos falando.
Desde o começo você sabia que a série ia incorporar elementos impressionistas, como as cenas de sonhos?
Muita gente odiou aqueles sonhos. Eles queriam apenas um seriado de máfia, o lema era “menos enrolação, mais amputação”. Ora, o programa falava de psiquiatria, os sonhos são parte disso.
Você sonha com “Sopranos”?
Não, sonho com Jim Gandolfini ( ele e o ator, que morreu de infarto em 2013, não se davam bem na reta final da série ). Eu não me lembro bem dos sonhos e nunca os analisei. Talvez ele seja Tony Soprano em algum. Está com raiva em vários.
A atriz Edie Falco brinca que quer trazer a série de volta, com Carmela, que ela interpretava, como chefe da família. Alguém já o consultou seriamente querendo alguma espécie de ressurreição?
Não. Já vieram me propor outras coisas ligadas à máfia, mas não “Sopranos”.
Sério? Eu imagino a Netflix vindo com um carro-forte e dizendo: “Quanto?”
Não. Nunca aconteceu.
O que seria necessário?
Para voltar? Eu não faria. No fim, estávamos acabados. Eu estava acabado.
O fim da série é lembrado pelo corte para a tela preta e os comentários que se seguiram. Você faria algo diferente se soubesse que depois passaria anos ouvindo perguntas?
Acho que não, apesar da minha surpresa com a reação. Foi uma sensação prazerosa saber que causamos uma impressão nas pessoas. Muita gente ficou furiosa. Às vezes eu não acreditava na importância que aquilo tinha para alguns.
Com a chegada do aniversário de 20 anos, está pronto para mais uma rodada de “Tony morreu ou não morreu?”
Olha, vou te dizer que fico de saco cheio disso. Meu Deus, 86 episódios e as pessoas tem fixação nisso?
Acho que há alguma esperança naquele fim.
Você é o primeiro que me diz isso. Tem esperança, sim. “Don’t stop believing” ( “Não pare de acreditar”, do grupo Journey ) é o nome da música! O que mais se pode dizer?
Há uma resposta certa para “Tony está vivo ou morto”?
Não creio. Não creio.
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