Marlen Couto
Ao menos 25 canais no YouTube alinhados ao presidente Jair Bolsonaro
apagaram ou tornaram privados 263 vídeos com ataques às eleições
brasileiras e a autoridades da Justiça Eleitoral e do Tribunal Superior
Eleitoral (STF) nos últimos dias. A limpeza ocorreu após a decisão do
ministro Luis Felipe Salomão, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que
suspende os repasses de recursos financeiros de plataformas digitais a
canais investigados por propagar desinformação sobre o processo
eleitoral.
O monitoramento foi feito pela empresa de análise de
dados Novelo Data, que filtrou as publicações a partir de palavras-chave
para chegar aos números, como os nomes dos tribunais e de seus
ministros, além de referências às urnas eletrônicas.
Na lista
estão dois canais ligados ao youtuber bolsonarista Fernando Lisboa,
conhecidos como Vlog do Lisboa, que foram alvos da determinação do TSE e
somam mais de 800 mil seguidores. Foram excluídos dois vídeos, um deles
com referências à live de Bolsonaro com alegações falsas de fraude nas
urnas que levou o presidente a ser investigado e outro vídeo intitulado
"Lula só GANHA com Fraude nas Urnas".
O canal com maior número de vídeos excluídos é o do youtuber
Gustavo Gayer, com 59 postagens. A conta tem quase 500 mil inscritos e
já teve postagens removidas pelo próprio YouTube por disseminar notícias
falsas sobre a pandemia e apareceu no relatório enviado pela plataforma
à CPI da Covid, em junho, como o segundo canal que mais arrecadou com
monetização de vídeos desinformativos, com R$ 40,7 mil.
Uma das postagens de Gustavo Gayer excluídas era uma live feita no
início de agosto com a também youtuber bolsonarista Camila Abdo, do
canal Direto aos Fatos, também atingida pela desmonetização determinada
pelo ministro Salomão. O tema discutido foi a proposta de impressão do
voto que acabou rejeitada na Câmara. Gayer foi candidato a prefeito em
Goiânia no ano passado pelo partido Democracia Cristã (DC), mas não foi
eleito.
Outro canal que apagou postagens foi o "O Jacaré de Tanga", que tem
mais de 1,2 milhão de inscritos e é mantido por Felipe Lintz,
ex-candidato a prefeito de Mogi das Cruzes, em São Paulo, pelo PRTB. O
perfil é alvo das apurações da CPI das Fake News no Congresso.
Autointiulado "defensor de Deus, pátria e família", Lintz exibe fotos ao
lado de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) nas redes sociais. Ao todo 26 vídeos
do "O Jacaré de Tanga" foram tirados do ar ou colocados em modo
privado.
Guilherme Felitti, da Novelo Data, destaca que canais bolsonaristas
que difundem desinformação costumam remover vídeos nos dias seguintes a
ações de instituições como o TSE, o STF e a Polícia Federal:
— Foi assim quando a PF fez a primeira ação do inquérito de fake
news do STF em junho de 2020, foi assim quando o STF ordenou a prisão do
deputado Daniel Silveira em fevereiro de 2021 e foi assim também quando
Roberto Jefferson foi preso e o TSE vetou a monetização dos canais em
um espaço de poucos dias.
Como mostrou o GLOBO, a decisão do corregedor do TSE contra a
monetização de propagadores de mensagens falsas sobre as eleições atinge
perfis ligados a 11 influenciadores digitais, além três veículos de
mídia (Terça Livre, Folha Política e Jornal da Cidade Online) e um
movimento político (Nas Ruas) apoiadores de Bolsonaro. A maior parte dos
alvos da decisão pela suspensão de repasses de verbas publicitárias
pelas redes sociais já era investigada no inquérito sobre a organização
de atos antidemocráticos aberto no ano passado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Segundo a Polícia Federal, os perfis alvos da decisão
integram uma rede organizada para estimular a polarização do debate
político, especialmente com o impulsionamento de mensagens falsas sobre
fraudes no sistema eletrônico de votação.
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