April 16, 2021

Série do Pantanal em cinzas de Lalo de Almeida vence maior prêmio de fotografia do mundo




O fotógrafo da Folha Lalo de Almeida venceu a categoria Meio Ambiente do World Press Photo, a mais prestigiosa premiação de fotojornalismo do mundo. Os fotógrafos premiados, de 28 países, foram anunciados nesta quinta-feira (15) pela instituição que promove o concurso.

A série premiada de fotografias de Lalo, que ao longo de meses em 2020 cobriu a destruição do Pantanal provocada pelo fogo ao lado do repórter Fabiano Maisonnave, ganha força com o retrato de um bugio ajoelhado e carbonizado no meio de uma mata devastada.

O registro do macaco morto impressiona pela semelhança com a figura humana e pela dificuldade em distinguir a diferença entre o corpo do animal e o cenário em volta dele, também carbonizado.

O fogo se alastrou pela vegetação seca e devastou cerca de 20% da biodiversidade do bioma, que ainda está em processo de recuperação. Investigações da Polícia Federal mostraram que os incêndios foram provocados por pecuaristas para abrir novas áreas de pastagem para o gado, uma pressão que vem atingindo o bioma há décadas.

Segundo Pilar Olivares, jurada e fotógrafa da Reuters, a série de dez fotos de Lalo “é a história dos incêndios que mais me impactou”, disse. “Cada foto nos mostra uma situação triste de devastação sem perder o sentido estético”.

Além de perfeitamente editada, a jurada afirmou que ao analisar o trabalho de Lalo “não sinto que preciso ver mais e também não sinto que estou vendo muito”.

Quando soube que era um dos finalistas, em 10 de março, Lalo afirmou em suas redes sociais que além da satisfação pessoal, “o prêmio ajuda a colocar luz sobre a importância da preservação do bioma”.

Após participar da cerimônia online de premiação nesta quinta, o fotógrafo contou que esteve no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul por quatro vezes para cobrir a tragédia ambiental.

Já na primeira viagem, ficou espantado com o tamanho do incêndio. “O hotel usado como base pelos bombeiros foi cercado por uma coluna de fogo e precisou ser esvaziado rapidamente”, disse.

Lalo também disse que a imprensa nacional demorou a entender o que estava acontecendo no bioma localizado no Centro-Oeste do Brasil, um refúgio para onças-pintadas e araras-azuis. “A Amazônia sempre chama mais atenção do que os outros biomas. Acho que, por isso, o fogo no Pantanal demorou para entrar nas prioridades de cobertura”.

A comoção diante da devastação do bioma ganhou outra temperatura quando fotos dos animais mortos estamparam as primeiras páginas dos jornais, como as desta Folha, disse Lalo. “A partir daí, eu percebi que a sociedade civil organizada, as instituições e o próprio governo começaram a agir”, afirmou.

Por onde passavam, Lalo e Maisonnave só viam o rastro de destruição deixado pelo fogo que impediu o voo das aves, a fuga de sucuris, antas e cervos e do próprio gado nas fazendas em busca de abrigo.

“Fomos vendo muitos bichos morrendo na nossa frente. O gado das fazendas que tinham as patas queimadas não conseguiam ficar em pé e morriam um atrás do outro”, afirmou.

O registro do bugio carbonizado foi feito numa fazenda da região da Serra do Amolar, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A chegada do fogo no local causava um barulho, segundo Lalo, semelhante ao de uma turbina de avião. “A gente foi ver o que sobrou e encontramos a família de bugios totalmente queimada”.

“O impacto foi grande porque aqueles bichos pareciam crianças carbonizadas. Foi uma cobertura que exigiu muito emocional da gente”, disse. Para Lalo, a série deixa um recado: "ela mostra ao mundo como tem sido a condução da política ambiental no Brasil no atual governo".

Lalo colabora com a Folha há 27 anos. Em 2017, o fotógrafo ficou em segundo lugar no World Press Photo na categoria de assuntos contemporâneos com uma série sobre famílias afetadas pelo zika vírus.

Ainda que Lalo seja o único brasileiro na edição deste ano, o Brasil está presente entre os ganhadores. Mads Nissen, dinamarquês vencedor do World Press Photo pelo retrato do casal gay em 2015, fotografou no país a crise da Covid-19. O registro levou o primeiro lugar da categoria “Notícias Gerais”.

A imagem mostra o primeiro abraço de uma idosa em cinco meses. Rosa Luzia Lunardi, 85, aparece de costas, em São Paulo, abraçando uma enfermeira e enrolada em um plástico que acaba assumindo um formato parecido ao de asas de anjo.

Entre os vencedores, há uma foto de conflito —a disputa entre azeris e armênios por Nagorno Karabakh—, e o registro da tragédia em Beirute, onde uma explosão na zona portuária da capital libanesa deixou centenas de mortos.

Veja a galeria Pantanal em Cinzas
e Vencedores do World Press Photo
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/04/serie-do-pantanal-em-cinzas-de-lalo-de-almeida-para-a-folha-vence-maior-premio-de-fotografia-do-mundo.shtml



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