Martín Fernandez
No domingo que vem, a Copa do Mundo será conquistada pela quarta vez seguida por uma seleção europeia. A hegemonia dos clubes, facilmente explicada por fatores como organização e dinheiro, finalmente se estendeu para o futebol de seleções. E nada indica que essa tendência vá mudar um dia. Historicamente equilibrada, a contagem de títulos mundiais entre os dois continentes que realmente importam neste esporte terminará 2018 com goleada: Europa 12 x 9 América do Sul.
Sim, houve algo de injustiça na eliminação do Brasil — embora não haja nada de injusto no fato de ter sido a Bélgica o time a avançar à semifinal na Rússia após o duelo em Kazan. Sim, Uruguai e França faziam um jogo relativamente parelho em Nizhny Novgorod até um goleiro fazer a defesa da Copa e o outro tomar o frango da Copa. Sim, a Colômbia só caiu nos pênaltis ante a Inglaterra. Sim, o Peru merecia mais pelo futebol que apresentou contra Austrália e Dinamarca na primeira fase. Sim, a Argentina... bom, a Argentina, não.
As lições que a Rússia deixa ao futebol brasileiro em particular e ao futebol sul-americano em geral são claras demais, caso alguém não tenha percebido: o Brasil não pôde com a Suíça, a Argentina não aguentou a Islândia. Colômbia e Uruguai caíram com justiça ante os primeiros rivais minimamente organizados que passaram por seus caminhos.
Também não é acaso que a Inglaterra seja a atual campeã mundial nas categorias sub-20 e sub-17, títulos que Brasil e Argentina costumavam monopolizar não faz muito tempo. O técnico da Bélgica é um espanhol que treina 11 atletas do Campeonato Inglês; mais da metade da seleção francesa joga fora da França (mas dentro da Europa); o craque croata Rakitic estudou na Suíça, brilhou na Alemanha, arrebenta na Espanha. Enquanto a Europa derruba as fronteiras do futebol, o lateral-direito titular do Brasil na Copa do Mundo passou metade do ano disputando o Campeonato Paulista.
Encerrada a Copa da Rússia, a Europa vai mergulhar em sua Liga das Nações, uma espécie de torneio por pontos corridos entre seleções, criado pela Uefa para que seus países compitam entre si e não precisem perder tempo (nem dinheiro) jogando amistosos contra seleções do terceiro mundo. Tipo o Brasil. Enquanto isso, a Conmebol vai organizar sua Copa América com os 10 times da América do Sul e mais dois convidados, Japão e Qatar.
Em novembro de 2022, quando seleção brasileira voltar a uma Copa do Mundo com o eterno status de favorito, o abismo só terá aumentado.
Terão se passado vinte anos de gritaria autocentrada em torno do “penta único”, do poder da “amarelinha”, de craques que valem centenas de milhões de euros. Tudo verdade. E tudo bobagem: o mesmo clube que revela Neymar e Rodrygo vota no Coronel Nunes para presidente da CBF. E este não é um exemplo hipotético.
Como dizia o jornalista americano Henry Louis Menken, para todo problema complexo existe uma solução simples, elegante e completamente errada. Não é simples sair do buraco em que o futebol sul-americano se meteu. A primeira reação da CBF à eliminação em Kazan foi a melhor possível: não houve pratos quebrados nem jogadores crucificados.
As derrotas do Brasil nos últimos quatro mundiais — 2018 incluído — nasceram de decisões equivocadas tomadas imediatamente após quedas em Copas do Mundo. Mas será preciso muito mais do que renovar com Tite se o Brasil quiser tentar retomar o protagonismo que um dia já teve.
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