É um escândalo que, nesse quadro, o estado resolva pagar a conta de luz da SuperVia
Fim de ano é uma época propícia para a aprovação de maracutaias de todo
tipo. Políticos vigaristas aproveitam que a população está preocupada
com as festas de Natal e Ano Novo e votam coisas de que até Deus duvida.
Pois este fim de 2015 não foi exceção.
No dia 16 de dezembro, sob a batuta do presidente da Alerj, o deputado
Jorge Picciani, foi aprovada uma proposição do governador Luiz Fernando
Pezão concedendo um subsídio no valor de R$ 39 milhões para a SuperVia
pagar a sua conta de luz à Light. A SuperVia opera os trens no Rio e é
controlada pela superpoderosa, e hoje superenrolada em denúncias de
corrupção, Odebrecht.
A justificativa apresentada por Pezão para a medida é surrealista: o
aumento das tarifas de energia elétrica foi maior do que o previsto,
afetando os lucros da empresa. Ora, o aumento das contas de luz onerou a
economia de todos os consumidores. Por que o socorro apenas à SuperVia?
A situação no estado beira a calamidade pública. O próprio Pezão foi
obrigado a decretar situação de emergência na área de saúde no Rio. O
secretário de Saúde se demitiu, alegando que vai se candidatar no ano
que vem, e pelo menos 11 hospitais e 17 UPAs estavam recusando pacientes
por falta de condições de funcionamento no momento em que este artigo
estava sendo escrito.
A Uerj está a ponto de fechar as portas. Os alunos se cotizam para pagar
o transporte de funcionários responsáveis pela limpeza, há meses sem
receber.
E o governador, sem dinheiro para pagar o décimo terceiro salário dos
servidores, acena com uma inacreditável proposta: que eles busquem
empréstimos na rede bancária.
É um escândalo que, nesse quadro, o estado resolva pagar a conta de luz da SuperVia.
Mas as barbaridades não param aí. Pezão deu benefícios fiscais a grandes
empresas, que deixarão de pagar mais de R$ 35 bilhões em ICMS até 2018.
Entre elas estão Ambev, Jaguar, Land Rover e Nissan. Seus interesses
foram considerados pelo governador mais importantes do que as
necessidades da população. E ainda há quem diga que crime organizado é o
que comete um adolescente de favela que vende um papelote de cocaína.
Que Pezão é candidato a ser o pior governador do Estado do Rio nas
últimas décadas, já se sabe. Ele chega a dar saudades de seu padrinho
político, o inesquecível Sérgio Cabral, com suas dancinhas de cancã em
Paris, de guardanapo na cabeça.
Que Pezão e seu secretário de Segurança, Mariano Beltrame, não controlam
a PM, sendo coniventes com o fato de ela ter se transformado numa
máquina de assassínio de jovens pobres e negros, também se sabe. Mas é
preciso que a população saiba também que, enquanto o estado afunda,
Pezão está dando à Odebrecht esse presente de Natal.
Aliás, no mesmo dia em que ele foi aprovado, a Alerj rejeitou proposta
de que não houvesse reajustes das tarifas cobradas pela SuperVia ao
longo de 2016, atendendo a outro pedido de Pezão.
Francamente, só mesmo lembrando a música de Chico Buarque: “Chama o ladrão, chama o ladrão!”
O Globo, 29 de dezembro de 2015