Marcada pelo árbitro de vídeo, a Copa viu Mbappé despontar como revelação e Modric se consagrar como craque. E, enquanto a Croácia surpreendeu, campeãs mundiais precisaram se sentar no divã. Para CBF e Neymar, o futuro é de gestão de crise.
VENCEDORES DA COPA
MBAPPÉ
Falar que o
atacante deu certo é eufemismo. O torneio foi um sonho, como ele mesmo
definiu, ainda sem saber o desfecho. Campeão, recebeu o prêmio de
revelação. Para muitos, também deveria ter sido eleito o craque. Com
apenas 19 anos, já disputou sua primeira Copa como protagonista e
brilhou: teve a maior atuação individual da competição, nas oitavas,
contra a Argentina. Na final, foi muito bem e marcou o último gol do
título francês. (Thales Machado)
RÚSSIA
Subestimada
por torcedores estrangeiros — e nacionais —, a Rússia se transformou em
uma imensa festa de muitos sorrisos, apesar da fama de sisuda e linha
dura. Sob sanções há quatro anos, organizou um evento de sucesso: não
registrou incidentes graves e mostrou um futebol que até permitiu aos
locais, descrentes de início, sonhar alto. Foi o mundial mais caro do
mundo: custou US$ 11 bilhões, e as autoridades já esperam o retorno. Os
turistas disseram que voltam. Vladimir Putin recebeu 30 chefes de
Estado, mesmo alguns que não eram esperados com o anúncio de boicote.
Para o líder controvertido de um país que muitos querem isolar
diplomaticamente, parece um resultado mais do que satisfatório. (Vivian Oswald)
VAR
Protagonista
do Mundial na primeira fase, o árbitro de vídeo passou a participante
discreto na reta final. E aí está o segredo do seu sucesso: como todo
bom árbitro de carne e osso, a tecnologia se encaixa melhor quando não
está no centro das atenções. A discrição virou a alma do negócio.
Segundo o presidente da Fifa, Gianni Infantino, cerca de 440 lances
foram checados pelas equipes do VAR até a semifinal, mas apenas 19
passaram por revisão — quando o árbitro de campo é avisado de um
possível erro. Destes casos, 16 tiveram a decisão modificada. No fim das
contas, o VAR interveio pontualmente. A impressão de que a tecnologia
interferia no jogo de forma exagerada não se confirmou nos números. (Bernardo Mello)
CROÁCIA
Quando
começou a Copa, a Croácia era só o adversário do primeiro amistoso do
Brasil, que disputaria a segunda vaga do Grupo D. Na prática, o time
atropelou a Argentina, venceu a chave e, de empate em empate no tempo
normal, avançou até a final, tornando-se o menor país a atingir o feito
desde o Uruguai. De quebra, permitiu que Modric fosse eleito o melhor
jogador da competição. Mais que um vice, a Copa de 2018 coloca o futebol
croata em um patamar acima do que estava há um mês. (T.M.)
THIAGO SILVA
Ele
não chorou uma lágrima: nem quando marcou o gol que confirmou o Brasil
nas oitavas, nem quando perdeu para a Bélgica nas quartas e viu seu
ciclo em Copas do Mundo se encerrar sem o sonhado título. O mais
importante que mostrou na Rússia, porém, não foi o controle emocional.
Thiago Silva provavelmente se despede dos Mundiais com uma atuação à
altura de seu talento. Foi o grande jogador do Brasil na Rússia, craque
nas cinco partidas que disputou. Merecia que sua bola contra a Bélgica
tivesse entrado em vez de ter ido na trave. Mas o futebol está longe de
ser um jogo de merecimento. (Bruno Marinho)
PERDEDORES DA COPA
NEYMAR
Na Copa do
VAR, organizada por uma Fifa que tenta vender a ideia de que os anos de
corrupção ficaram para trás, Neymar e seu jeitinho bem brasileiro de
cavar faltas e tentar manipular a arbitragem pegaram mal. Se ficasse
restrito às pancadas que de fato sofre nos jogos, o atacante e seu
desempenho irregular seriam apenas mais um capítulo da competição. Mas o
brasileiro virou piada mundial com seu hábito de se contorcer de dor ao
menor contato que sofre. Não enganou ninguém e terá de lidar por algum
tempo com os questionamentos sobre seu caráter. (B. Marinho)
CORONEL NUNES/CBF
Em
campo, a seleção não teve motivos para se envergonhar. Fora dele, foi
um papelão atrás do outro do presidente da CBF, Coronel Nunes. Na
eleição da sede de 2026, gerou saia justa ao votar no Marrocos, em vez
de apoiar Canadá, México e EUA, como combinado pela Conmebol. Xingado em
um restaurante, viu um de seus assessores quebrar um copo na cabeça de
um torcedor. Se força política pesa, o Brasil mostrou não ter nenhuma —
todos os lances polêmicos de arbitragem foram ignorados, mesmo com o VAR
em ação. (B. Marinho)
ARGENTINA/SAMPAOLI/MESSI
A
Argentina tem um longo caminho a seguir. Jorge Sampaoli já saiu: se por
um lado moveu-se mal no Mundial, por outro chegou como bombeiro, na
reta final das eliminatórias, em meio ao caos da AFA. Pior: foi coagido a
renunciar com gestos que tentavam constrangê-lo, como a nomeação para
dirigir o time sub-20 num torneio amistoso. No meio do desgoverno, está
Messi, vítima do processo, mas com o peso de carregar, talvez para
sempre, a marca de uma carreira brilhante sem um título mundial, ou
mesmo sem uma Copa com atuações de seu tamanho. (Carlos Eduardo Mansur)
ESPANHA
A
frágil campanha não decreta a morte de um modelo que marcou época.
Apenas indica como a Espanha se desarrumou às vésperas da Copa. A
demissão do técnico Julen Lopetegui a 48 horas do torneio radicalizou
problemas que o time apresentava nos amistosos: falta de pressão ao
perder a bola, recomposição defensiva ruim e dificuldade de infiltração.
A saída de Xavi em 2014 e, agora, a partida de Iniesta indicam que não
será fácil buscar intérpretes. Thiago e Saúl despontam como herdeiros.
David Silva talvez permaneça. Já a verticalidade de Isco e Asensio pode
ser usada para que o time não jogue o tempo todo contra rivais
encerrados atrás. (C.E.M.)
ALEMANHA
Das
derrotadas da Copa, é a que aparenta ter as condições mais
estabelecidas para se reestruturar. A formação de jogadores funciona, e o
futebol local é organizado, embora a liga seja desequilibrada.
Claramente, a mescla de jovens e experientes usada durante todo o ciclo
pré-Copa, mas ausente no Mundial, sobrecarregou o time no meio-campo e
criou problemas defensivos. A falta de um homem com drible também pesou.
E, neste ponto, é impossível não lembrar a ausência de Sané, por opção
de Joachim Löw. O técnico vai continuar e tem conhecimento do futebol
alemão e da seleção para fazer os ajustes. Mas, agora, trabalhará sob
uma pressão que, antes, não recebia. (C.E.M.)
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