July 18, 2018

Sorrir é para poucos: Quem ganhou e quem perdeu na Copa da Rússia



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Marcada pelo árbitro de vídeo, a Copa viu Mbappé despontar como revelação e Modric se consagrar como craque. E, enquanto a Croácia surpreendeu, campeãs mundiais precisaram se sentar no divã. Para CBF e Neymar, o futuro é de gestão de crise.


VENCEDORES DA COPA

MBAPPÉ
Falar que o atacante deu certo é eufemismo. O torneio foi um sonho, como ele mesmo definiu, ainda sem saber o desfecho. Campeão, recebeu o prêmio de revelação. Para muitos, também deveria ter sido eleito o craque. Com apenas 19 anos, já disputou sua primeira Copa como protagonista e brilhou: teve a maior atuação individual da competição, nas oitavas, contra a Argentina. Na final, foi muito bem e marcou o último gol do título francês. (Thales Machado)

RÚSSIA
Subestimada por torcedores estrangeiros — e nacionais —, a Rússia se transformou em uma imensa festa de muitos sorrisos, apesar da fama de sisuda e linha dura. Sob sanções há quatro anos, organizou um evento de sucesso: não registrou incidentes graves e mostrou um futebol que até permitiu aos locais, descrentes de início, sonhar alto. Foi o mundial mais caro do mundo: custou US$ 11 bilhões, e as autoridades já esperam o retorno. Os turistas disseram que voltam. Vladimir Putin recebeu 30 chefes de Estado, mesmo alguns que não eram esperados com o anúncio de boicote. Para o líder controvertido de um país que muitos querem isolar diplomaticamente, parece um resultado mais do que satisfatório. (Vivian Oswald)

VAR
Protagonista do Mundial na primeira fase, o árbitro de vídeo passou a participante discreto na reta final. E aí está o segredo do seu sucesso: como todo bom árbitro de carne e osso, a tecnologia se encaixa melhor quando não está no centro das atenções. A discrição virou a alma do negócio. Segundo o presidente da Fifa, Gianni Infantino, cerca de 440 lances foram checados pelas equipes do VAR até a semifinal, mas apenas 19 passaram por revisão — quando o árbitro de campo é avisado de um possível erro. Destes casos, 16 tiveram a decisão modificada. No fim das contas, o VAR interveio pontualmente. A impressão de que a tecnologia interferia no jogo de forma exagerada não se confirmou nos números. (Bernardo Mello)

CROÁCIA
Quando começou a Copa, a Croácia era só o adversário do primeiro amistoso do Brasil, que disputaria a segunda vaga do Grupo D. Na prática, o time atropelou a Argentina, venceu a chave e, de empate em empate no tempo normal, avançou até a final, tornando-se o menor país a atingir o feito desde o Uruguai. De quebra, permitiu que Modric fosse eleito o melhor jogador da competição. Mais que um vice, a Copa de 2018 coloca o futebol croata em um patamar acima do que estava há um mês. (T.M.)

THIAGO SILVA
Ele não chorou uma lágrima: nem quando marcou o gol que confirmou o Brasil nas oitavas, nem quando perdeu para a Bélgica nas quartas e viu seu ciclo em Copas do Mundo se encerrar sem o sonhado título. O mais importante que mostrou na Rússia, porém, não foi o controle emocional. Thiago Silva provavelmente se despede dos Mundiais com uma atuação à altura de seu talento. Foi o grande jogador do Brasil na Rússia, craque nas cinco partidas que disputou. Merecia que sua bola contra a Bélgica tivesse entrado em vez de ter ido na trave. Mas o futebol está longe de ser um jogo de merecimento. (Bruno Marinho)

PERDEDORES DA COPA

NEYMAR
Na Copa do VAR, organizada por uma Fifa que tenta vender a ideia de que os anos de corrupção ficaram para trás, Neymar e seu jeitinho bem brasileiro de cavar faltas e tentar manipular a arbitragem pegaram mal. Se ficasse restrito às pancadas que de fato sofre nos jogos, o atacante e seu desempenho irregular seriam apenas mais um capítulo da competição. Mas o brasileiro virou piada mundial com seu hábito de se contorcer de dor ao menor contato que sofre. Não enganou ninguém e terá de lidar por algum tempo com os questionamentos sobre seu caráter. (B. Marinho)

CORONEL NUNES/CBF
Em campo, a seleção não teve motivos para se envergonhar. Fora dele, foi um papelão atrás do outro do presidente da CBF, Coronel Nunes. Na eleição da sede de 2026, gerou saia justa ao votar no Marrocos, em vez de apoiar Canadá, México e EUA, como combinado pela Conmebol. Xingado em um restaurante, viu um de seus assessores quebrar um copo na cabeça de um torcedor. Se força política pesa, o Brasil mostrou não ter nenhuma — todos os lances polêmicos de arbitragem foram ignorados, mesmo com o VAR em ação. (B. Marinho)

ARGENTINA/SAMPAOLI/MESSI
A Argentina tem um longo caminho a seguir. Jorge Sampaoli já saiu: se por um lado moveu-se mal no Mundial, por outro chegou como bombeiro, na reta final das eliminatórias, em meio ao caos da AFA. Pior: foi coagido a renunciar com gestos que tentavam constrangê-lo, como a nomeação para dirigir o time sub-20 num torneio amistoso. No meio do desgoverno, está Messi, vítima do processo, mas com o peso de carregar, talvez para sempre, a marca de uma carreira brilhante sem um título mundial, ou mesmo sem uma Copa com atuações de seu tamanho. (Carlos Eduardo Mansur)

ESPANHA
A frágil campanha não decreta a morte de um modelo que marcou época. Apenas indica como a Espanha se desarrumou às vésperas da Copa. A demissão do técnico Julen Lopetegui a 48 horas do torneio radicalizou problemas que o time apresentava nos amistosos: falta de pressão ao perder a bola, recomposição defensiva ruim e dificuldade de infiltração. A saída de Xavi em 2014 e, agora, a partida de Iniesta indicam que não será fácil buscar intérpretes. Thiago e Saúl despontam como herdeiros. David Silva talvez permaneça. Já a verticalidade de Isco e Asensio pode ser usada para que o time não jogue o tempo todo contra rivais encerrados atrás. (C.E.M.)

ALEMANHA
Das derrotadas da Copa, é a que aparenta ter as condições mais estabelecidas para se reestruturar. A formação de jogadores funciona, e o futebol local é organizado, embora a liga seja desequilibrada. Claramente, a mescla de jovens e experientes usada durante todo o ciclo pré-Copa, mas ausente no Mundial, sobrecarregou o time no meio-campo e criou problemas defensivos. A falta de um homem com drible também pesou. E, neste ponto, é impossível não lembrar a ausência de Sané, por opção de Joachim Löw. O técnico vai continuar e tem conhecimento do futebol alemão e da seleção para fazer os ajustes. Mas, agora, trabalhará sob uma pressão que, antes, não recebia. (C.E.M.)

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