February 2, 2025

“A sociedade está tensionando do conservadorismo para o radicalismo da extrema direita”

 


 Fernanda Otero 

O pastor progressista Sergio Dusilek,
uma das lideranças da Igreja Batista Marapendi, no Rio de Janeiro,
levanta questões importantes sobre os debates do Congresso do
Legado Cristão. O evento, realizado
no Memorial da América Latina,
em São Paulo, abordou temas
como “o papel da família, a essência
da educação e o significado da
liberdade sob a perspectiva cristã”.
Durante dois dias, centenas
de participantes, entre autoridades,
empreendedores e cidadãos,
discutiram como essas questões
moldam a atuação do cristianismo
na sociedade.


Organizado com o propósito de
“avançar o reino” e com entrada gratuita,
o congresso contou com o apoio
de parceiros como a Câmara Municipal
de São Paulo, Faedusp (Famílias
Educadoras do Estado de São Paulo),
SIMEDUC (Homeschooling Sem
Medo) e o Ministério Ler.


Para Dusilek, o avanço de pautas
como o homeschooling e a introdução
de uma “literatura cristã” nas escolas
são os maiores motivos de preocupação.
“O papel da mãe no homeschooling
e a ideia de impor uma literatura
cristã nas escolas são questões que
precisam ser amplamente debatidas”,
afirma o pastor, que é pós-graduado
em História da Filosofia e possui

Mestrado e Doutorado em Ciência da
Religião. Apesar das preocupações, Dusilek
mantém uma mensagem de esperança.
Para ele, “na narrativa bíblica,
sempre há um remanescente que faz
florescer um novo tempo”.


Confira a entrevista completa do
Pastor Sergio Dusilek à Focus, onde o
entrevistado aborda suas perspectivas
sobre os desafios e possibilidades
do cristianismo.


- Vimos uma comitiva de deputados,
comparecendo à posse de Donald
Trump, gostaria de iniciar essa
conversa pela “representação da Bíblia
na Câmara” e em outros espaços
de poder, porque essa contaminação
da extrema-direita?


- Bom, eu acho que isso é fruto de
um projeto de poder. O que estamos
vendo é a expansão de um ideário e
de uma ideologia que alguns chamam
de nacionalismo cristão, outros resgatam
a ideia de fascismo, outros de
populismo cristão. Seja qual for a nomenclatura
usada, esse formato ideológico
está fazendo uma semeadura
e, ao mesmo tempo, tendo algum tipo
de colheita. Eles surfam numa espécie
de desencanto com a democracia,
que (Gilles) Lipovetsky já havia mencionado,
oferecendo soluções simplistas
para problemas macro, o que
sabemos que não se aplica. Mas essa
tentativa de colocar soluções simplistas
tem um grande apelo e, ao mesmo
tempo, um grau de radicalização,
deslocando os problemas para aquilo
que não é problema. Então, se há uma
questão de empregabilidade nos Estados
Unidos, por exemplo, isso não se
deve aos imigrantes, que normalmente
estão em subempregos. Quando
Trump diz que aqueles que migram
são criminosos, os Estados Unidos
não vão ser a grande cadeia dos presidiários
da América Latina; ao jogar
o foco nisso, desvia uma questão de
um problema estrutural na economia
americana, atribuindo esse problema
a quem não tem culpa. Mas a extrema
direita faz isso porque tem um
certo apelo e, logicamente, quando
você localiza um inimigo, sociologicamente,
regimenta uma turba para
lutar contra esse inimigo. Essa ideia
de fulanizar os inimigos é uma forma
de ganhar apoio e também fomenta
esse tipo de luta. E aí, o que acontece?


No Brasil, temos esse eco americano,
especialmente pela vinculação dos

evangélicos do Brasil com os Estados
Unidos. Boa parte do que aconteceu
e acontece aqui no meio evangélico
é um eco dos Estados Unidos. Por
exemplo, temos algo chamado Vento
de Doutrina, que é uma prática sem
lastro na Bíblia, mas feita em algum
lugar. Não sei se você sabia disso, mas
no início dos anos 90, no Brasil, teve
o vento de doutrina chamado Dente
de Ouro, onde nos cultos, o pastor
orava e dizia para abrir a boca e ver
se aparece um dente de ouro. É nesse
nível de ridículo, porque o Vento
de Doutrina é ridículo. E as pessoas
seguiam isso. Onde começa isso? Nos
Estados Unidos. A teologia da prosperidade,
onde começa? Nos Estados
Unidos e ecoa aqui. Essa caixa de eco
e ressonância do movimento evangélico
brasileiro em relação aos Estados
Unidos faz com que iniciativas de lá
acabem refletindo aqui. A diferença
é que, por conta de outros interesses,
como vimos na Bolívia com a ação
do Elon Musk, essa abrangência ganhou
mais espaço em outros países
da América Latina. Notadamente, são
países onde também está crescendo o
número de evangélicos. Então, novamente,
é a forma ideal para a entrada.


E, além de ser eco, tem um investimento
estadunidense, investimento
financeiro, nessa promoção de uma
pregação fundamentalista. Então,
isso também é um reforço a esse processo
todo. Por isso que a sociedade
está tensionando do conservadorismo
para o radicalismo da extrema
direita, ou do conservadorismo para
o fundamentalismo. Todo fundamentalista
é conservador, mas nem todo
conservador é fundamentalista. Sim.


Então, a sociedade tende a estar sendo
tensionada e tracionada para o radicalismo
por conta desse tipo de investimento
que aumentou muito aqui
no país, no Brasil especificamente,
a partir dos anos 2000. Sempre teve,
mas a partir dos anos 2000 foi uma
coisa mais avassaladora. E hoje está
espraiado. E essa turma aí incorpora
o discurso, mas eles não incorporam
a prática. Sim. Não passariam no teste
como um evangélico clássico, porque
o modo de vida deles desdiz o que
é um evangélico. Por exemplo, o senador
Flávio Bolsonaro, ele é um cara
que frequenta o Sambódromo no carnaval.
Um evangélico clássico, uma
igreja evangélica, uma Assembleia de
Deus, por exemplo, uma igreja mais
tradicional, não aceita isso. Então, ele
está lá com aquele cigarro eletrônico,
dando baforada em pleno carnaval
carioca. As pessoas, os evangélicos,
não aceitam isso. Então, veja, mas ele
incorpora o discurso, ele batiza, mostra
o batismo, publiciza o batismo, assim
como os demais para criar um elo
de identificação, ainda que não seja
um elo de alma, é só um elo estético
ou um elo da foto, um elo instangramável,
vamos dizer assim.


- Sobre o Congresso do Legado
Cristão que aconteceu no Memorial
da América Latina, um encontro de
evangélicos sem taxa de inscrição,
chama a atenção os temas do congresso
“família, educação e liberdade”.
Qual é o paralelo que a gente
poderia fazer do com o “tradição,
família e propriedade”? Como o senhor
vê esse evento, e principalmente
as ideias que eles estão trazendo
com relação ao homeschooling?


- Esse evento é assustador, não é?
Mas ele não é o pior deles, dentro do
que está acontecendo. O nosso problema
hoje, eu tenho falado isso e vou
repetir, não se trata de um cupinzeiro,
é de um cupinzal. Eles se conectam
entre si. Então, você tem, por exemplo,
ali, entre os preletores, gente que
faz parte da Coalizão Conservadora
Evangélica, que é uma organização
que procura articular a propagação
do fundamentalismo evangélico no
Brasil. Você tem ali gente que participa
de eventos e coordena eventos da
chamada Editora Fiel, que só publica
tradução e autores nacionais, poucos,
mas a maior parte é tradução de autores
fundamentalistas, e que realiza
congressos para pastores que vão aos
seus encontros para ouvir doutrinação
fundamentalista. Então, assim,
você tem ali, por exemplo, uma preletora
nesse Legado Cristão que é
esse congresso de São Paulo, que ela
tem uma ligação com um movimento
muito grande entre os jovens chamado
Descende, que reúne, veja, eles
fizeram três encontros, um em São
Paulo, se não me engano, no Morumbi,
no estádio de futebol, lotado. Outro
encontro foi feito, acho que aqui
no Rio de Janeiro, me parece que foi
no Maracanã, e o terceiro no Mané
Garrincha, em Brasília. E quem são
as pessoas que falam desses encontros?


Quem falou, quem tem a palavra
foram esses pregadores fundamentalistas,
os líderes do encontro, Bolsonaro,
Silas Malafaia e mais alguns
outros. Nós temos aí nesse encontro
do Legado, um procurador da república.


Nós tivemos um encontro em
2022, que é uma associação de empresários
evangélicos, de evangelização
de empresários evangélicos. Em
2022, o tema era domínio do sistema.

E entre os pregadores estava o procurador-
geral da república, Augusto
Aras, estava a senadora Damares, ou
a candidata ao senado Damares, a ministra
Damares, no caso, e mais algumas
figuras da república. Então, veja,
eles transitam, eles estão articulado

o existe o legado cristão, é um segmento,
é uma reta sozinha, para uma
linha. Aí você tem a Fiel fazendo uma
outra reta para outra linha, e todas as
vezes apontando para o fundamentalismo.
Eles estão articulados. Então, é
o cumpisal, não o cumpiseiro, que é o
mais grave.


- Quando falamos de educação
oferecida pelos pais, estamos falando
de sobrecarregar as mães, né?


- Pelo menos duas das organizações
que apoiam o congresso são de
homeschooling. E um dos temas que
eles trouxeram de 2018 para cá foi o
homeschooling, o papel da mãe do
homeschooling. Meu Deus, são movimentos
que são preocupantes. A segunda coisa 

que preocupa é a ideia
de literatura cristã nas escolas. Eles
querem colocar uma literatura cristã…
E veja, tem autores cristãos que
são muito bons. Mas não é porque ele
é cristão que tem que ser lido. Ele tem
que ser bom para ser lido. Se tiver um
autor cristão na qualidade de Machado
de Assis, merece ser lido. Mas não
é porque ele é cristão que tem que ser
lido.


- É aquela história, não é por que
é mulher que precisa ocupar um espaço.
Eu preferia não ter a Damares
como senadora, por exemplo.


- É mais ou menos isso, entendeu?
Eles estão forçando esse tipo de coisa
através de pressão nos conselhos
de educação dos municípios. A ideia
é articular os pais crentes para poder
fazer com que as escolas adotem literatura
cristã, reconhecidamente cristã.


Há não muito tempo atrás, mais ou
menos um ano, um ano e meio atrás,
um cartunista chamado Guilherme
Infante, ele faz O Capirotinho, um rapaz
muito talentoso e o cartoon dele é
muito engraçado, muito bem feito. E
o Capirotinho foi chamado para uma
prefeitura de Minas Gerais, no interior
de Minas, para ensinar, dar uma
oficina de HQs, de como fazer os desenhos,
como é que ele faz, como as
crianças podiam desenvolver isso. Os
pais souberam que era o cartoonista
do Capirotinho que tem uma mensagem
cristã, porque O Capirotinho se
revolta. Não é contra as pautas... O
Capirotinho, por vezes, tem a fala de
Jesus espelhada. Mas sim, os pais se
revoltaram porque era o Capirotinho,
porque iria satanizar as crianças. Fizeram
um movimento, pressionaram
a Secretaria da Educação daquela cidade,
no interior de Minas, e o cara
estava em um ônibus indo para a cidade
e veio o recado dizendo que eles
não iam mais contar com ele.
Sim. Então, essa pressão e articulação
já estão acontecendo, inclusive
em relação à literatura cristã. Outra
questão é a ideia de abrir escolas.


Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo,
há uma profusão de Christian Schools
com ensino bilíngue. As escolas surgem
do nada, aparecem com nomes
em inglês e começam a funcionar. A
grande pergunta que se coloca é que a
propaganda afirma: “Nós vamos proporcionar
um ensino cristão e não vamos
deixar que seu filho seja atraído
pela ideologia esquerdista.” Aqui, seu
filho não será cooptado. Esses movimentos
estão agora criando escolas
nesse formato, em parceria com igrejas.


Muitas igrejas evangélicas têm
uma estrutura educacional, com salas
de apoio para a escola dominical,
entre outras atividades. Estão agora
abrindo escolas nas igrejas e cobrando
por isso. Talvez caiba uma ação
governamental, porque a isenção de
IPTU é concedida para fins religiosos,
não comerciais. É importante verificar
se há possibilidade de ação nesse
aspecto. A ideia da teologia do domínio
é usar a democracia enquanto
preparam o campo, para que a próxima
geração se acostume com a ideia

de teocracia. Quando forem maioria,
elegerão um governante teocrático e
mudarão a situação, instaurando uma
ditadura teocrática.


- Como o senhor avalia a disseminação
das fake news nas bases da
igreja, citando como exemplo o caso
do deputado Nícolas Ferreira, que é
um evangélico fervoroso.


- Veja, hoje em dia, muitos pastores
têm grupos da igreja no WhatsApp
ou Telegram, permitindo acesso direto
às pessoas da congregação. Isso
facilita, por exemplo, que um pastor
envie uma fake news aos membros
da igreja, que pode ser rapidamente
disseminada. As mensagens podem
vir com pedidos para repassá-las a
mais pessoas, incluindo familiares e
amigos, espalhando-se sem controle.
Nesse cenário, existe outra organização,
a Global Kingdom Partnership
Network (GKPN), que tem uma atuação
influente no Brasil. Essa organização
promoveu reuniões em 2018 e
2022, nas quais decidiu apoiar Bolsonaro.


A GKPN reúne líderes de megachurches,
cada um com um grande
número de membros, que podem
variar de 3 mil a até 50 mil pessoas.
Esses líderes coordenam ações conjuntas.
Por exemplo, mesmo se apenas
considerássemos os seguidores
dessas figuras, facilmente alcançaremos
entre 25 e 30 milhões de pessoas.
Essas pessoas se reúnem e coordenam
ações de forma organizada.


Um líder de um segmento específico
do movimento evangélico planeja
uma ação e a dissemina para outros
líderes do seu grupo. Esses líderes,
por sua vez, passam a informação
para seus subordinados, até chegar
ao pastor da igreja, que repassa aos
membros. Parece evidente que este
movimento facilita a propagação de
fake news. Também parece claro que
qualquer ação do governo sofre uma
espécie de “batismo” prévio, impedindo
que receba o devido crédito. É
comum que um pastor diga: “Olha,
que coisa interessante. Temos um governante
ligado ao diabo, mas Deus,
que é maior, faz com que ele abençoe
o povo de Deus.” Assim, quem recebe
o crédito? Não é o governante, não é
o Lula, mas sim uma intervenção divina.
Pode chover dinheiro, porque é
batizado. Se chover dinheiro, falam
assim, olha, Deus está fazendo chover
dinheiro. Não tem jeito. Então, eu
acho que o sistema de propagação das
fake news é só mais um elemento que
compõe esse processo, logicamente,
um elemento que faz, que provoca a
septicemia no sistema todo. Olha só,
eu gostaria de destacar alguns pontos
importantes sobre o que está por trás
do Legado Cristão. Eles dizem lá que
tem algumas esferas da soberania de
Deus que agem na sociedade. O Estado,
a família. Mas, pela primeira vez,
eu vejo a figura do mercado. Isso é
gravíssimo. Quem é o mercado? O que
é o mercado? Essa visão de que há um
espírito mercado que se autorregula,
essa visão ingênua, quase que uma
reprodução, a crítica de Adam Smith,
isso não se sustenta. Nem como algo
que tem uma participação a partir da
soberania de Deus. Então, qualquer
coisa que atinja o mercado atinge a
Deus e o desejo de Deus. Então, se um
governo de esquerda, ele automaticamente
implica em uma ação maior do
Estado e um envolvimento maior do
Estado nas políticas públicas, o que
acontece? Esse governo, ele é demonizado
na sua raiz. Porque ele atenta
contra a vontade de Deus que quer
que o mercado se regule. Outra coisa
que é impressionante: os compromissos
que eles têm e que eles leram duas
vezes, nas duas manhãs, cantando o
hino e lendo o compromisso. E aí, lê
o compromisso: Irmão, votar irmão.
Formar lideranças. Ocupar postos-
-chave, destaquei só quatro, mas acho
que são 10 ou 12. E manter alianças
nacionais e internacionais pela liberdade.


De 2018 pra cá, chegou a Capital
Ministres, que é uma organização
fundamentalista. A ação dela é lobby
no Congresso Nacional. Ela reúne os
deputados evangélicos e outros pressionando
para votar nas pautas que
eles acham importantes. Dentre essas
pautas, logicamente, aquelas contra
o aborto, contra o reconhecimento
de diferentes tipos de gênero, no seu
masculino e feminino, e por aí vai.


Chegou a GKPN com força, que nós
já falamos. Aumentou a incidência
dos congressos fundamentais que
são mais da infiel, vamos dizer assim,
clínicas de pregação expositiva. Há
missionários, que estão indo no interior,
no rincão do país, oferecendo
aos pastores “olha, nós estamos aqui
pra atualizar, dar uma oficina, um
workshop de atualização de homilética,
para você pregar melhor”. E,
na verdade, o que eles estão fazendo
é uma doutrinação fundamentalista.


Recentemente um missionário norte-
americano foi dar essa clínica para
pastores do Pará e Amapá. Há cinco
anos atrás, um missionário foi dar
essa clínica, um norte-americano, no
interior da Bahia. Nós temos aí outro
problema, que são os cursos de teologia,
que os cursos de teologia confessionais,
ou seja, que estão debaixo
de uma denominação evangélica, invariavelmente,
com uma exceção de
um, os demais estão todos debaixo de

uma teologia fundamentalista. Isso
quer dizer, que daqui a 10, 12 anos,
não vai ter Sérgio, nem José Barbosa
Júnior, nem Ariovaldo Ramos, não vai
ter Uziel, não vai ter Edivar Gimenez,
não vai ter Antônio Carlos Costa, não
vai ter um pastor de centro-esquerda,
quanto mais esquerda. E sabe o que
acontece? Os cursos estão tendo reconhecimento
pelo MEC. E ampliando
as vagas. E não só isso. O MEC está
autorizando outros cursos nesses
centros confessionais, como o curso
de História. Então, eu quero dizer
para vocês, da seriedade desse tema,
o que é que ele provoca essas muitas
ações, esse cupinzeiro, ou melhor,
esse cupinzal? São vários cupinzeiros,
vários, o que eles estão promovendo
no meio evangélico? Uma blindagem
mental, uma promoção de uma nova
narrativa que criminaliza e demoniza
o pensamento de esquerda. Eles estão
corroendo os fundamentos da democracia
por dentro. Estão promovendo
uma semeadura, porque eles querem
um dia ser maioria, não para o bem
da democracia, não para fazer uma
influência positiva no país, mas para
implantar uma teocracia, uma teocracia
da teologia do domínio, fruto
da teologia do domínio. Nem Tarcísio,
nem Bolsonaro, nem Ricardo
Nunes, nem Caiado, nenhum desses
caras, eles vão ser banidos. Eles estão
achando que vão ocupar, eles vão
ser banidos. Até hoje o domínio nos
Estados Unidos, um dos seus propagadores,
que era genro do idealista, o
propagador foi o Gary North, ele e outros
colegas dele fazem uma crítica ao
Jerry Fowle, que era um pastor batista
fundamentalista, que movimentou os
evangélicos pela criação da maioria
moral nos Estados Unidos, para votar
em Reagan e vencer a eleição contra
o Jimmy Carter. Esses caras, o que
eles estão falando é o seguinte: o Jerry
Fowle não foi suficiente, ele não foi
até onde ele tinha que ir. Eles atacam
o Jerry Fowle, que era a coisa mais
extremista que existia. Então, não vai
sobrar ninguém. Essa é a questão.


- Para a gente não acabar muito
para baixo, será que o medo está tomando
conta do mundo hoje?


- Bom, a única coisa que eu posso
dizer é que normalmente sempre há
um remanescente, pelo menos essa
história, da narrativa bíblica, sempre
há um remanescente que faz florescer
um novo tempo. Eu só acho que
a gente não precisava chegar no remanescente,
não é? Eu acho que nós
temos hoje os instrumentos, ou devíamos
buscar ter os instrumentos, para
evitar que chegássemos ao ponto de
ser o remanescente e começar um
processo lento de reconstrução. Eu
acredito que a coisa tem que começar
agora, nós temos tudo para fazer e
evitar essa ação, esse, vamos dizer assim,
esse prognóstico aterrador. Nós
temos tudo. O governo está com o PT,
nós temos tudo para poder evitar isso,
usar os mecanismos legais para evitar
chegar nesse ponto. A questão toda é
que precisa enfrentar isso de frente,
assim, de peito aberto, e criar, talvez,
usando um pouco o Vladimir Safatle,
a ideia de polarizar. Nós estamos condescendendo
demais. Vamos polarizar,


para que haja uma polarização.
Talvez esse seja um caminho para a
gente. Eu acredito que, em termos de
debate, logicamente que o Henrique
Vieira sozinho, por exemplo, engole
todos esses deputados de direita,
uma Erika Hilton engole todos eles
também, então, eu acredito que na
capacidade de articulação de ideias,
de oratória, e também de sustentação
daquilo que é digno, do que é
verdadeiro, não tem espaço para essa
turma toda que está aí. Agora, falta
encarar isso com um pouco mais de
propriedade, para que não seja necessário
haver um remanescente para
recomeçar tudo de novo. ■

FOCUS

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