Em uma cena nunca vista em público no Salão Oval da Casa Branca, Donald Trump e Volodimir Zelenski bateram boca sobre os rumos da Guerra da Ucrânia, levando o visitante a deixar o encontro sem a prevista entrevista coletiva.
"Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz", escreveu na rede
Truth Social Trump enquanto Zelenski ainda estava na sede do governo,
onde ficou apenas 2h20min nesta sexta (28). Segundo funcionários da Casa
Branca vazaram à imprensa americana, Trump ordenou a saída do colega.
Ao vivo, o americano ameaçou o ucraniano, dizendo que os EUA "estarão fora" se ele não aceitar uma trégua com Vladimir Putin, que invadiu o vizinho há três anos.
O encontro foi um desastre de grandes proporções para Kiev, e jogou
fora o esforço de líderes europeus de aproximar os presidentes, nove
dias depois de Trump ter chamado Zelenski de ditador. O republicano, por
sua vez, corroborou sua posição de alinhamento à visão de Putin sobre o
conflito.
Zelenski chegou com sangue nos olhos ao começo do encontro, que
foi aberto à imprensa. "Você disse que chega de guerra. Eu acho que é
muito importante dizer essas palavras para Putin lá no começo, porque
ele é um assassino e um terrorista", disparou Zelenski em sua
introdução.
"Eu sou a favor da Ucrânia e da Rússia", disse um assustado Trump, que depois foi ao ataque, dizendo que Zelenski estava "jogando com a Terceira Guerra Mundial"
ao buscar opor os EUA e o Ocidente à Rússia. "O que você está dizendo é
desrespeitoso com esse país", afirmou, com dedo em riste.
A temperatura subiu ainda mais com a intervenção do vice de Trump,
J.D. Vance, que cobrou o visitante: "Você já disse obrigado?". "Eu acho
desrespeitoso você vir aqui no Salão Oval e dizer essas coisas em
frente à mídia americana", completou. A embaixadora ucraniana nos EUA,
Oksana Markarova, afundou a cabeça entre as mãos na plateia.
"O seu país está em apuros. Você não está ganhando", disse. "Nós
demos US$ 350 bilhões a vocês, se vocês não tivessem nosso material
militar, teriam perdido em duas semanas. Vocês têm de mostrar gratidão",
disse o presidente americano, cobrando um cessar-fogo e exagerando em três vezes o apoio dado pelos EUA a Kiev.
Trump disse que "eu empoderei você para ser um valentão, mas você não
acha que pode ser um valentão sem os EUA". "Seu povo é muito corajoso,
mas você ou fará um acordo ou nós estamos fora. E se nós estivermos
fora, você vai perder", disse.
"Você não está em posição de ditar como nós vamos nos sentir",
afirmou o americano, retrucando uma admoestação de Zelenski sobre o
resultado do desengajamento americano. "Você não tem cartas agora, você
está jogando com a vida de milhões, com a Terceira Guerra Mundial",
disse.
Ao fechar a reunião a jornalistas, inclusive um repórter da agência
russa Tass que foi expulso por não ter credenciamento para estar lá,
Trump ainda tripudiou: "Isso vai dar boa televisão, hein?".
Mais tarde, Zelenski foi ao X "agradecer Trump, o Congresso e o povo
americano". "A Ucrânia necessita de uma paz justa e duradoura, e nós
estamos trabalhando exatamente nisso", escreveu.
Antes do bate-boca, o clima estava tenso, mas com momentos de
descontração. "Olhem, ele está todo arrumado!", disse Trump ao receber
às 11h23 (13h23 em Brasília) o homólogo em sua quinta visita à sede do
governo americano.
Zelenski usava a roupa de inspiração militar,
que visa emprestar-lhe uma aura de líder em guerra, que adotou desde o
início do conflito —se o americano estava sendo irônico, é incerto.
Depois, o repórter do canal de direita Real America's Voice Brian Glenn
ainda estocou o ucraniano, questionando "quando ele ia usar um terno",
para receber de volta um "quando a guerra acabar, talvez um melhor que o
seu".
Na fala inicial, Zelenski buscou explicitar seus pontos. "Putin começou essa guerra.
Ele tem de pagar", afirmou, retrucando a afirmação de Trump anterior de
que Kiev iniciou o conflito ao buscar ingressar na aliança militar
ocidental, a Otan, uma linha vermelha geopolítica para o Kremlin.
"Queremos saber o que os EUA estão dispostos a fazer", disse. Trump
foi evasivo, dizendo que "não é alinhado a Putin, e sim aos interesses
dos Estados Unidos e do bem do mundo". Ele não se encontrava pessoalmente com Zelenski desde dezembro, quando ainda era apenas presidente eleito.
Ao mesmo tempo, o americano sinalizou manter a proximidade que deseja
com o russo, dizendo que "Putin quer o acordo" de paz. Depois, o clima
desandou de vez.
Como pano de fundo do encontro está o acordo para a exploração de minerais estratégicos
da Ucrânia, que Trump usou como um artifício para pressionar Kiev a
conversar em seus termos. De uma tomada de meio trilhão de dólares das
riquezas ucranianas, o texto virou algo vago sobre parcerias e a
montagem de fundo para a reconstrução local.
Agora, subiu no telhado de forma indefinida, embora integrantes da
equipe de Trump tenham dito que ele ainda poderá ser assinado.
Como já havia ficado claro, o texto que não foi assinado não trazia
garantias de segurança americanas para bancar a paz. Trump, contudo,
sinalizou na abertura do encontro que "vamos continuar enviando armas
para a Ucrânia". Só que, afirmou, "espero não precisar de muito".
A reunião foi marcada após o tumulto geopolítico causado por Trump quando ligou para Putin e iniciou negociações bilaterais sobre a Guerra da Ucrânia e a normalização da relação entre Rússia e EUA, invertendo o sinal da política americana para a crise.
Nessas duas semanas, russos e americanos se encontraram duas vezes ao vivo, Trump chamou Zelenski de ditador sem eleições
e o considerou dispensável por atrapalhar acordos, além de pressionar
pelo acordo de exploração mineral sem embutir garantias de segurança
pós-trégua a Kiev.
Mordeu, mas assoprou também, ao receber o francês Emmanuel Macron e o britânico Keir Starmer,
moderando um pouco sua retórica —mas mantendo os pontos essenciais, e
ainda buscando vantagens do acesso a minerais estratégicos para a
indústria de alta tecnologia, como terras raras.
Zelenski ficou encurralado, e recebeu dos parceiros europeus
promessas de uma elevação substancial da ajuda e a oferta de uma força
de paz em caso de cessar-fogo. É o desejo de Trump em curso: o americano
quer se desengajar da Europa.
O problema é que Putin não aceita a presença de forças de países da
Otan na Ucrânia, aliás seu "casus belli" central em 2022. Nesse quesito,
Trump concorda que Kiev não deve ser admitida no clube. Em relação à
ajuda, a coisa complica no detalhamento dos números.
Usando o rastreador mais acurado da praça, do Instituto para a Economia Mundial de Kiel (Alemanha), a União Europeia
e países do continente deram € 132 bilhões a Kiev, mas o grosso disso é
dinheiro. Já os EUA enviaram € 114 bilhões, 56% do volume em ajuda
militar.
Os europeus simplesmente não têm indústria bélica capaz de suprir
toda a necessidade da Ucrânia no caso de a guerra continuar, mas podem
fazê-lo num cenário de trégua. Poderiam, claro, comprar produtos
americanos, mas essas triangulações são legalmente complexas.
Seven Severance Questions is
a weekly attempt to digest the events of one of television’s twistiest
shows by highlighting the weirdest, most confusing, and most important
unresolved issues after each episode. There will be theories. Many will
be unhinged.
Welcome to Romance Week on Severance.
Love is in the air. Maybe it’s not love, actually. What do you call it
when a group of people who’ve had experimental brain procedures start
dealing with the ramifications of that by having intercourse at work and
dining awkwardly with their secret-work-boyfriend’s partner and sharing
hugs with the wife they only just recently met? Because that’s in the
air, whatever it is.
Also
in the air: mysteries, as always. We have new ones about Burt’s past
and Helena’s intentions and Miss Huang’s skill set as a practitioner of
emergency medicine. We also don’t know what Cobel has been up to or why
Milchick appears to be having a full-on breakdown over his performance
review. There are only a few episodes left in the season to start
providing answers to all of these, or at least some of them.
But while we wait for those answers, as always, we have some questions that need to be asked …
Hey, man, what’s Burt’s deal?
Here’s
what we knew about Burt before this episode: He was the head of optics
and design at Lumon until he either retired of his own volition or was
fired for smooching Innie Irv. He’s been following Outie Irv and
snooping on him at pay phones. He might invite you over for a dinner of
ham and wine.
Here’s
what we know about Burt after this episode: Burt is Lutheran and has
secrets. Burt also has a partner named Fields who gets chatty after a
few glasses of wine and is my new favorite character. Fields raises some
very awkward but fair questions at dinner, like whether Burt and Irving
ever had sex at work and whether Innies go to heaven even if their
Outies were, to use Burt’s word, “scoundrels.” He says something about
Burt working with someone at Lumon 20 years ago, despite the severance
procedure only existing for 12 years, which makes Burt get squirrelly in
a way that implies there was something else going on there. He put some
cumin on the ham. Fields is a good man. Probably. Maybe. We could find
out next week that he’s the head of a paramilitary organization that
murders dogs for fun. You never know with this show.
The
dinner is just about as awkward as I expected going into the episode,
as these things will be when your partner had a tryst he doesn’t
remember with a man who showed up at your door shouting his name. Where
it gets really interesting is at the very end, when Irv is leaving and
Burt gives him that long and terrifying stare before slowly closing the
front door. That’s a villain move! One of the best villain moves,
honestly, right up there with having a shark in an aquarium and
delivering a long monologue to another character about how the two of
you are not so different.
So
this all changes a lot of things. It means we now have a timetable
mystery on our hands regarding what Fields said about Burt being there
for 20 years. It means we need to think long and hard about whether Burt
retired or was fired or neither, and maybe that pay-phone snooping he
was doing was less “curiosity about the strange man yelling at his door”
than it was “snooping on Irv on behalf of a giant evil corporation as
he made mysterious calls from an isolated pay phone.” Most important, it
means we might be on the verge of getting a full-on villain turn from
Christopher Walken. That part is pretty thrilling. I don’t think any of
you can imagine how much I want to see him give that “not so different”
speech. Maybe in front of that aquarium with the shark in it. Maybe to
Ricken.
Is any macro-data getting refined at Lumon these days?
It
sure does not look like it! Mark and Helly are off sneaking around and
having sex in empty offices under makeshift tents to sort of re-create
the tent fling Mark and Helena had at the ORTBO. Dylan is having
top-secret tender moments with his Outie’s wife and storming off
whenever anyone asks what he’s up to. Irv is gone. Milchick is kind of
compulsively practicing his paper clipping and repeating phrases at
himself in a mirror in a way that implies there are layers to this onion
that get pretty funky the deeper you peel. Miss Huang is providing
first aid, apparently.
There was a shot in this episode of the desk in the MDR office just sitting there empty. I imagine it made Natalie furious.
Which Innie-Outie love triangle will explode first?
Ranking from least to most ready to explode:
3. Burt-Irv-Fields: Technically,
I suppose this is an all-Outie thing now that Burt and Irv aren’t
stealing smooches at work. And it’s less of a smoldering affair now that
Burt might be evil. It’s still worth keeping an eye on, though. Fields
has access to wine and kitchen knives. He’s the wild card here.
2. Dylan-Gretchen-Dylan:
So, Gretchen is definitely falling in love with her real-life husband’s
severed Innie, yes? Kind of a “this is everything my husband could be,
the man I love without all the loser baggage, a man who is an adorable
blank slate who never takes scuba lessons or tries to brew beer in the
garage or has to be talked out of impulse-buying a new car we can’t
afford” situation? Because that is fascinating. The show has focused so
much on the Innies’ curiosity about the Outies that I’ve never really
pondered the question of whether the Innies were, like, better people.
Gretchen is pondering that now, though. A lot. Quite possibly every
waking moment of every day. She probably has at least one “how to make
severance permanent” in her search history.
1. Mark-Helly-Mark-Helena:
I suppose this is less of a love triangle than a love square, now that
Helena is also making eyes at Mark’s Outie over restaurant tables.
Either way, if Mark’s reintegration continues to progress and he puts a
few of these pieces together, things are going to get wild real quick.
Love
Squares would be a great name for a 1970s-style game show hosted by a
man with a very skinny microphone. Another thing to ponder.
What do we think is Helena Eagan’s endgame?
I guess it depends on whether you think whatever she’s doing is evil or sad.
If
you’re leaning toward evil, then maybe this is part of a plan to
manipulate Mark’s Outie and surveil him, kind of like Cobel was doing
when she was Mrs. Selvig. There is a history here with Lumon
intertwining itself with his outside life. This could be another part of
that.
If
you’re leaning toward sad, then maybe this is just a lonely rich lady
who is making reckless decisions because she saw her Innie kiss Mark’s
Innie and can’t let it go, to the degree she seduced his Innie in that
tent and, when that plan ended up almost getting her drowned in a creek,
pivoted to tracking down his Outie to look for the spark there.
It could also be evil and sad. That’s on the table too. Helena Eagan is a messed-up lady.
How bored is Reghabi in that basement?
She’s
got to be so bored. What is she even doing with herself all day? Mark
is in the office. She can’t be running around the house flipping on
lights and watching television. She sure as hell can’t leave. I bet
she’s going crazy down there in that lab. Part of me wonders if that’s
why she’s pushing for a more aggressive schedule with their experiments.
“Screw it, let’s flood the chip” does feel like an idea that stems from
boredom, like two college juniors seeing if they can make a zip line
across their apartment so they don’t have to get up to pass the bong to
each other.
She
has plenty to do now, though. A patient collapsing on the floor in
front of his sister after your secret science experiment was interrupted
will fill up your schedule pretty quickly.
What the hell has Cobel been up to?
It
has now been three episodes since we’ve seen her. I … miss her? That
feels like a weird thing to say. She’s terrifying and devious, and
everything she did in the first season was creepy on a very deep level,
especially once she involved a baby. But still. Let me see what she’s
doing. Just a quick check-in. I hope she’s ice fishing. That seems like
something she would do.
When did Miss Huang learn how to take blood pressure?
Is it weird that this is the thing that’s stuck in my head after the episode, how Miss Huang
— a child, whose entire deal has yet to be explained and a lot of us
are starting to just accept as normal because we’re so wrapped up in all
the other things that are happening on the show right now — is also the
nurse of the severed floor? It might be weird. I accept that. But I do
need to know.
Seven Severance Questions is
a weekly attempt to digest the events of one of television’s twistiest
shows by highlighting the weirdest, most confusing, and most important
unresolved issues after each episode. There will be theories. Many will
be unhinged.
Hello, and welcome back to the severed floor. I hope everyone had a lovely ORTBO. What’s that? The ORTBO went poorly?
The company’s heiress seduced an employee while pretending to be her
own Innie, then almost got murdered by a wild-eyed co-worker who sniffed out her ruse
and revealed it to everyone? Everyone laughed at Kier’s tale of
children pleasuring themselves? The marshmallows were wasted? Well, that
certainly sounds like something that might have ramifications back at
the office.
And
yup, as we saw in this week’s episode, it sure did. Irv is indeed gone.
Everyone is getting lippy with Milchick. Distrust is at an all-time
high. Things are weird and awkward for a show where “weird and awkward”
is pretty much the default setting. It doesn’t look like it’s going to
get less weird and awkward going forward, either. Buckle in, gang.
Milchick is tightening the leash. Mark is having visions. Irv and Burt
are going to eat a ham. It’s all very exciting. It also raises some
questions. A lot of them. But let’s focus on these seven for now.
Is Mark’s body falling apart now, too?
There
are not many things more ominous than a character in a movie or
television show developing a shallow little cough. That rarely works out
well. In fact, the only time I can remember it working out was when
Tiny Tim survived in The Muppet Christmas Carol, and that
required three spirits visiting an evil old rich guy in the middle of
the night to teach him a lesson about humanity. I don’t know if we can
reasonably expect some ghosts to come knocking for Helena Eagan’s dad
before this season ends. I suppose we can’t rule it out given everything
that has ever happened on this show. And maybe it’s just, like, a
little tickle related to the weather there. Maybe he just needs a
lozenge and some hot tea in addition to the regimen of pills and gross
sludge that his live-in scientist has prescribed. But I wouldn’t bet on
any of that. Let’s be cautious and add Mark’s physical health to his
growing list of problems.
And
buddy, that list sure is growing. Start at the top, with him returning
to the severed floor after the ORTBO and running into Helly R., the
Innie version of the Lumon tycoon who seduced him in a tent under
extremely false pretenses. What exactly does one even do in this
situation? Is it fair to be mad at the Innie who still has no clue what
happened? Does he confront her about it? What good does that do? Does
Helly deserve to know what Helena is out there doing with their body and
is he the best messenger considering he was unwittingly the one doing
it with her? You could pull back the layers of this ethical conundrum
for days. And we haven’t even gotten to how betrayed he feels knowing
that their whole plan to snoop around and investigate the Ms. Casey
business was reported straight up the ladder by the same person. I don’t
think “kind of pout and be cold to everyone in the office” is the worst
response to it all, especially considering “burn down the building” is
something that’s on the table, too.
Oh,
and there’s also the thing where his menacing mustachioed boss is now
confronting him in the elevator. And the thing where the reintegration
seems to be sticking and he’s having visions of his maybe-dead ex-wife
talking to him in spooky hallways. Even if that cough is just a little
seasonal mucus drip, he sure doesn’t need that on top of all of this
stuff.
Get this man some combination of Mucinex and benevolent ghosts as soon as possible. His body and mind are falling apart.
Is this weirder for Helly R. or Helena Eagan?
Okay,
I know the answer is Helly R. That’s the answer even before she knows
that her diabolical corporate alter ego slept with her colleague while
pretending to be her, which, as we’ve discussed, is a level of weird
almost impossible to unpack. All she knows right now is that she snapped
to life soaking wet in a snowy forest with one of her co-workers kind
of trying to drown her Outie and now the same Outie sent her back to
work. That’s a lot. Probably too much.
But
consider Helena Eagan for a second. She’s not deserving of much
sympathy here, at least not from what we’ve seen, but it does have to be
wild for her, too. She’s a lonely billionaire who can’t please her
father and whose family business is sending her back into a situation
where she has no real agency and at least two of the four people she
works with — Irv and her own Innie — have tried to murder her. She
tricked the third one into having sex with her and will have to look him
in the eye with no clue what happened.
Do
I feel bad for her about any of this? Nope, not really. Not yet, at
least. Everything we know about her indicates she could quit this job
tomorrow and go sit in a jacuzzi with an umbrella drink for the rest of
her life. But it is undeniably weird, top to bottom.
If you were forced to sit through a four-to-six-hour performance review, what would you order for lunch?
There are two ways you can go here:
—
You can be logical about it. You can order something comforting,
something sustaining, something that will make you feel good and full
and not gassy or bloated as you sit through a long and unpleasant
meeting where your superiors give you a frank and unflattering review of
a situation that turned out poorly, to whatever degree “almost getting
the boss’s daughter drowned in a creek” is considered a poor outcome.
—
You can be petty. You can order whatever looks most expensive or
whatever will enable you to take the most bathroom breaks or give you
the most foul-smelling emissions or really just whatever will give the
people putting you through a freaking four-to-six-hour performance review the most pain possible.
Is
lobster chili a thing? Two bowls for Milchick, please. Maybe then
Natalie will understand how he felt about those damn paintings.
Speaking of awkward meals, how weird is Irv and Burt’s ham-and-wine dinner going to be?
Oh,
that’s gonna be weird. Just super, super weird. I hope it’s the entire
next episode. Irv and Burt and Burt’s partner, Fields, just sitting
around a table trying to figure out where to start a conversation when
all they know for certain is that two of them were recently fired from
the same company where they might have fallen in love in such a deeply
passionate way that it resulted in a door-banging, name-shouting scene
that neither of them now understands, and the third is eating ham and
drinking wine and trying to figure out if he should be jealous. That
sounds like fascinating television to me.
Arguments
can be made that this wasn’t the most important takeaway from the scene
where this played out. Things like “Who was Irv talking to on the
phone?” and “Oh, Burt didn’t retire after all” probably have bigger
long-term ramifications. I do not care. Give me Christopher Walken and
John Turturro at a dinner party. I deserve this. We all do.
How close is Dylan to snapping like a stale pretzel rod?
I
worry about Dylan. A lot. He somehow knows both more and less than
anyone else on the team right now. Mark and Helly have a thing, or
things plural, and their own levels of comfort and discomfort that go
along with all of that, some of which they’re not aware of but
absolutely none of which Dylan is. Irv is gone and he’s pretty messed up
about it. He wants to rage in about four different directions, but he’s
afraid to both because he doesn’t want to lose that family time with
his Outie’s wife and because he now knows he kind of needs this job
because that same family time made him aware that he’s a flailing
screw-up on the outside and his wife has some exhaustion in her eyes
about it.
Also,
he can’t keep his glasses up on his nose properly. This last one might
not be as important as the other ones, but at the very least it is
driving me insane, if not him.
If you were offered a watermelon sculpture of your beloved
co-worker’s head at his fake funeral, what part of him would you eat
first?
I’m
gonna say the cheek. Maybe the chin or forehead. Something fleshy and
plain-looking. I don’t think I’d want to be the first person in line,
either. Let someone else jump on that grenade. Let them figure out where
to make the first cut. I’ll stay in the back until we’ve started
sorting it all out. Being a leader is overrated anyway.
There’s
really no correct answer here, for the record, only varying degrees of
bad ones. Like, what if the first person in line goes straight for the
eyes? Or, potentially more unsettling, the lips? What if someone walks
up and bites off the whole nose? How could you look at the person ever
again without thinking about that? Nope. No, thank you. Watermelon is
delicious, but this time it’s just not worth it.
Is there a creepier song in the whole entire world for a scary
doctor to whistle as he ambles down an empty hallway with a tray of
surgical tools toward a mysterious room where experiments are done that
may or may not involve necromancy than “The Wreck of the Edmund
Fitzgerald”?
[RESUMO] Texto comenta trajetória pessoal e
artística de Cacá Diegues, o cineasta mais popular do cinema novo. Em
seus melhores filmes, ele lançou um olhar carinhoso e otimista a
personagens tragados pelos impasses do Brasil.
Carlos Diegues, que morreu nesta sexta (14), aos 84,
se distinguiu não apenas por ser um dos principais cineastas
brasileiros. Em uma atividade artística em que tantos no país tiveram
suas carreiras abreviadas por mortes precoces ou entraves de exibição e
produção, Cacá, como era conhecido, foi uma notável exceção: filmou com
relativa regularidade ao longo de seis décadas, conciliando como poucos o
sucesso de bilheteria e a aprovação da crítica.
Dos integrantes do cinema novo,
Cacá foi o diretor de obra mais popular, o que mais cultivou um modelo
de espetáculo tradicional de cinema para difundir o ideário estético e
político de seu grupo. E, depois de Glauber Rocha, foi o cineasta, ao
menos em termos de repercussão na mídia, que mais propagou e simbolizou o
movimento que colocou o cinema brasileiro no mundo.
Em suas memórias, "Vida de Cinema" (2014),
Cacá diz logo no prefácio que, de tudo que viveu, "nada se compara ao
cinema novo, uma enorme excitação, o imenso prazer de compartilhar a
vida e o cinema com aquelas pessoas e nossas ideias".
Em entrevistas, ele costumava brincar que o projeto de sua geração
era muito simples, composto de apenas três pontos: mudar a história do
cinema, mudar a realidade brasileira, mudar o mundo.
A utopia romântica, que naqueles anos 1960 talvez tenha sido vivida
de forma coletiva pela última vez, energizou os principais filmes de
Cacá e de seus colegas cinemanovistas, mas foi também um fardo que fez
muitas dessas obras naufragarem.
Cacá parecia estar ciente desse risco, assim como dos dogmas
castradores decorrentes de quase todo movimento de vanguarda —e os
enfrentou em debates públicos que marcaram a cena cultural brasileira.
O diretor nasceu em Maceió (AL), em 19 de maio de 1940, mas se mudou
para o Rio ainda criança. A cultura nordestina, de toda forma, povoou o
seu imaginário por toda a vida, como de resto foi uma força
preponderante para seus colegas de geração e ofício. Na capital alagoana
Cacá foi ao cinema pela primeira vez, por volta dos 6 anos.
O diretor era filho de Manuel Diégues Junior, cientista político de
renome que ocupou inúmeros cargos públicos na área cultural, atuando inclusive na consolidação da Embrafilme, a estatal de fomento ao cinema criada em 1969 pela ditadura militar.
Formado nesse ambiente cultural efervescente, Cacá se tornou cedo um
leitor entusiasmado, sobretudo de poesia, prazer estimulado pelo
Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, onde descobriu a literatura de
vanguarda, de Ezra Pound a Dylan Thomas, tal como os brasileiros Augusto e Haroldo de Campos e João Cabral de Melo Neto.
Era natural que, como tantos outros garotos com ambições artísticas,
Cacá logo passasse a escrever também seus próprios versos, afinal a
prática, em termos materiais, não demandava mais que caneta e papel. A
carreira de poeta não sobreviveu à idade adulta, mas teve seu momento de
glória quando o poeta e jornalista Mário Faustino publicou no Suplemento Dominical 12 de seus poemas em uma seção dedicada a novos talentos.
O cinema já era então outra de suas paixões, mas para um adolescente
brasileiro nos anos 1950 parecia bastante improvável se imaginar mais
que um consumidor de filmes. Em 1956, contudo, Cacá viu dois espetáculos
que mudaram suas ideias e o curso de sua vida.
Primeiro, "Rio, 40 Graus", o filme de Nelson Pereira dos Santos que inaugurou o cinema moderno no Brasil, crônica da vida de cinco garotos da favela. Depois, a estreia de "Orfeu da Conceição",
peça de Vinicius de Moraes e música de Tom Jobim, que transpunha o mito
grego de Orfeu e Eurídice para o morro carioca, levando atores negros
para cantar e tocar samba no Teatro Municipal do Rio.
Ambos, a bem dizer, foram um terremoto no panorama cultural
brasileiro. Nossa realidade, nossa cultura negra e popular explodiam na
tela e no palco, em diálogo enriquecedor com o mundo (o neorrealismo
italiano, a tragédia grega), sem subserviência. Da periferia, o Brasil
impunha seu valor artístico.
Para o jovem Cacá, foi ainda o momento de outra dupla descoberta:
Nelson mostrava que era possível fazer cinema relevante no Brasil mesmo
sem grandes orçamentos, a partir do olhar sensível para a nossa
realidade; e de Vinicius vinha a lição de que essa realidade pode ser
apreendida via fantasia, que a fabulação podia tornar o real mais
verdadeiro. Era a semente do realismo lírico que formaria o estilo do
futuro cineasta.
Por esta época, o jovem Cacá começava a formar seu núcleo de amigos,
tão apaixonados por filmes quanto ele. Na rua da Matriz, onde sua
família morava em Botafogo, conheceu o primeiro deles, David Neves, que o
apresentou à revista francesa Cahiers du Cinéma, bíblia do cinema então em seu auge, e o levou à Cinemateca do Museu de Arte Moderna, que ambos frequentavam religiosamente.
Ali, e no circuito de bares do entorno em que se davam debates
acalorados sobre clássicos do cinema, conheceu o grupo de cinéfilos com
quem criaria em alguns anos o cinema novo: Ruy Guerra, Paulo César
Saraceni, Marcos Faria, Mário Carneiro, Leon Hirszman, Walter Lima Jr. e
Glauber Rocha. Em suas memórias, Cacá diria que Glauber foi a pessoa
mais interessante que conheceu no mundo do cinema.
Na ausência de escolas de cinema no país, Cacá iniciou em 1958 o
curso de direito na PUC-Rio, o que lhe pareceu mais próximo de uma
cultura humanista, mas sabia que jamais exerceria a profissão.
Já fisgado pelo cinema, fundou uma cinemateca na universidade e deu
seus primeiros passos na prática de cinema, com curtas em 16 mm. O mais
ambicioso deles foi "Domingo", sobre dois meninos da favela, feito com
parceria com David Neves e Affonso Beato, futuro fotógrafo de cinema.
Seus colegas de cineclubes também se aventuravam em pequenos filmes, o
que fortalecia o vínculo entre eles.
Por essa época, Cacá dirigiu O Metropolitano, jornal da União
Metropolitana de Estudantes, e participou do Centro Popular de Cultura
(CPC), organização da UNE que, embora de breve existência em razão do
golpe militar, teve forte impacto na cena cultural brasileira do começo
dos anos 1960 com seu projeto de arte popular revolucionária.
O CPC produziu a primeira experiência profissional de Cacá como cineasta, o longa coletivo "Cinco Vezes Favela" (1962),
composto de episódios também dirigidos por Marcos Farias, Miguel
Borges, Leon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade —o deste último, "Couro
de Gato", é um dos melhores curtas brasileiros.
A história de Cacá, "Escola de Samba Alegria de Viver", trazia em
estado bruto a ideia, herdeira de Nelson e Vinicius, que ele lapidaria
ao longo dos anos, o embate entre fantasia e realidade, aqui simbolizado
pela relação de um carnavalesco e uma sindicalista.
De modo geral, a escassez de recursos, a precariedade dos
equipamentos e o amadorismo de parte da equipe prejudicaram o filme como
um todo, mas o empenho dos jovens diretores em falar do Brasil, em
buscar um estilo em condições tão adversas fez de "Cinco Vezes Favela" o
pontapé do cinema novo.
O cinema passava então por um período de transformações no mundo, e
isso reverberou forte no Brasil naquele 1962. Estreavam em longas
Glauber Rocha, com "Barravento", Ruy Guerra, com "Os Cafajestes", e
Paulo Cesar Saraceni, com "Porto das Caixas". Roberto Farias lançava seu
clássico", "Assalto ao Trem Pagador".
Nelson Pereira dos Santos adaptava Nelson Rodrigues em "Boca de Ouro". Anselmo Duarte vencia o Festival de Cannes, o mais importante do mundo, com "O Pagador de Promessas". Contra todas as adversidades, o moderno cinema brasileiro se consolidava e se impunha ao mundo.
"Fomos buscar nossos rumos cinematográficos nos realizadores
estrangeiros que amávamos, dando forma e conteúdo novo às nossas
preferências através da absorção do que chamávamos de nossa realidade e
da inspiração na cultura brasileira que, para nós, era praticamente
inaugurada com o modernismo. Para o cinema novo, antes e depois dos
nossos primeiros filmes, Oswald de Andrade era tão importante quanto Jean-Luc Godard,
nosso ideal era o da criação de um universo inédito onde os dois
pudessem se encontrar. Esse encontro se deu em muitos de nossos filmes,
com menor ou maior grandeza", escreveu Cacá em suas memórias.
O cineasta sairia em busca desse ideal ao lançar seu primeiro filme,
"Ganga Zumba" (1964), no qual Antônio Pitanga vive o personagem título,
líder do Quilombo dos Palmares no século 16.
No papel o filme seria um épico sobre a escravidão, mas, no inóspito
cenário brasileiro, Cacá, então com 23 anos, valeu-se da vitalidade da
juventude e do empenho da equipe, que trabalhava em sistema de
cooperativa, para concluir a obra quase sem dinheiro algum, recorrendo
também a vaquinhas com amigos e parentes. A maior parte da história se
passa no meio do mato, para evitar reconstituir cenários de época.
"Gamba Zumba" não
foi um estrondo como outros filmes do período, mas acabou exibido em
uma mostra paralela do Festival de Cannes de 1964, edição em que "Vidas
Secas" e "Deus e o Diabo na Terra do Sol" integraram a competição
oficial. Era o nascimento do cinema novo para o mundo.
No trabalho seguinte, Cacá passou do meio rural para o urbano. "A
Grande Cidade" (1966) refletia de certa forma a experiência de sua
família, alagoanos vivendo no Rio, e, de forma mais geral, o acelerado
processo de industrialização do país naquele período e os impasses
resultantes disso.
Feito basicamente com câmara na mão, em locações reais e muito
improviso do grande elenco (Anecy Rocha, Antonio Pitanga, Joel
Barcellos, Leonardo Villar), o filme mostra evidente evolução em relação
ao interior.
O fim dos anos 1960 foi o início do período mais tenebroso da
ditadura militar, o que de certa forma brecou a utopia de transformação
social daquela geração. A safra do cinema novo —"O Desafio" (1965), de
Saraceni, "Terra em Transe" (1967), de Glauber, "O Bravo Guerreiro"
(1969), de Gustavo Dahl, entre outros— refletiu a impotência e o
pessimismo daqueles anos, ao que o cinema marginal, espécie de ruptura
mergulhada na contracultura, somou seu "niilismo avacalhado": "O Bandido
da Luz Vermelha" (1968), de Rogério Sganzerla, "Matou a Família e Foi
ao Cinema" (1969), de Julio Bressane.
Nesse turbilhão, Cacá lançou "Os Herdeiros" (1969), um painel de três
décadas da história brasileira, filme bastante prejudicado por uma
série contingências do período. A ambição excessiva travava a fruição, e
a desesperança característica daquela fase não se casava bem ao estilo
mais caloroso e otimista de Cacá. Para completar, o filme foi proibido e
depois retalhado pela censura.
No plano pessoal, eram também tempos duros. Com a prisão de amigos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil,
e sentindo que o cerco da repressão se fechava, Cacá decidiu-se por um
exílio voluntário. Aproveitando a ida de "Os Herdeiros" ao Festival de
Veneza, partiu para a Europa em 1969 com a cantora Nara Leão, com quem
se casara dois anos antes. A primeira filha do casal, Isabel, nasceu em
Paris, em 1970.
Naquele mesmo ano, a Cahiers du Cinéma publicou uma longa entrevista
com Cacá, que ocupou 12 páginas da revista, que trazia ainda uma foto de
"Os Herdeiros" na contracapa. Tamanho espaço na bíblia do cinema de
autor confirmava o prestígio internacional do diretor em particular e do
cinema novo em geral.
O desejo de voltar, mesmo em condições adversas, ganhou impulso após
conversa com um de seus maiores ídolos no cinema. "Volte logo que puder,
a ditadura militar é uma tragédia, mas um dia acaba e o povo brasileiro
vai precisar de um cinema vivo, no qual possa se reconhecer",
aconselhou o cineasta francês Jean Renoir.
Era o início de um processo de maturação que levou ao melhor de sua
obra. De volta ao Brasil, Cacá trocou a impotência e o desespero
característicos do período pela resistência alegre. Em "Quando o
Carnaval Chegar" (1972), um grupo mambembe de cantores não se rendia a
um empresário autoritário, metáfora musical, via chanchada, da situação
do país.
Cacá lamentou depois o roteiro pouco consistente e a produção um
tanto improvisada, mas o filme vale sobretudo como registro visual de
três dos maiores nomes da música brasileira, Chico Buarque, Nara Leão e
Maria Bethânia, que compunham a trupe da história.
O filme seguinte, "Joana Francesa" (1973), hoje é mais lembrado por sua protagonista, a francesa Jeanne Moreau,
uma das maiores atrizes do cinema, que o diretor conhecera em seu
período parisiense. Moreau vivia uma dona de bordel na São Paulo dos
anos 1930 que se muda com seu amante para um canavial no interior de
Alagoas, onde se debate com as estruturas patriarcais.
A atriz encarou com resignação e sem estrelismos o calor alagoano e ainda cantou com brilho a canção-tema do filme, composta por Chico Buarque.
Talvez por seu tom melancólico, o filme não foi o sucesso que se
imaginava, mas representou um divisor de águas para Cacá, uma afirmação
da autonomia da direção e do enredo.
A visão política sobre nossos problemas e a utopia de um novo país
permaneciam, porém a partir dali, em seus trabalhos mais inspirados,
estariam mais integradas a uma proposta de espetáculo cinematográfico.
"Foi um momento radical em direção a um cinema de montagem mais
temporal, dramatúrgico, íntimo, elaborado em cima de sua própria
encenação e não de ideias que a precedem", relembraria ele depois.
Os filmes seguintes foram a cristalização dessa nova fase. "Xica da
Silva" (1976), cuja inspiração remonta a um desfile de Carnaval que
encantou o cineasta uma década antes, fazia da história da escrava
alforriada, altiva, sensual e de riso aberto, uma alegoria do processo
de abertura política.
"Xica da Silva mudava o paradigma do cinema brasileiro. Depois desse
filme, a impotência não podia mais justificar a falta de esperança, o
prazer e a alegria não precisavam mais ficar sufocados por trás das
dores de um mundo que nunca será perfeito", escreveu o diretor em suas
memórias.
Zezé Motta ficou célebre no papel-título, e o filme foi o maior sucesso popular de Cacá, com quase 3,2 milhões de espectadores.
Foi também a mais controversa recepção crítica de sua carreira, que
se estendeu mesmo anos após o lançamento. Intelectuais criticaram a
forma pouco ortodoxa com que o filme tratava a história do Brasil; o
humor e a sensualidade da história era encarada por muitos como uma
banalização da escravidão.
Cacá, por sua vez, apontava o autoritarismo desses detratores, pois
conceberiam a arte a serviço de uma ideologia ou de um programa
político. Chamou essas cobranças de "patrulhas ideológicas",
expressão que se tornou conhecida, e utilizada até hoje, após uma
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo de bastante repercussão em
1978.
"Um negócio que também acho muito grave é esta espécie de patrulha
ideológica que existe no Brasil. Uma espécie de polícia ideológica que
fica te vigiando nas estradas da criação, para ver se você passou da
velocidade permitida", declarou.
Neste road movie filmado em cinco estados do Norte e Nordeste,
artistas mambembes da caravana Rolidei (José Wilker, Betty Faria, Fabio
Jr.) levam seu espetáculo aos rincões do país e percebem uma série de
transformações (sociais, comportamentais e culturais) em curso. O filme
trafega com humor e poesia nessa via de mão dupla: o nascimento de um
Brasil moderno e a agonia de uma era mais arcaica.
A ideia do filme nasceu nas filmagens de "Joanna Francesa", quando
Cacá percebeu o impacto da TV numa pequena comunidade do interior de
Alagoas. Exibido na competição oficial do Festival de Cannes em 1980,
"Bye Bye Brasil" teve carreira exitosa, de crítica e público, no
exterior e no Brasil, onde fez quase 1,5 milhão de espectadores.
"Para a crítica europeia, tratava-se de um filme triste sobre o fim
de uma cultura e suas tradições populares. Mas para os latinos e
norte-americanos, era um canto luminoso a um novo país em via de nascer.
Essa recepção contraditória contém verdades nas duas vertentes e é mais
uma virtude do próprio filme", escreveu o diretor.
Já separado de Nara, Cacá se casou em 1981 com Renata Almeida
Magalhães, que depois se tornaria produtora de seus filmes. A década
começou exitosa e renovadora, mas seria marcada por produções repletas
de contratempos.
"Quilombo", rodado em Xerém (RJ), foi castigado por chuvas
torrenciais do El Niño, consumiu dez semanas extras de filmagem e deixou
dívidas que o diretor levou anos para pagar. Já "Um Trem para as
Estrelas" (1987) e "Dias Melhores Virão" (1990) foram lançados em um
contexto de crise econômica, alta inflação e decadência da Embrafilme, o
que fez minguar o público de cinema. "Dias", por sinal, estreou na
Globo, sem passar pelas salas de exibição.
Na virada dos anos 1990, no governo Collor, a cena parecia um filme
de terror. Embrafilme e as leis que possibilitavam a produção de filmes
foram extintas, e o cinema brasileiro estava praticamente morto. Como
vários colegas de profissão, Cacá migrou para a publicidade e vídeos
institucionais para pagar as contas.
Para não ficar louco, como ele diz, produziu com baixíssimo orçamento, em parceria com a TV Cultura, "Veja esta Canção" (1994), uma dos primeiros filmes do que se convencionou chamar de retomada do cinema brasileiro, já no governo Itamar Franco.
O filme era composto de quatro episódios, inspirados em canções de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Jorge Ben Jor.
Os anos seguintes foram bem mais felizes. Único diretor do cinema novo a manter produção regular, Cacá emedou três sucessos. "Tieta do Agreste" (1996),
adaptação de Jorge Amado com Sonia Braga no papel-título, era uma
superprodução, comparada ao filme anterior. A volta da heroína
libertária a uma pequena e atrasada cidade baiana era o mote para pensar
o Brasil redemocratizado, que vencia a inflação com o Plano Real e se
abria economicamente ao mundo com a globalização.
"Orfeu" (1999) atava,
às vésperas dos 60 anos do diretor, as pontas de sua vida: era a
concretização do sonho de levar ao cinema a peça de Vinicius de Moraes
que tanto o havia marcado na adolescência e moldado sua visão estética. O
embate ali presente entre Carnaval/violência, lirismo/realismo já
germinava sua obra desde de seu início, quase 40 anos antes, em "Cinco
Vezes Favela".
"Deus É Brasileiro" (2003) foi seu último êxito de público e crítica, e
seu melhor filme desde "Bye Bye Brasil". Cacá faz o Todo Poderoso
(Antonio Fagundes) percorrer léguas de estradas no Brasil, à procura de
um substituto, no que acaba por ser uma fábula em homenagem à
imperfeição humana. O filme também refletia o clima de otimismo nacional
do primeiro mandato de Lula.
No fim da vida, Cacá teve mais uma consagração como intelectual
público. Foi eleito em 2018 para a Academia Brasileira de Letras,
sucedendo, em outro acaso simbólico, seu amigo e mestre Nelson Pereira
dos Santos. No ano seguinte, passou por uma tragédia pessoal: sua filha Flora morreu aos 32 anos, em decorrência de um câncer no cérebro.
Por coincidência ou predestinação dos deuses do cinema, Cacá encerrou
sua carreira com o inédito "Deus Ainda É Brasileiro", previsto para
estrear neste ano, novamente em um governo Lula.
Desta
vez, o pano de fundo é o turbilhão em que o país se meteu na última
década, bem longe do otimismo contagiante do filme original. Neste 2025,
até Deus parece ter virado as costas ao Brasil, a popularidade de Lula desabou e o mantra "A esperança venceu o medo" é bem menos convincente.
O cineasta apontou até o fim as lentes de sua câmera para a questão
que tanto afligia sua geração: o Brasil ainda vai cumprir a sonhada
vocação de grande nação? Com fé religiosa ou não, teremos que seguir
tentando, agora sem os filmes de Cacá.
There are roughly 600 more important issues to cover
from the ORTBO, but the TV on the cliff is breaking me a little. .
Seven Severance Questions is
a weekly attempt to digest the events of one of television’s twistiest
shows by highlighting the weirdest, most confusing, and most important
unresolved issues after each episode. There will be theories. Many will
be unhinged.
Severance
is just under halfway through its second season, and the show has
flipped itself on its head no fewer than three times. Maybe four? First,
it was the MDR team returning after the Waffle Party Rebellion of
season one. Then, it was the Outie reveal from the second episode that
showed how everything in the premiere came to be. Mark underwent the
reintegration procedure. Helly’s Outie has been — surprise! —
traipsing around as her Innie, possibly as a mole and possibly on a hunt
for love and probably a little of both. Milchick drives a motorcycle.
Cobel listens to the Stone Roses. You can be forgiven if you’re swimming
a little bit here.
At
some point, hopefully sooner than later, the show will have to pay off a
few of the mysteries it takes great pleasure in introducing. It
probably will. Again, we’re still in the front half of this season and
everyone is still trying to grapple with what unfolded in the season-one
finale. But for right now, it’s fun to zoom out and look at this from a
satellite in space. Severance is the kind of show where the
characters can be transported to the wilderness for an Outdoor Retreat
Team Building Occurrence — ORTBO, which sounds like something Ricken
would name a dog — where all sorts of supernatural things happen and a
child operates an open-flame grill and … it feels normal? That’s still
pretty cool. The answers can wait, at least a little bit longer. For
now, it’s more fun to ask the questions.
Speaking of which …
How long has Helly been an impostor?
There
was a school of thought back at the beginning of this season that Helly
R. had gone back to the severed floor as her Outie, Helena Eagan, and
was down there to spy on the rebellious MDR team on behalf of Lumon. I considered it at the time
but pushed it aside both because I did not want to come in too hot
after the first episode in a few years (“WELCOME BACK EVERYONE IS FAKE
AND/OR ROBOTS”) and because I figured the whole undertaking would
require too many leaps. It would mean Helena — an heiress and executive,
not a seasoned undercover operative, as far as we know — would need to
study closely everything Helly did and knew so as not to trigger the
suspicions of the already suspicious co-workers who knew her Innie self
better than she did. It would mean that the look in her eyes when she
saw Helly R. kiss Mark was not just jealousy that her Innie had
discovered a personal connection she couldn’t grasp in her tightly wound
real life but also, possibly, the flickers of an infatuation that could
smash the severed and non-severed worlds together in a way that gets
progressively yuckier as you think about it. It seemed like, frankly, a
lot.
What
I did not consider, though, and this is admittedly on me, is that maybe
she’d just do it and be bad at it and blow her cover a few episodes
later by being mean to Irv at a spooky wilderness retreat and get
herself almost drowned in an icy creek after having sex in a tent with
Mark. Let’s go ahead and call that an oopsie on my end.
The
implications for this going forward make my head hurt a little, in more
of a good way than a “just had an experimental brain procedure done on
me in a makeshift lab” way. A lot of it depends on how the Glasgow Block
works. Is it something that has been flipped on and off before? Is it
something they can keep flipping on and off going forward? How do Dylan
and Mark — especially Mark, holy heck — explain any of this to Helly’s
Innie? Can they ever trust her Innie going forward? Does the Glasgow
Block work with other severed employees, or was that an Eagan special? I
could go on. I probably will on my own.
The bigger issue is that this makes two episodes in a row that ended with series-altering twists. I genuinely have no clue where things go from this point. It’s kind of exciting.
On a scale of 1–10, how messed up is Mark going to be after this?
I’m
tempted to say 10. It’s hard to imagine things getting weirder than
“the wife he thought was dead could be alive as part of a wide-ranging
conspiracy led by the company he allowed to perform a weird brain
procedure on him that he just had a possibly disgraced scientist reverse
in a creaky lab before learning that the work crush he just hooked up
with in a tent was actually a high-level executive at the same company
who was doing subterfuge and also might be obsessed with him.” But I
also didn’t see any of that coming when I started watching this show.
Let’s go ahead and put him at an 8 just to leave ourselves room to go up
from here.
There’s
also the question of how much the reintegration procedure complicates
things. We haven’t gotten much clarification on that beyond Mark
glitching out in the tent for a second. Does his Innie know what his
Outie knows? Or does his Outie know what his Innie knows, or both or
neither? There is so much up in the air right now.
The only thing I know for certain is that I would like to watch a soapy Good Wife–style network procedural that exists inside the world of Severance and follows a team of attractive employment lawyers just filing lawsuits as fast as they can over all of this.
This was all probably pretty weird for Milchick, too, right?
I
don’t know why I’m going soft on Milchick all of a sudden. He really
hasn’t given me a great reason to. All he’s done this season is
manipulate people and do that ominous look he does and waste some
marshmallows. But still, there I was, thinking back on this season and
feeling kind of bad for him.
The
events of the first season were weird enough, having to “supervise” the
Eagan heiress after she was severed. But then in this episode, he knew
it was really her and still had to keep up appearances as she laughed at
his campfire story and make Miss Huang heave those perfectly good
marshmallows into the flames. Just once I would like to see him drink a
bottle or two of wine and tell someone what he really thinks about any
of this.
I
would also like to see the rest of the clothes he owns. Between the
turtlenecks and leather jacket from earlier in the season and this
week’s incredible white parka, the man has really stepped his game up
from short-sleeve dress shirts and neckties. Show me that closet and get
him a little drunk. These feel like reasonable requests.
Have we seen the last of Irv?
On
one hand: If you’re gonna go out, tough to go out harder than almost
freezing to death in the woods, having a dream about spooky ghost brides
working next to your crush, and exposing your co-worker as a secret
Eagan who was sent to spy on you and/or seduce your colleague.
On
the other hand: Outie Irv still has business to attend to. And Burt was
snooping on him at that pay phone a while ago, so there’s more meat on
that bone too. And it would make me sad if we lost Irv.
Here
is my theory based on absolutely nothing: Reintegrated Mark finds Outie
Irv and they work on the secret hallway thing together.
How did the TV on the cliff work?
There are roughly 600 more important issues to cover from the ORTBO. This doesn’t rank above something like Why does the MDR team have weird doppelgängers who pop up to point toward things ominously? Or even Do you think, inside the universe of Severance, that really is the world’s tallest waterfall?
This
is the one that’s breaking me a little, though. I assume it’s one of
those situations where your brain gets overwhelmed by more complicated
matters so it zeroes in on something stupid. It’s not like this is the
oddest technological conundrum we’ve seen on this show. It might not be
the oddest one from this episode, actually. That honor might go to the
working light on the wall of the Scissor Cave where they found the new
appendix. But still: How did the TV work with no cords or outlets up there on that desolate cliff?
I swear to god, if any of you say “batteries,” I will heave your dessert into the fire.
Do you ever wonder if Kier was just some pompous bozo like Ricken and things kind of got out of control after a while?
I’ve
been thinking about this a lot lately. Between Natalie talking with
Ricken about editing his book to be more employee friendly for Lumon and
the ridiculous Kier excerpts we heard this week, the parallels are fun
to explore. Like, imagine the first group of people who read some of the
things Kier wrote and tell me it’s that different from the people at
Ricken’s reading.
I
choose to believe there’s a world many generations out from the one
we’re watching now where Ricken is regarded as a Kier-like god, complete
with a series of oil paintings. I suspect Ricken chooses to believe
this too.
Which of these phrases used in the episode would make the best band name?
Scissor Cave Woe’s Hollow The Night Gardeners Luxury Meats Chaos’ Whore The Glasgow Block
The answer is the Night Gardeners. It’s not particularly close. I bet Cobel listens to them in her car.
Após se mudar com a família da cidade do Porto, em Portugal, para o Rio de Janeiro, em 1955, Artur Barrio se dedicou ao desenho,
ainda que não gostasse do resultado (“Fazia umas garatujas horríveis.
Meu irmão mais velho é que desenhava imensamente bem, mas não quis
seguir carreira artística.”) Dez anos depois, começou a produzir seus
primeiros trabalhos e, em 1967, entrou para a Escola de Belas Artes
(EBA) da UFRJ, tornando-se, nos anos seguintes, um dos nomes de
referência da arte brasileira.
Aos 80 anos, completados neste sábado (1º), Barrio volta ao desenho
como meio de expressão. É a obras em preto e branco em nanquim sobre
papel que ele dedica seu tempo, seja em seu ateliê na Lapa, seja no
barco ancorado na Marina da Glória onde mora desde 2022 com a mulher, a
fotógrafa Cristina Motta.
‘É hora de desenhar’
Entre o início da carreira e o momento atual, Barrio desenvolveu uma
das produções mais radicais e inclassificáveis da arte brasileira, com
obras de natureza efêmera criadas a partir de materiais orgânicos, a
exemplo de sua célebre série de “Trouxas ensanguentadas” — objetos de
tecido embalando carnes, ossos, dejetos, cabelos, plástico — ou com
trabalhos performáticos, em arte postal e instalações.
Atualmente, obras
suas podem ser vistas pelo público carioca na Casa Roberto Marinho, na
exposição “Geometria inquieta”, do conterrâneo Ascanio MMM (o desenho em
nanquim “Projeto 4 pedras”, de 1977), e na coletiva “Formas das águas”,
recém-inaugurada no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, na qual
apresenta a instalação o “Artur Barrio e a física enquanto arte”
(2018-2024).
— Já há algum tempo me dedico aos desenhos, que são menos formais,
trazendo alguns pensamentos escritos. Em termos de instalações, acho que
cheguei a um limite, e tentar ultrapassá-lo é muito complexo para mim —
conta Barrio. — Então sinto que é hora de desenhar, de algo mais
íntimo. O desenho é o princípio de tudo, ao menos para mim, e a
espontaneidade dele me permite essa reflexão. E tem um lado poético, que
posso extravasar através da escrita.
Artur Barrio no MAM do Rio — Foto: Leo Martins
No mesmo MAM que agora expõe sua instalação, e onde frequentava junto a
outros artistas nos anos 1960, Barrio participou do “Salão da Bússola”
em 1969, marco da arte conceitual no Brasil, ao lado de nomes como Cildo
Meireles, Antonio Manuel, Anna Bella Geiger, Guilherme Vaz, Luiz
Alphonsus e Thereza Simões.
— Não consigo me ver como um artista conceitual, nem acho que no Brasil
exista uma arte conceitual nos moldes da americana ou da inglesa. Há um
conceito ligado ao contexto do trabalho, que depois se expande e vira
outra coisa — avalia Barrio. — Sempre fiquei à parte, meu trabalho é
muito contraditório, anárquico, até brutal. É um pouco da forma que
compreendi o mundo por meio dos contrastes do Rio, entre a sua beleza e
sua natureza humana.
No “Salão da Bússola”, Barrio expôs pela primeira vez suas “Trouxas
ensanguentadas”, que se relacionavam diretamente com a situação de
sequestros, mortes e torturas dos presos políticos durante a ditadura
militar. Em outras coletivas importantes para a arte conceitual
brasileira, em 1970, ele deu sequência à série: em “Do corpo à Terra”,
em Belo Horizonte (MG), 14 obras foram deixadas no leito do Rio Arrudas,
que corta a capital mineira, onde foram confundidas com “desovas” reais
de corpos; já na “Information”, realizada no MoMA de Nova York meses
depois, foram apresentados registros da ação.
— Tinha, obviamente, uma abordagem política ali, tive amigos da Belas
Artes que desapareceram. Mas eram obras que também falavam de um
contexto da História da Arte, como o corpo insepulto em “Antígona”, de
Sófocles, os fuzilamentos do “Três de maio de 1808”, do Goya, os “Os
cantos de Maldoror”, do Conde de Lautréamont — detalha o artista.
Apresentadas no Salão da Bússula, em 1969, as 'Trouxas ensanguentadas'
eram relacionadas à tortura e à morte de presos políticos — Foto:
Divulgação
Outra série icônica de Barrio a utilizar material orgânico foi seu
“Livro de carne” — pedaços de carne cortados em sequência, no formato de
páginas, que tinham de ser substituídos a cada três dias, quando
começavam a apodrecer. Apresentado em 1978, em Paris, onde o artista
residia na época, e exibido na 24ª Bienal de São Paulo, em 1998, o
trabalho antecede em décadas a experiência conceitual de Maurizio
Cattelan de levar para o ambiente expositivo um alimento real, com sua
putrefação sendo parte da obra. No caso do italiano, uma banana foi
escolhida como base de “Comedian”, que teve um de seus múltiplos arrematado por US$ 6,2 milhões (R$ 36,4 milhões) num leilão da Sotheby’s em novembro do ano passado.
— Isso aí é o mundo hoje, não ligo para isso. Vivi o meu momento lá
atrás, quando estava em Paris e tive que explicar com detalhes ao
açougueiro como cortar a carne como páginas — recorda Barrio. — Se
pensasse em dinheiro, teria seguido o trajeto da família, que era de
industriais em Portugal. Poderia ter sido um empresário de médio ou
pequeno porte, não sei, e ganharia a vida de forma mais fácil. Mas
faltaria esse lado anárquico, poético, dos que arriscaram tudo.
Dedicação na montagem
Diretor artístico do MAM e curador de “Formas das águas”, ao lado de
Raquel Barreto, curadora do museu, Pablo Lafuente conheceu o projeto de
“Artur Barrio e a física enquanto arte” em 2023, quando expôs alguns dos
cadernos do artista por conta dos 75 anos da instituição. Ao pensar em
uma exposição relacionada à Baía de Guanabara, o curador lembrou da
instalação, que cria um sistema onde a água do mar é purificada,
passando por uma sequência de recipientes, com inspiração vinda da
experiência de Barrio em viver numa casa sobre as águas.
— A obra do Barrio, como ele próprio, se opõe às estruturas de poder,
questiona os processos, inclusive dos ambientes institucionais que ele
ocupa. É um trabalho com visceralidade, urgência, mas, ao mesmo tempo,
não se apresenta da maneira que as pessoas esperam de uma obra de arte.
Não é uma obra que se abre de cara, é preciso se engajar com ela —
analisa Lafuente. — E o mais lindo era vê-lo vários dias durante a
montagem, mexendo na instalação, ajustando detalhes, com uma atenção
muito grande à materialidade da peça. Isso é raro num artista canônico
como ele.
‘Livro de carne’: criada nos anos 1970, obra foi mostrada na 24ª Bienal de SP — Foto: Divulgação/Galeria Millan
Enquanto trabalha em seus desenhos, Barrio aguarda a confirmação de
possíveis individuais no exterior, em Espanha, Portugal e Bélgica, para
2026. Sem olhar para trás, garante, o artista se diz feliz por seguir
produzindo.
— Cá estamos aos 80 anos, nunca pensei em chegar a essa idade. Muitos
amigos já se foram, muita gente da família, mas há sempre mais algo a
fazer antes de ir embora. Quero velejar, mergulhar, quero criar, jogar
xadrez todos os dias para a cabeça ainda se manter. Não tenho receio do
amanhã. Minha obra aí está, e o tempo dirá como fica. O maior problema
mesmo é apagar 80 velas — diverte-se.