October 17, 2025

Loucura? Não, método

 

 Uma engrenagem planetária disciplinada movimenta a extrema-direita


Por Celso Pinto de Melo ...

Loucura? Não, método

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E nos tensos interregnos das transições entre o velho que se recusa a desaparecer e o nascer de novos tempos que fenômenos mórbidos proliferam. A política da extrema-direita, nos Estados Unidos ou no Brasil, é muitas vezes tratada como incoerente e irracional. É fácil zombar de seus rituais: pedidos de auxílio a extraterrestres, invocações ao AI-5 em meio a bandeiras verde-amarelas, a invasão do Capitólio com fantasias de viking. Tudo parece improviso de lunáticos. Por trás da aparência de caos, há, no entanto, uma engrenagem internacional disciplinada, operando com objetivos claros e articulada por think tanks ultraconservadores, como a Heritage Foundation.

Documentos como o Project 2025 e o Project Esther são faces complementares dessa estratégia. O primeiro organiza um manual para a captura do aparelho de Estado, o segundo mobiliza pânicos morais enraizados em interpretações religiosas. Ambos se apoiam em redes transnacionais que conectam igrejas, partidos, agências de desinformação e até editoras evangélicas brasileiras, como a Casa Publicadora das Assembleias de Deus. O objetivo é reconfigurar as democracias liberais, submetendo o Estado a uma moral religiosa conservadora, restringindo direitos civis e reinstalando uma ordem social hierarquizada sob o pretexto da defesa da liberdade.

Nos EUA, o Project 2025 propõe demissões em massa no serviço público, substituindo técnicos por militantes ideológicos, a fusão ou extinção de agências ambientais e educacionais, a imposição do nacionalismo cristão como doutrina oficial, o uso do Insurrection Act de 1807 para reprimir protestos e o desmonte de políticas de diversidade e inclusão. Algumas medidas foram testadas no governo Trump, como a saída do Acordo de Paris e os cortes em agências reguladoras. No Brasil de Bolsonaro, práticas semelhantes se expressaram no aparelhamento de órgãos públicos, no ataque a instâncias de controle e na disseminação sistemática do ódio e da desinformação.

A engrenagem não se restringe ao eixo EUA–Brasil. Ela conecta-se em eventos como as Conferências de Ação Política Conservadora, que reúnem líderes como Viktor Orbán, Giorgia Meloni, ­Santiago Abascal e Javier Milei em torno de uma pauta comum. Trata-se de uma internacional autoritária que compartilha métodos, recursos e legitimidade simbólica. Um alvo central é a produção de conhecimento crítico. A ofensiva anticiência desqualifica universidades, cientistas e educadores, promovendo teorias conspiratórias sobre gênero, globalismo, vacinas e clima. Pretende não apenas privatizar a educação, mas colonizar os currículos com dogmas, esvaziando as humanidades e enfraquecendo a capacidade de questionar o estabelecido.

O Project Esther, por sua vez, articula a dimensão religiosa. Enraizado na doutrina escatológica do dispensacionalismo, vê o Estado de Israel como cumprimento de profecias e transforma a política externa em ato de fé. Nos EUA, organizações como a Christians United for Israel dão corpo a essa visão. No Brasil, ela se difunde por meio de igrejas como a Assembleia de Deus, o Ministério Internacional da Restauração e a Sara Nossa Terra, impulsionada por lideranças como Silas Malafaia, Marco Feliciano, René Terra Nova, Robson Rodovalho e Damares Alves. Esse discurso confere uma pretensa superioridade moral às alianças entre fé e mercado político, criando justificativas religiosas para agendas autoritárias. No Brasil, esse roteiro ganhou expressão simbólica. O patrimônio cívico foi sequestrado e convertido em estandartes de guerra cultural. A bandeira verde e amarela passou a ser usada ao lado daquelas de Israel e dos EUA, compondo uma iconografia que associa nacionalismo a religiosidade e subordinação geopolítica.

    Uma internacional autoritária compartilha táticas, recursos e legitimidade simbólica

Eduardo Bolsonaro desempenha papel ativo como elo entre a CPAC brasileira e a Heritage Foundation, além de participar de eventos ligados ao sionismo cristão, projetando o Brasil como parte da mesma rede internacional. A Frente Parlamentar Evangélica reforça a lógica no Legislativo, enquanto o discurso fundamentalista serve como instrumento para minar a laicidade e os direitos civis. Nada disso é improviso: o ruído é tático. Escândalos performáticos funcionam para confundir, atrair atenção e deslegitimar o debate racional, enquanto o aparelho de Estado é manipulado nos bastidores.

Um aspecto adicional precisa ser destacado: o “método” não reside apenas nas instituições formais, mas também no ecossistema digital. Plataformas como Facebook, Twitter/X, YouTube e ­TikTok se consolidaram como canais de difusão de pânico moral e mobilização militante. Controlados por poucas big ­techs, seus algoritmos amplificam conteúdos polarizadores e premiam a desinformação e o discurso de ódio. A disputa não ocorre apenas no Congresso ou nas ruas, mas no espaço digital. Campanhas como o ­Brexit, a eleição norte-americana de 2016 e os disparos em massa no ­WhatsApp em 2018 no Brasil inauguraram uma era em que a manipulação das redes digitais é parte central do roteiro global. Nesse contexto, a aliança recente entre CEOs das big techs e a extrema-direita não é contingente, mas estratégica: redefine a esfera pública ao flexibilizar a moderação, amplificar o extremismo e contornar regulações. O resultado é um espaço assimétrico, onde algoritmos e infraestrutura privada se transformam em armas políticas, fragilizando a democracia, a ciência e as soberanias nacionais.

Não podemos nos deixar petrificar pelos olhares dessa Medusa. Assim como Perseu, para derrotá-la é preciso identificar suas limitações e tensionar suas vulnerabilidades. O que está em jogo vai além de eleições. É a própria estrutura democrática e laica da vida pública que se encontra sob ataque. Universidades, imprensa, agências reguladoras, direitos de minorias e o princípio da igualdade perante a lei são alvos preferenciais. A soberania nacional também é corroída, seja pelo alinhamento automático a interesses externos, pelo negacionismo climático ou pelo armamentismo travestido de nacionalismo. O resultado é um projeto de submissão sob a aparência de independência. Resistir a essa ofensiva não significa imitá-la em intolerância ou autoritarismo, mas fortalecer as vias democráticas. Isso implica defender a ciência, a educação pública e o pensamento livre, revitalizar órgãos de controle e agências reguladoras, reconquistar símbolos nacionais como patrimônio plural, denunciar o uso político da fé e reafirmar a laicidade do Estado como pilar de uma democracia inclusiva.  •

CARTA CAPITAL  

Senhores das armas


O aumento das tensões leva à explosão do gasto militar 
mundial e estimula o discurso belicista até no Brasil

Por João Paulo Charleaux... 


O gasto militar mundial bateu recorde em 2024 e tudo indica que deve continuar a subir neste e nos próximos anos, sem sinal de desaceleração. Desde o fim da Guerra Fria, em 1991, o mundo não gastava tanto dinheiro com armamentos como agora, e o Brasil dá sinais de querer acompanhar essa corrida.


No ano passado, o planeta atingiu o maior patamar de gastos bélicos em mais de 30 anos. Foram 2,7 trilhões de dólares, aumento de 9,4% em relação a 2023. Estados Unidos, China, Rússia, Alemanha e Índia lideram o ranking, nessa ordem, e respondem, juntos, por 60% do total global. Em termos de crescimento porcentual­, a nova corrida às armas é puxada por uma Europa que interpreta a invasão da Ucrânia como prenúncio de uma ação hostil da Rússia contra o continente. A sensação de insegurança europeia ganhou novo impulso após o presidente norte-americano, Donald Trump, ter se aproximado de Vladimir Putin, dando sinais de que o apoio dos EUA à Otan não é tão sólido e inquestionável como no passado. Mais recentemente, os voos de drones russos sobre países europeus tornaram ainda mais palpável a previsão de uma guerra, justificando a mobilização de recursos que agora consumirão o equivalente a ao menos 2% do PIB das nações do Velho Continente.


Na América Latina, as ações hostis dos EUA contra a Venezuela e o Brasil acenderam a luz amarela. Desde os anos 1960, a região não se sentia tão explicitamente fustigada pelos norte-americanos. No caso brasileiro, a hostilidade veio na forma de sanções unilaterais contra integrantes do Supremo Tribunal Federal envolvidos no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e na imposição de altas taxas contra exportações de uma série de produtos. Uma conversa entre os presidentes Lula e Trump na segunda-feira 6 abriu, porém, uma via de negociação antes inexistente entre as duas maiores economias do continente. Na Venezuela, o caso é ainda mais grave, com os EUA a deslocar tropas para o Caribe, perto da costa do país governado por Nicolás Maduro, a quem prometeram derrubar com o uso da força.


    Em 2024, os investimentos bélicos passaram de 2 trilhões de dólares


A inesperada militarização do entorno brasileiro e a escalada de declarações e atos inamistosos dos norte-americanos contra o Brasil ocorreram pouco antes de o ministro da Defesa, José Múcio, defender o aumento dos gastos militares. Em 30 de setembro, Múcio foi ao Senado reclamar dos atuais 135 milhões de reais previstos para a pasta em 2025. “Eu vim atrás de ajuda”, implorou aos integrantes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, explicando que “a diplomacia e a defesa são como irmãs inseparáveis: duas armas à disposição do Estado para vencer a guerra da sobrevivência neste mundo de constantes transformações”.


A declaração é um eufemismo para as ameaças que o Brasil começa a perceber de forma mais clara contra si e em seu entorno. Semanas antes, o ministro de Minas e Energias, Alexandre Silveira, havia dito, na cerimônia de posse dos novos diretores da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear, no Rio de Janeiro, que “arroubos internacionais muito graves no mundo” atual justificariam o Brasil pensar no uso da tecnologia atômica “também para a defesa nacional”. “Um país como o nosso – prosseguiu o ministro –, que tem 11% da água doce do planeta, clima tropical, solo fértil e tantas riquezas minerais, precisa levar muito a sério a questão nuclear.” Na sequência, o ministério divulgou nota criticando o que chamou de “especulação” em torno das declarações do titular da pasta, e lembrou que o Brasil cumpre com suas obrigações nacionais e internacionais contra as armas atômicas.


As obrigações às quais a pasta se refere estão inscritas na Constituição de 1988, que proíbe o uso da energia nuclear para fins militares. O País resiste, no entanto, em aderir a documentos internacionais que reforçariam essa obrigação. O principal deles é o Tratado Sobre a Proibição de Armas Nucleares, que o Brasil assinou em 2017, mas ainda não ratificou. Para levar esse processo de adesão até o fim, o documento teria de passar pelo Congresso, mas se encontra retido nas mãos do relator, o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL–SP), que disse a ­CartaCapital ter “urgência zero” na tramitação. “O Brasil precisa de autonomia, tecnologia e coragem para enfrentar o mundo como ele é, não como alguns idealistas gostariam que fosse”, afirmou o parlamentar em seu voto contrário à adesão ao tratado internacional que busca impedir a fabricação, estocagem, uso ou transferência de armas nucleares no mundo.


Para Cristian Wittmann, professor da Universidade Federal do Pampa, o aumento mundial de gastos militares é uma resposta “aos conflitos em curso e ao enfraquecimento do Direito Internacional e do multilateralismo”. Na avaliação do acadêmico, também integrante da Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares, organização vencedora do Nobel da Paz em 2017, há hoje uma falta de confiança nos mecanismos criados para prevenir e coibir as guerras, o que faz com que os países voltem a considerar as armas nucleares como “uma forma nacional de afastar a interferência externa”. No caso do Brasil, Wittmann vê um “distanciamento dos princípios históricos brasileiros, de afastar o uso militar da energia nuclear”. Ele enxerga “uma contradição por parte de um governo que diz querer fortalecer o multilateralismo, mas que adota uma postura nacionalista, de aumentar o próprio gasto militar”, como pediu ­Múcio em sua visita ao Congresso.


Quando falam em aumento de gastos, em todo caso, políticos e militares brasileiros mencionam sempre investimentos em tecnologia de ponta, como os caças Gripen comprados da Suécia e os submarinos com propulsão nuclear, construídos em parceria com a França, mas a verdade é que 78% do total é consumido com pessoal. Nos EUA, esse porcentual­ é de apenas 22%. Entre salários da ativa e pensões, o País gastou 77,4 bilhões de reais em 2024 com as Forças Armadas. •

CARTA CAPITAL 


O aumento das tensões leva à explosão do gasto militar mundial e estimula o discurso belicista até no Brasil

POR JOÃO PAULO CHARLEAUX... 


October 15, 2025

Elsa Lanchester

 
MARIO BAGG 

 

Super-ricos de estimação

 

Super-ricos de estimação

 

 O professor australiano Carl Rhodes examina o mito do “bom bilionário” e o processo de legitimação das fortunas


Por Leonardo Moura 

A consciência pública sobre a concentração extrema de renda nas mãos de bilionários ainda é emergente, mas nunca esteve tão em evidência nos debates. Uma das vozes mais relevantes e provocadoras nesse campo é a do professor Carl ­Rhodes, da University of Technology Sydney, na Austrália.
Professor titular de Negócios e Sociedade, Rhodes tem se destacado por questionar as formas como o capitalismo contemporâneo mina os princípios da democracia liberal. Em defesa de uma prosperidade compartilhada e do entendimento sobre o papel das políticas públicas, ele propõe uma reformulação profunda do papel das empresas na sociedade.
Em seu livro mais recente, Stinking ­Rich: The Four Myths of the Good ­Billionaire (Podre de Rico: Os Quatro Mitos do Bom Bilionário), publicado pela Bristol University Press, Rhodes examina criticamente os caminhos usados para se legitimar a fortuna e o prestígio dos chamados “bons bilionários”.
Ele os divide em quatro arquétipos: o vigilante, que afirma proteger o mundo por meio de sua riqueza; o meritocrático, que atribui o sucesso exclusivamente ao esforço individual; o heroico, que se apresenta como visionário que transforma o sistema; e o generoso, que busca reconhecimento moral por meio da filantropia.
Autor de vários livros e articulista de opinião de veículos como The Guardian e ABC News, Rhodes possui mais de 11,6 mil citações de acordo com o Google ­Scholar, reflexo da influência de sua obra nos campos da ética empresarial, teoria organizacional e crítica ao poder corporativo.
Antes de dedicar-se à trajetória acadêmica, ela trabalhou em cargos de liderança em empresas como Citibank, Boston­ Consulting Group e AGL. 

 “Antes, escondia-se a riqueza por medo de revoluções, de reações populares. Hoje, ostenta-se”

 
CartaCapital: O que o motivou a escrever Stinking Rich?
Carl Rhodes: Foi uma coincidência que o livro tenha saído no mesmo ano da reeleição do Trump. Na verdade, terminei de escrevê-lo em meados de 2024. A questão dos bilionários – o aumento tanto no número deles quanto em sua visibilidade – me pareceu urgente, porque ela reflete o aumento da desigualdade dentro dos países, entre países, e até entre gerações. A pergunta que me guiou foi: como eles conseguem escapar impunes? Antes, escondia-se a riqueza por medo de revoluções, de reações populares. Hoje, ostenta-se. Veja o caso de Jeff Bezos (fundador da Amazon), casando-se ostensivamente em Veneza. Eles se tornaram ícones culturais, muitas vezes vistos como figuras morais ou benevolentes. O livro tenta desmontar esse mito e questionar como as democracias liberais permitem que uma desigualdade extrema se disfarce de excelência.
 
CC: Você acredita que o governo Trump ajudou a expor a moralidade que envolve os bilionários? Especialmente considerando que muitos empresários de tecnologia passaram a demonstrar, sem constrangimento, que agem guiados por interesses privados, mesmo quando influenciam políticas públicas?
CR: Sim, esse é um ponto de inflexão importante. As democracias liberais convivem com uma tensão constante entre o capitalismo e os ideais democráticos. Mas hoje é cada vez mais evidente que a economia serve aos interesses de poucos. Governos, universidades e instituições públicas que representam a sociedade estão sendo marginalizados. As corporações existem por força da lei e da sociedade, mas se comportam como uma espécie de Frankenstein, adaptando-se aos tempos. Bilionários mudam de lado político conforme lhes convém. Elon Musk, por exemplo, passou de democrata a republicano. O próprio Trump já apoiou os democratas. A ideologia central deles é o individualismo, o interesse próprio.

CC: Esse individualismo ressoa na classe média, que parece esquecer que não é pobre nem bilionária, mas acaba por legitimar a cultura dos bilionários?
CR: É uma boa observação. A classe média, sobretudo em tempos neoliberais, substituiu a solidariedade pelo individualismo. A classe média baixa está desaparecendo rapidamente, e o populismo de Trump alimentou-se dessa exclusão. A classe média profissional, aquela com diploma de nível superior e acesso a postos de trabalho avançados, ainda se sente segura, mas é uma ilusão. O “sonho americano” prometia sucesso para todos. Hoje, só uma minoria alcança isso. Tornou-se um sonho vazio. Mesmo assim, muitos acreditam estar do lado certo da desigualdade, validando sistemas que os excluem.
 
CC: Em seu livro anterior, Woke ­Capitalism, o senhor explorou como as corporações privadas se apropriaram de movimentos progressistas e pautas políticas… Como vê a relação entre ­wokeísmo, privatismo e cultura dos bilionários?
CR: Acho que estamos entrando na era pós-woke. Mas, no auge do wokeísmo, as empresas se apropriaram de movimentos de base, como Occupy Wall Street, Black Lives Matter e Me Too para promover suas­ marcas. Só que esses movimentos foram esvaziados de conteúdo econômico: direitos trabalhistas, salários, distribuição de renda. O wokeísmo virou estratégia corporativa. Agora que o clima político mudou, muitas dessas empresas, como a Meta, abandonaram essas causas. O que sobra é o velho interesse próprio.
 
CC: O que pensa sobre os entusiastas da singularidade e a cultura tech que defende deixar a Inteligência Artificial “crescer livremente”, como uma criança?
CR: Há muito exagero e fantasia nessa visão típica de uma cultura “tech bro”. Mas o que mais me preocupa é o pano de fundo cultural: um revival autoritário, marcado por um certo tipo de masculinidade. Não se trata apenas de tecnologia, mas da visão de mundo por trás dela. Vemos isso em figuras como Andrew Tate (influenciador digital conhecido pela retórica misógina e ostentação agressiva de uma masculinidade tóxica), Jordan ­Peterson (psicólogo canadense que se tornou referência para movimentos conservadores com sua crítica às políticas identitárias) e outros. É uma onda reacionária, ligada ao autoritarismo político.

 “A pergunta que me guiou foi: como eles conseguem passar impunes”, diz o pesquisador
 
CC: Isso se conecta com outro tema: o anti-intelectualismo. No Brasil, as humanidades são frequentemente desvalorizadas em relação às ciências exatas. Como o senhor vê seu próprio trabalho nesse ambiente, especialmente como professor em uma universidade tecnológica?
CR: É difícil. Enfrentamos o mesmo anti-intelectualismo aqui na Austrália. Meus primeiros livros eram muito acadêmicos, ninguém lia. Agora tento escrever para um público mais amplo, participar do debate público. As humanidades conseguem analisar cultura e sociedade de formas que nenhum algoritmo é capaz. Precisamos fazer mais, não menos. Recentemente, uma grande universidade daqui propôs acabar com os departamentos de Sociologia e Política. Isso é alarmante, mas torna o nosso trabalho ainda mais urgente. Precisamos afirmar o valor das nossas disciplinas e nos manter engajados publicamente, com mídia, podcasts, palestras, livros.
 
CC: Sermos vozes públicas nos ajuda a posicionar as humanidades num mundo que quer se tornar “silicon tudo”?
CR: Sem dúvida. Precisamos fazer parte da vida e da educação públicas. Nenhum de nós vai mudar o mundo sozinho, mas cada um pode contribuir para um debate democrático mais amplo. Mesmo que o nosso impacto pareça pequeno, ele importa. Esperança não é acreditar que as coisas vão melhorar: é desejar que melhorem.
 
CC: Algumas pessoas dizem que estamos vivendo o pior momento da história da humanidade. O senhor concorda?
CR: Não necessariamente. Houve muitos períodos sombrios. Recentemente li ­Radical Hope, do Jonathan Lear, uma reflexão filosófica sobre o chefe Plenty Coups da Nação Crow, durante a destruição da cultura indígena pelos brancos nos EUA. Apesar de tudo, ele manteve a esperança. Lear chama isso de “esperança radical”: aceitar a realidade e, mesmo assim, sustentar valores e virtudes voltados ao futuro. É assim que tento pensar. •
CARTA CAPITAL  



O professor australiano Carl Rhodes examina o mito do “bom bilionário” e o processo de legitimação das fortunas


Por Leonardo Moura  

 

PAZ SEM VOZ

 

 

Paz sem voz

Os palestinos serão privados de suas escolhas, mas os negócios têm tudo para prosperar


Por Arturo Hartmann e Sergio Lirio ...

 
Exatos dois anos depois do ignominioso atentado do Hamas que deixou um rastro de 1,2 mil judeus mortos e foi o estopim para uma vingança selvagem de Israel, elevada ao patamar de genocídio, conforme as conclusões recentes dos especialistas a serviço das Nações Unidas, um cessar-fogo na Faixa de Gaza foi anunciado na noite da quarta-feira 8 pelo presidente dos Estados Unidos, ­Donald Trump, principal fiador das negociações. Embora os termos do acordo de longo prazo apresentado pelo republicano favoreçam, sem nenhum pudor, o aliado Benjamin Netanyahu e continuem absolutamente vagos, as circunstâncias dificultaram qualquer tentativa de sabotagem das partes envolvidas. Diante do cenário de terra arrasada, da morte de quase 70 mil palestinos, segundo cálculos subestimados, e do desespero cotidiano dos sobreviventes submetidos ao racionamento de água, comida e remédios, confinados em um campo de concentração a céu aberto, o Hamas se viu em um beco sem saída. Netanyahu e a ala de extrema-direita que o apoia, por sua vez, estavam sob pressão crescente de aliados ocidentais, cada vez mais incomodados com os crimes de guerra em curso no enclave, e dos próprios eleitores, ansiosos pela volta dos reféns.

As negociações no balneário de Sharm el-Sheikh, no Egito, duraram dois dias. A chegada de Steve Witkoff, enviado da Casa Branca para Oriente Médio, Jared ­Kushner, genro do presidente e um dos elaboradores do plano, e Ron Dermer, principal conselheiro de Netanyahu, na quarta-feira 8 foi o prenúncio de um desfecho iminente e positivo das conversas. Na noite do mesmo dia, Trump anunciou os termos iniciais do acordo. O Hamas se compromete a libertar 20 reféns ainda vivos na primeira fase, em troca de 2 mil prisioneiros palestinos em poder de ­Israel, 250 dos quais condenados à prisão perpétua, e 1,7 mil detidos durante a invasão ao enclave. As ruas de várias cidades israelenses e em Gaza foram tomadas por celebrações. “Não sou o único feliz, toda a faixa está feliz, todo o povo árabe, todo mundo está feliz com o cessar-fogo e o fim do derramamento de sangue”, afirmou à agência de notícias Reuters ­Abdul Majeed­ Abd Rabbo, morador de Khan Younis, uma das localidades palestinas mais arrasadas pelos ataques israelitas. Tel-Aviv também concordou em iniciar a retirada das tropas e a permitir a entrada de ajuda humanitária. Quando? Depende da aprovação dos demais integrantes do governo. “Ao contrário dos relatos da mídia árabe, a contagem regressiva de 72 horas começará somente após o acordo ser aprovado na reunião de gabinete”, afirmou Netanyahu, em uma tentativa de demonstrar algum controle da situação.


Trata-se de um começo alvissareiro para um cessar-fogo de longo prazo, após sucessivos fracassos, mas o problema continua a ser o meio e o fim do acordo. Para Shawan Jabarin, diretor da Al-Haq, organização palestina de direitos humanos, o problema central do que ele chama de “ultimato de Trump aos palestinos” é que ele “condiciona a suspensão dos contínuos­ ataques genocidas de Israel e o extermínio em massa dos palestinos em Gaza a um conjunto de termos unilaterais ditados pelos Estados Unidos”. De fato, na ocasião do anúncio do plano, feito ao lado de Netanyahu após uma reunião na Casa Branca, o presidente norte-americano afirmou que, caso o grupo palestino não aceitasse o acordo, Israel teria “total apoio para acabar com o trabalho de destruir a ameaça”. Condicionar a entrada de ajuda humanitária à aceitação dos termos, prossegue Jabarin, é um prêmio à ilegalidade sem limites cometida por Israel. O ativista refere-se aos itens 7 e 8 do documento de 20 pontos, segundo os quais a entrada imediata de ajuda humanitária será coordenada por agências internacionais logo após a assinatura do acordo.

A questão mais controversa da proposta continua a ser o mapa da retirada do exército israelense, que atualmente controla 82% de Gaza, sob zonas militares e ordens de evacuação. No item 16 do documento, a saída é subordinada a “marcos ligados à desmilitarização” dos grupos palestinos, definidos em conjunto por Israel, a Força Internacional de Segurança que vier a ser formada e os países garantidores do acordo. Khalil al-Hayya, representante do Hamas­ no Egito e um dos sobreviventes do ataque israelense a um prédio em Doha, no mês passado, afirma que o grupo mantém a exigência de retirada completa dos soldados judeus, o que incluiria a zona do perímetro, uma faixa na fronteira de Gaza criada por Israel, e do Corredor Philadelphi, na divisa com o Egito. Seja para agradar ao público extremista interno, seja para complicar as negociações, Netanyahu tem declarado estar fora de cogitação a retirada total das Forças Armadas do território.

De acordo com a rede de tevê Al ­Jazeera, baseada em informações de oficiais do ­Hamas, os debates principais na terça-feira 7 giraram em torno da libertação dos reféns israelenses ainda em poder do grupo e a retirada do exército israelense. O Hamas tenta vincular a devolução de reféns às etapas de desmilitarização do território. Dessa maneira, o último sequestrado seria devolvido quando o último soldado deixasse o enclave. Isso pode ser um problema, pois o item 4 do plano determina que “dentro de 72 horas depois de Israel publicamente aceitar o acordo, todos os reféns, vivos e mortos, serão devolvidos”. Não só. Trump deseja criar um momento épico de libertação de todos os reféns, uma fotografia para projetar a imagem de líder “pacifista” e reforçar sua campanha particular – e obsessiva – pelo Prêmio Nobel da Paz. Dará tempo? O vencedor ou os vencedores da premiação seriam anunciados na sexta-feira 10, depois do fechamento desta edição.



O cronograma de retirada das tropas era um impasse esperado nas discussões, principalmente depois da revelação de que o item 16 do plano havia sido ajustado por imposição de Netanyahu, uma alteração feita sem o conhecimento das lideranças árabes que tinham concordado em apoiar os termos anteriores apresentados pelo presidente dos EUA durante uma reunião privada na Assembleia-Geral da ONU. A mudança deu a Tel-Aviv o poder de se negar, de forma unilateral, a desmilitarizar o território caso constate, segundo seus critérios, que as ameaças não tenham cessado.

Se olhassem para o passado, os negociadores de agora perceberiam que a estratégia de dar vantagem a um dos lados, em geral a Israel, foi testada e fracassou. Em 1993, no famoso Acordo de Oslo, prevaleceu a fórmula “terra por paz”, ou seja, os israelenses retirariam exército e colonos gradualmente dos territórios ocupados à medida que os palestinos garantissem a segurança aos israelenses. Em outras palavras, feito o desmonte de qualquer tipo de resistência às arbitrariedades de Tel-Aviv. Deu-se o contrário. Com o enfraquecimento dos “inimigos”, Israel­ ampliou a ocupação e transformou em permanente o que era temporário. Ainda assim, os mediadores árabes e islâmicos, ­Catar, Egito e Turquia, insistiram para o Hamas aceitar o plano. Os líderes desses países teriam dito ao grupo tratar-se da última chance de um acordo. “Você não pode rejeitar um acordo com Trump, não importa o quanto esteja insatisfeito com alguns de seus termos”, resumiu, de forma anônima, um dos negociadores.

O Acordo de Oslo é ilustrativo da prevalência da retórica sobre a realidade. O tratado assinado na capital da Noruega foi recebido com entusiasmo semelhante ao plano de Trump. As três figuras centrais das negociações, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense, Shimon Peres, chanceler do país, e Yasser Arafat, presidente da Organização para a Libertação da Palestina, foram agraciados com o Nobel da Paz (talvez esse fato explique a obsessão do atual presidente dos EUA). A paz, de fato, nunca saiu do papel. Em 2001, a respeito do acordo, o longevo Netanyahu, responsável agora por cumprir o novo acerto, declarou: “Perguntaram-me antes da eleição se eu honraria… Eu disse que sim, mas que interpretaria os acordos de tal forma que me permitisse pôr fim a esse galope em direção às fronteiras de 1967. Como fizemos isso? Ninguém disse o que eram zonas militares definidas. Zonas militares definidas são zonas de segurança. No que me diz respeito, todo o Vale do Jordão é uma zona militar definida”.

    Jared Kushner, genro de Trump, é crucial no plano de reconstrução de Gaza, que vai movimentar bilhões de dólares


O sinal verde dado pelos países árabes e pela Turquia foram, de qualquer maneira, um trunfo do presidente dos Estados Unidos. “Eu falei com o presidente Erdogan­, ele é fantástico”, afirmou o republicano, sem perder a paixão por superlativos. “Ele está forçando bastante, ele é um cara poderoso. O Hamas tem muito respeito por ele. Eles têm muito respeito pelo Catar, pelos Emirados Árabes e pela Arábia ­Saudita”. O grupo palestino parece, no entanto, ter captado o espírito do plano norte-americano. Em entrevista ao Drop Site News, uma liderança do Hamas resumiu: “Essa proposta não foi apresentada para encontrar um fim para a guerra. Ou é a rendição total ou a continuação da guerra. É pegar ou largar”. A direção considera os termos “catastróficos, no curto e longo prazo, para a resistência e para toda a causa palestina”, mas sabe que a tragédia humanitária erodiu o apoio popular interno e o poder de influência nas conversas diplomáticas. Restavam duas alternativas: ou a entrega das armas ou assistir ao extermínio do que resta de palestinos em Gaza.

Apesar do horizonte político pouco promissor para a população local, o plano de Trump contraria em certa medida os radicais de direita de Israel, entre eles ­Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, cujo intuito era ocupar o enclave de forma definitiva depois de concluída a limpeza étnica. Trump estava inclinado a apoiar essa ideia, mas acabou convencido do contrário em uma reunião, no fim de agosto, da qual participaram Kushner, Witkoff e Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico cotado para liderar a administração tecnocrática de reconstrução de Gaza. O trio convenceu o presidente dos EUA de que a expulsão em massa de palestinos “não era necessária nem sábia”. E sugeriram ao republicano investir nas relações com os demais países do Oriente Médio em busca de uma solução para o conflito. O ataque israelense a um prédio em Doha em 9 de setembro, em uma caçada a lideranças do Hamas, criticada pela Casa Branca, afastou um pouco mais Trump de Netanyahu. Como resposta, a Casa Branca ofereceu um mimo aos cataris, por meio da ordem executiva “Assegurando a Segurança do Estado do Catar”, que inclui ação militar para proteger a integridade territorial do país no caso de ataque estrangeiro.



Não menos importante, há o fator Kushner na dinâmica do esforço diplomático. O genro de Trump esteve ligado à formulação, ao lado de Blair, do “Fundo de Reconstituição, Aceleração Econômica e Transformação de Gaza (GREAT, na sigla em inglês), que circulou entre políticos no primeiro semestre do ano. Em linhas gerais, o GREAT (acrônimo típico da grandilo­quência trumpiana) apontava os “benefícios estratégicos” para os EUA da tomada de Gaza: “Ganhos massivos de dólares, acelerar o IMEC (Corredor Índia–Oriente Médio–Europa, rota dos EUA para competir com a China), solidificar a arquitetura regional abraâmica (normalização da relação de países árabes com Israel), fortalecer o punho sobre o Mediterrâneo oriental e assegurar à indústria dos EUA o acesso a 1,3 bilhão de dólares em terras-raras do Golfo”. Kushner mantém fortes ligações com o fundo público de investimento do governo da Arábia Saudita. No mesmo dia do anúncio do “plano de paz”, ele divulgou a compra da Electronic Arts, empresa desenvolvedora de videogames, por 55 bilhões de dólares, por meio de sua companhia, a Affinity Partners, em sociedade com o fundo Silver Lake e o FPS. A vida dupla de investidor e diplomata tem rendido acusações de conflito de interesse ao genro de Trump. O senador democrata Ron Wyden, de acordo com o Le Monde, já perguntou a Kushner sobre o recebimento de polpudos depósitos do fundo saudita.

Além dos interesses familiares e da obsessão pelo Nobel da Paz, interferir no conflito entre Israel e a Palestina ecoa a estratégia de Trump condensada no chamado “Projeto 2025”, que norteou sua campanha presidencial. O capítulo “Departamento de Estado”, de autoria de Kiron Skinner, integrante dos Institutos Hover e Heritage, centros do pensamento reacionário, e ex-diretora de Planejamento de Políticas no primeiro governo do magnata, afirma que, em um escopo maior, “os EUA devem impedir o Irã de adquirir tecnologia nuclear e capacidade de lançamento (da bomba), e, mais amplamente, bloquear as ambições iranianas”. Entre as sugestões, além da reinstituição das sanções, estão “prover assistência de segurança para parceiros regionais” e “assegurar que Israel tenha tanto os meios militares quanto o apoio político e a flexibilidade para tomar as medidas que acreditar necessárias para se defender do regime iraniano e de seus proxies regionais, como Hamas, Hezbollah e a Jihad Islâmica Palestina”. A sugestão de Skinner tornou-se uma profecia autorrealizada, pois a pressão de Trump sobre o Irã chegou ao ponto de um ataque coordenado com Israel, incluindo a tentativa de decapitar a liderança militar e destruir usinas nucleares. Outro elemento estratégico para os EUA, e Israel, é retomar os Acordos de Abrãao, interrompidos em outubro de 2023, mas que poderiam ser reavivados a partir do consenso regional formado em caso de um eventual sucesso do plano de cessar-fogo.

    Mesmo entre os judeus dos EUA o apoio a Israel é declinante

O isolamento crescente de Netanyahu facilitou as negociações. Até mesmo a Casa Branca, parceira incondicional, demonstrou algum grau de irritação. No domingo 5, antes do início das negociações e por conta de uma certa ambivalência do primeiro-ministro israelense, o presidente dos Estados Unidos passou uma carraspana no aliado, segundo relatos do site Axios. “Eu não sei por que você é sempre tão (­fucking) negativo… Isto é uma vitória.” Completados dois anos de um massacre que, até o momento, de acordo com dados do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, matou 66.148 palestinos (total que pode crescer quando corpos forem retirados dos escombros), entre eles 18.430 crianças, destruiu 92% das casas e submeteu os sobreviventes a altos níveis de insegurança alimentar, a imagem de Israel no mundo só tem piorado. Pesquisa recente do Instituto Pew Research mostra que 39% dos norte-americanos acreditam que os israelenses “foram longe demais”. No fim de 2023, a porcentagem era de 27%. Já o número daqueles com “opinião desfavorável do governo” de Tel-Aviv subiu de 51%, no começo de 2024, para 59%. Entre os judeus norte-americanos, 61% dizem que Israel cometeu crimes de guerra contra os palestinos. E quatro em cada dez dizem que o ­país comete genocídio contra os palestinos.

A truculência com os integrantes da flotilha humanitária que rumava a ­Gaza isolou ainda mais o país. A tomada dos barcos por soldados israelenses e os relatos de maus-tratos a quem estava armado de comida, água e cobertores desencadearam protestos massivos ao redor do mundo. Em Roma, 250 mil italianos ocuparam as ruas por quatro dias, além de fechar portos e estações de trem. Sindicatos decretaram greves sob o lema “Bloquearemos tudo até que Gaza esteja livre”. Em Amsterdã, número semelhante nundou o centro da capital holandesa no domingo 5. Em Barcelona, cerca de 70 mil catalães clamaram pelo “boicote a Israel” e pelo “fim do bloqueio”. As tropas israelenses fizeram ouvidos moucos. Enquanto as reuniões no Egito buscavam um consenso, mais de 70 palestinos foram mortos entre a segunda-feira 6 e a quarta 8. Bombardeios foram registrados na quinta 9, antes de o gabinete de ­Netanyahu se reunir para dar aval ao cessar-fogo. •

CARTA CAPITAL  

 

October 12, 2025

The Whole World Has Soured on Climate Politics.

 

 

 Ten years ago this fall, scientists and diplomats from 195 countries gathered in Le Bourget, just north of Paris, and hammered out a plan to save the world. They called it, blandly, the Paris Agreement, but it was obviously a climate-politics landmark: a nearly universal global pledge to stave off catastrophic temperature rise and secure a more livable future for all. Barack Obama, applauding the agreement as president, declared that Paris represented “the best chance we have to save the one planet we’ve got.”

Paris wasn’t just a brief flare of climate optimism. To many, it looked like the promise of a whole new era, not just for the climate but also for our shared political future on this earth. Back then, the United Nations secretary general, Ban Ki-moon, liked to talk about how sustainability would be for this century what human rights was for the previous one — the basis for a new moral and political order. His successor, António Guterres, turned out to be an even more emphatic climate advocate, treating the Paris Agreement as though its significance approached, if not exceeded, that of the U.N. charter itself.

By design, the treaty wasn’t a one-shot solution, just a first step. Other steps, it was broadly assumed, would follow — toward faster climate action, yes, but also toward greater global cooperation, mutual obligation and solidarity. High off the success of its Millennium Development Goals, the U.N. had just released its far more ambitious Sustainable Development Goals, which brought the rich nations of the world into its lasso of responsibility. Diplomats talked optimistically about an emergent partnership they called the G2, with the United States and China cooperating on the world’s biggest challenges, as they had in Paris.

A decade later, we are living in a very different world. At last year’s U.N. Climate Change Conference (COP29), the president of the host country, Azerbaijan’s Ilham Aliyev, praised oil and gas as “gifts from God,” and though the annual conferences since Paris were often high-profile, star-studded affairs, this time there were few world leaders to be found. Joseph R. Biden, then still president, didn’t show. Neither did Vice President Kamala Harris or President Xi Jinping of China or President Ursula von der Leyen of the European Commission. Neither did President Emmanuel Macron of France, often seen as the literal face of Western liberalism, or President Luiz Inácio Lula da Silva of Brazil, often seen as the face of an emergent movement of solidarity across the poor and middle-income world. In the run-up to the conference, an official U.N. report declared that no climate progress at all had been made over the previous year, and several of the most prominent architects of the whole diplomatic process that led to Paris published an open letter declaring the agreement’s architecture out of date and in need of major reforms.

This year’s conference, which takes place in Brazil this November, is meant to be more significant: COP30 marks 10 years since Paris, and all 195 parties to the 2015 agreement are supposed to arrive with updated decarbonization plans, called Nationally Determined Contributions, or N.D.C.s. But when one formal deadline passed this past February, only 15 countries — just 8 percent — had completed the assignment. Months later, more plans have trickled in, but arguably only one is actually compatible with the goals of the Paris Agreement, the climate scientist Piers Forster recently calculated, and more than half of them represent backsliding.

The most conspicuous retreat, of course, has been the United States under President Trump, who first announced his intention to withdraw from Paris way back in 2017 with a ceremony in the Rose Garden. Trump has celebrated his return to office by utterly dismantling his predecessor’s signature climate bill, the Inflation Reduction Act, and vowing to stop all approvals for new renewable projects (not to mention paving over that same garden). But this is not just a story about Trump. When Paris was forged, the United States was a trivial exporter of natural gas, and it was still illegal to ship American oil abroad. Even before Trump’s second inauguration, the country had become the world’s largest producer and exporter of refined oil and liquid natural gas.

And neither is it a story particular to America. The retreat from climate politics has been widespread, even in the midst of a global green-energy boom. From 2019 to 2021, governments around the world added more than 300 climate-adaptation and mitigation policies each year, according to the energy analyst Nat Bullard. In 2023, the number dropped under 200. In 2024, it was only 50 or so. In many places — like in South America and in Europe — existing laws have already been weakened or are under pressure from shifting political coalitions now pushing to undermine them.

To our north, the former central banker Mark Carney — whose 2015 warnings about the financial risks from climate change helped set the stage for Paris by alarming the world’s banking elite — became prime minister of Canada in March and as his very first act in office struck down the country’s carbon tax, before storming to a landslide victory in the April election. To our south, President Claudia Sheinbaum of Mexico, a former climate scientist, has invoked the principle of “energy sovereignty” and boasted of booming oil and gas production in her country — and enjoys one of the highest approval ratings of any elected leader anywhere in the world. Almost everywhere you look, the spike of climate alarm that followed Paris has given way to something its supporters might describe as climate moderation but which critics would call complacency or indifference. “You can’t walk more than two feet at any global conference today without ‘pragmatism’ and ‘realism’ being thrown around as the order of the day,” says Jason Bordoff, a former Obama energy adviser who now runs Columbia University’s Center on Global Energy Policy. “But it’s not clear to me that anyone knows what those words mean other than this whole climate thing is just too hard.”

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Credit...Photo illustration by Lola Dupre

The world hasn’t actually abandoned green energy, with global renewable rollout still accelerating and investment doubling over the last five years. But climate politics is in undeniable withdrawal, and far from ushering in a new era of cooperative global solidarity, Paris has given way to something much more old-fashioned: an atavistic age of competition, renewed rivalry and the increasingly naked logic of national self-interest, on energy and warming as with everything else. In the wake of America’s presidential election, Alex Trembath of the Breakthrough Institute declared that “the era of the climate hawk is over.” Perhaps, at least for now, the age of climate statesmen, too.

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It was in the heady aftermath of Paris that I first began writing about warming. In retrospect, it was a strange time to come of age, climate-wise.

By any simple measure, the treaty looked like a breakthrough — in a representative tribute, The Guardian called it “the world’s greatest diplomatic success.” But frustrated advocates were still filled with rage, sure that not enough was being done and armed with the scientific reports to prove it. Remarkably, the world’s leadership class mostly embraced the critique, inviting activists on stage at Davos and the U.N. General Assembly in performances of collective self-laceration designed, it seemed, to inspire yet more climate concern. What is perversely striking today is that those years do not look now like a low point for political commitment to climate action but the opposite — at least when it comes to rhetoric, which is, of course, free.

At the time, trying to raise concern about warming, I found myself again and again in conversation with world leaders of one kind or another — presidents and prime ministers, treasury secretaries and environmental ministers and climate diplomats, among others. Most were a bit less alarmed than I was and a bit more mindful of the obstacles to a rapid transition. But in those conversations and in public speeches and commentary, their concern was nevertheless palpable. In fact, they were often proud to showcase it as a totem of good faith, and to invoke the ambitious Paris goal of limiting warming to 1.5 degrees — which many scientists had already concluded was a lost cause — as a necessary objective.

It helped that climate activism in the aftermath of Paris — Fridays for Future and the climate strikers, Extinction Rebellion and Sunrise — looked like a generational uprising, made more intense, of course, by the new powers of social media. Even those in power who weren’t moved felt they had to respond, and high-profile scientific reports gave them extremely short timelines on which to do so.

In describing their own awakenings, many leaders would also invoke private conversations they’d had on the subject with their children and grandchildren, who invariably faulted them for not moving faster, as relatives of corporate leaders did too. In a sense, the crisis seemed to offer a kind of redemptive opportunity to the whole technocratic liberal elite, whose social status and moral claim on leadership had somewhat crumbled since the financial crisis. The United States hadn’t yet been rocked by the election of Donald Trump, nor Britain by Brexit, or the rest of the rich world by the wave of populist backlash that Brexit foreshadowed. But with the global war on terror long since dissipated into tragic farce and a new Cold War not yet well crystallized in the public imagination, the American-led global order seemed to be missing some sense of purpose, too. Here came the existential project of climate action to fill that semi-spiritual void, at least for some of those who felt it.

Polls show that voters don’t actually prioritize decarbonization and, crucially, aren’t willing to pay much to bring it about.

The material context mattered, too. Borrowing money had been cheap — indeed close to free — for almost a decade since the 2008 housing crash, and though Western countries generally embraced austerity in its immediate aftermath, many were beginning to think that might have been an economically damaging mistake. Looking around for places to invest, a green transition seemed like one obvious choice, which is why anyone trying to blue-sky a brighter economic future for Europe invariably proposed huge increases in clean-energy investment and why American progressives conceived their ideal form of climate action at the scale and scope of Franklin Roosevelt’s New Deal. The rapidly declining cost of green energy meant it all penciled out a bit better, to boot.

There were also moralistic, or quasi-moralistic, elements. In the years following Paris came more and more talk of climate justice, the ways that rich countries were choking the futures of the poor with carbon and temperature rise. This was just one of many similar reckonings with systemic social inequities in those years, and a green transition may have looked to world leaders like a more appealing and forward-focused way of expiating white guilt than, say, portioning out reparations for centuries of slavery or colonialism. Indeed, politicians and their appointees routinely dismissed calls to even discuss climate reparations, preferring to promise trillions of dollars in profit-seeking energy investment in the global South. (Reader, they did not come.)

Outside the corridors of influence, rapid warming looked to some like comeuppance for cultural decadence and consumerist excess, with climate attaining sometimes apocalyptic features of a theological morality play. Those frustrated that so few financiers had been legally held to account for the financial crisis could regard fossil-fuel companies as a new set of villains, even if most policymakers were more inclined to make a positive-sum case for climate action than rail against the energy companies that still provided the vast bulk of the world’s power. And as some climate protesters called for fundamental political transformations in the name of fighting warming, world leaders seemed inclined to blunt that drive by directing it toward a more focused purpose — rapid decarbonization within the guardrails of an existing order.

You could see all this on display in 2021, in Glasgow, at the first climate conference held in the aftermath of the Covid-19 emergency. There, world leaders paraded past one another, ecstatically unmasked, to reaffirm in the most dramatic terms that, even as the world was stumbling back onto its feet out of the pandemic shadows, climate change was still the paramount crisis of the day.

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Credit...Photo illustration by Lola Dupre

In fact, at least briefly, the experience of the pandemic seemed to give the urgency of climate action an additional existential cast. John Kerry called the conference “the last best hope for the world,” and Prince Charles — now king of Britain — described it as “literally the last-chance saloon.” In his opening remarks, Boris Johnson, then the British prime minister — a conservative, of course, who surfed into office on the nativist tide of Brexit — warned, “It’s one minute to midnight on that Doomsday Clock, and we need to act now.” In a rare and celebrated return to the global stage, Barack Obama warned that, despite meaningful progress, the world was still “nowhere near where we need to be.” Since leaving office, Obama has presented himself primarily as a long-view meliorist, but at Glasgow he tried to sound more like the rabble-rousing community organizer of legend. “To all the young people out there — as well as those of you who consider yourselves young at heart — I want you to stay angry,” he advised from the stage. “I want you to stay frustrated. But channel that anger. Harness that frustration. Keep pushing harder and harder for more and more, because that is what is required.”

What changed? In short, everything but the science, which continued to generate grim warnings about the speed and consequences of temperature rise even as the fever of climate panic appeared to subside.

In its place, at first, we got the pandemic, which not only canceled climate conferences and interrupted the green-energy rollout but also seemed eventually to undermine the spirit of global solidarity that lay beneath the broader project. Climate protest almost disappeared, and when it returned a few years later, the numbers were much smaller, the reception much chillier. Climate activists were once venerated as moral authorities by heads of state and a broadly liberal mass media; now they are being given jail sentences stretching multiple years for the crime of merely planning protests that might block up commuter traffic or for throwing paint against plexiglass they knew would protect the artwork hung behind it — a victimless publicity stunt if ever there was one.

Amid the pandemic, a surge of inflation soon brought about a spike in interest rates and, with it, an end to the era in which world leaders felt like public spending was free. There were wars in Ukraine and Gaza, which exploded the fantasy that the world had passed into a more stable and peaceful state, and which, in the first case, produced the largest energy crisis since the 1970s — one that Europe managed in part by spending more on direct fossil-fuel subsidies than it did on green-energy investments.

In the years that followed Paris, you would often hear the phrase “World War II-style mobilization,” invoked to inspire climate action of the same scale and urgency. Instead, we have gotten a real re-militarization, with Europe responding to the war in Ukraine and the re-election of Donald Trump by promising to more than triple military spending — to 5 percent of gross domestic product, which happens to be close to what the I.E.A. once projected would be necessary for a global mobilization on climate.

But it wasn’t just the return of history that surprised climate advocates. The terrain of politics proved surprisingly bumpy, too. The Paris Agreement wasn’t a projection of a single worldview beamed out from Brussels or Davos — indeed, some of the most striking rhetoric it produced was from vulnerable nations that regarded the terms of agreement as a betrayal. But a few common threads of political presumption ran into it and out of it: that support for decarbonization would naturally grow over time, especially given an informed public; that a new era of intensifying climate extremes would amplify that trend, rather than flatten it; that large-scale green investment would produce palpable benefits to the public and that those benefits would reliably erode whatever public resistance to climate action remained, at least once the pernicious influence of the fossil-fuel business could be swept out of the public square.

Few advocates believed naïvely in the caricatured versions of those propositions, but even so, it was seductive to imagine a kind of flywheel effect unfolding, with faster action enabling still faster action through public enthusiasm for a new and transformative green industrial revolution. At least when it came to politics, the flywheel never got spinning. Globally, concern about warming is still rising, but only slowly — and while large majorities in many countries say they support faster decarbonization, other polls show that voters don’t actually prioritize decarbonization and, crucially, aren’t willing to pay much to bring it about.

Progressives long believed that climate politics was a kind of tug of war, in which tugging harder would pull many on the other side over the line into grudging support. To some degree, that is what happened after Paris, with advocates shifting the Overton window pretty dramatically and winning meaningful gains along the way.

But it also looks a bit as if they pulled so hard they collapsed in disarray. In the United States, the Inflation Reduction Act was hailed as an unprecedented investment in the country’s green-energy future. Today, just three years after passage, Biden’s signature legislative achievement has been stripped bare, and while the bill didn’t produce a large-scale backlash, as long feared, it also failed to inspire a broad political coalition to defend it.

And yet, there is good news — global leaders may be talking less about the risks of warming and the necessity of limiting it, these days, but on the ground, decarbonization is nevertheless racing ahead. “It’s not about climate politics anymore,” says Christiana Figueres, former head of the U.N.’s Framework Convention on Climate Change and one of the architects of Paris. “It’s about climate economy.”

It took almost 70 years from the invention of the solar cell, in 1954, for the world to install its first terawatt of solar power, in 2022. The second one came two years later. The third? Perhaps later this year. In 2024, renewables provided more than 40 percent of the world’s electricity, and twice as much money was invested in them than in fossil fuels — even though renewables offer, generally speaking, less return on investment. Ninety-three percent of new power worldwide came from clean sources, meaning that for every new unit of dirty capacity brought online in 2024, there were 24 units of the good, clean stuff. This is not yet enough to push global emissions downward. But in a battle between old energy and new, it represents an obliterating margin. As soon as next year, it is estimated, renewables will be the world’s largest source of electricity.

In certain ways, the story is one that moderates and skeptics long predicted: that decarbonization could not be reliably imposed from above on moralistic terms and would have to be powered instead by market forces, private investment and the informed consensus of a price-conscious public. These are familiar and somewhat simplistic neoliberal bromides, and if they now look prophetic, it is also a strange kind of prophecy: Global policymakers may be leaving climate increasingly to markets, but they are doing so even as in other realms they are embracing a new language of muscular state capacity and interventionist industrial policy.

Since the pandemic, the United States has wagered an awful lot of its economic future on A.I. — and although that requires an awful lot of new electricity, the new administration has not just kneecapped the Inflation Reduction Act but also undertaken a genuine war on renewables, which appear to most analysts to be the fastest and cheapest method of delivering all that power. As a result, even as U.S. solar power has grown 200 times over in 20 years, the country nevertheless looks increasingly like a petrostate — especially to outsiders, who have long viewed America’s commitment to climate goals with skepticism and may see some petrostate-like features in our political system as well (autocratic elements, more open corruption, dynasticism).

“If the U.S. isn’t there, I have a little more faith.”

And the other side of the great-power rivalry? China has made a different bet and is fast becoming what people in Silicon Valley, raised on science fiction, like to call the world’s first electrostate. A decade ago, those who saw themselves as energy realists would often argue that moving faster on decarbonization amounted to a self-imposed handicap that would benefit less scrupulous powers, like China. But the actual pattern of recent history has been the inverse: As the United States has moved more slowly on green tech, China has stormed ahead. In fact, if you had to name the single biggest development in climate geopolitics since Paris, it would be the startling rise of China as a green-energy superpower in the midst of what looked, at the outset of the period, like a global future still dominated by an indispensable United States.

Seventy-four percent of all global solar and wind projects are now being constructed in China or by Chinese companies, and in the 12-month period ending this June, China installed more solar power within its borders than America has ever brought online. So far this year, China has installed twice as much solar as the rest of the world put together, and the country’s command over the world’s green supply chain is now famous enough to be an energy-world cliché. Not just the world’s first electrostate, Princeton’s Jesse Jenkins wrote earlier this summer, China will be “the global clean tech hegemon,” whose ability to confer cheap clean energy has already become one unmistakably valuable source of soft power. Between 2019 and 2024, the country’s foreign investment in green manufacturing has grown more than 25-fold, and just since 2022, its green-tech industry has spent more abroad than the United States did on the Marshall Plan. As the former U.S. treasury secretary Lawrence Summers put it a few years ago, “There’s a growing acceptance of fragmentation, and — maybe even more troubling — I think there’s a growing sense that ours may not be the best fragment to be associated with.”

Consider Pakistan. When Russia invaded Ukraine in 2022, it threw the world’s energy markets into crisis, sending already-high prices soaring and redirecting fossil fuels headed to markets in the developing world instead to energy-starved Europe, where each shipment could fetch a still-higher price. In Pakistan as elsewhere in South Asia, the result was rolling blackouts and widespread political discontent. And then, something miraculous happened: Without any coordination or planning, millions of frustrated Pakistanis began buying and importing rooftop solar panels manufactured in China, which had grown so inexpensive that in some global markets they were cheaper to buy than the wood for a yard fence.

The result: Once a green-energy afterthought, Pakistan is now the sixth-largest solar market in the world, with recent solar additions equal to the entire country’s pre-existing electric grid, all thanks to what the Carnegie Endowment’s Noah Gordon and Daevan Mangalmurti called a “disorganized, bottom-up boom” and the entrepreneur Azeem Azhar and the researcher Nathan Warren called a “silent energy revolution.” It was silent enough the boom hadn’t even shown up in any official reports and had to be sleuthed out via satellite imagery by BloombergNEF’s solar analyst Jenny Chase. Now batteries are flooding in, too, with imports from China up eightfold to Pakistan since just 2023.

And it does not appear that Pakistan is exceptional, only early. According to estimates from the think tank Ember, several dozen countries may be ready to make the same jump, though presumably with more directed support from their governments. According to a forthcoming report by the Net Zero Industrial Policy Lab at Johns Hopkins, the number is 50 — or perhaps even higher, its co-director Tim Sahay told me. In many countries across sub-Saharan Africa, imports of Chinese solar panels have grown tenfold since 2023; in a few, they’ve grown more than a hundredfold. “For the first time in two centuries, the West is no longer the leader in future technology but the follower,” Sahay recently wrote, with Kate Mackenzie, in the online journal Polycrisis. The historian Adam Tooze has taken to suggesting that the entire history of global modernity should be rewritten with the rapid recent development of China as the core analytic prism and narrative center.

The shape of the green transition is being rewritten, too. If dirt-cheap green tech can enable developing nations to declare a kind of energy independence, they can extract themselves from exploitative relationships with petrostates and protect themselves from inflation and punishing debt. Just a few years ago, skeptics of decarbonization liked to point to the 600 million people worldwide who lack access to electricity or the billion-plus living in what’s called “energy poverty” to argue for the continued expansion of fossil fuels. But recently the hardheaded investor and policymaker Jigar Shah, who led the Department of Energy’s venture-capital-style Loans Programs Office under Biden, has started to predict that clean tech will bring an end to energy poverty globally within a decade. Perhaps the retreat of the United States needn’t represent a global setback, but simply a redrawing of the map for climate geopolitics. Maybe it’s even for the best. Figueres calls it a more “distributed” world, with Trump rendering the United States “irrelevant” on climate and most other countries pleasantly surprised at how little difference that really makes for them and their green-energy futures.

Probably, there is some wisdom in that view — America was never a purely beneficent actor on climate, having spiked several previous rounds of negotiations, and operating always enough out of self-interest that the poorest and most vulnerable countries were often left in distress at American indifference. “If the U.S. isn’t there,” the political scientist Geoff Mann told me, “I have a little more faith.”

But it’s hard for me to be quite so optimistic, and not only because warming is proceeding at a terrifying pace and the task of adapting to future risks is growing by the day. A decade ago, the scale of that challenge alarmed me, but I also took the intuitive lessons of the crisis to be ones so elementary they could be mocked as naïve: that we are all in this together, billions of us living on one planet; that while our vulnerabilities varied they also revealed our shared humanity; and that the most humane response to a crisis facing us all would be one that pulled the world forward together to address the needs of those with the least.

Perhaps it was always foolish to believe the world might fulfill the headline dream of Paris, and keep warming close to 1.5 degrees, and perhaps the promises to do so were always empty, as the most informed always suspected. Perhaps a hands-off green transition can still deliver relatively rapid decarbonization — or at least steer us clear of catastrophic warming scenarios. But as the planet races past targets that terrified so many into action not so long ago, on its way toward two degrees and the jagged future on the other side, I would rather it didn’t seem to be abandoning that secondary aspiration, that beyond the logic of national self-interest we still actually owe one another something: a better, more just, more equitable future for all.

In March, the U.N. considered a resolution to establish an International Day of Hope and an International Day of Peaceful Coexistence. On both propositions, the United States voted “no.”


 THE NEW YORK TIMES 

 

October 11, 2025

Ouro verde

 

 


Com a letargia da Anvisa para regular o cultivo de cannabis, o Brasil desperdiça oportunidades em um mercado que movimenta 30 bilhões de dólares por ano no mundo


Por Mariana Serafini ... 

 Maior exportador de commodities agropecuárias do mundo, o Brasil tem potencial para se tornar também um dos principais produtores de cannabis medicinal e cânhamo industrial. O mercado global da maconha legalizada movimentou quase 30 bilhões de dólares no ano passado e pode alcançar 58 bilhões até 2028, segundo estimativa da BDSA, principal empresa de pesquisas do setor, com sede em ­Louisville, no Colorado. Enquanto os Estados Unidos concentram 56% das transações, a presença brasileira ainda é insignificante. Não por acaso: atrasado na regulamentação do cultivo da planta, o País vem desperdiçando oportunidades.

Em novembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça autorizou o cultivo de cannabis para fins terapêuticos e concedeu seis meses para que a União e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária ­(Anvisa) elaborassem uma norma permitindo a importação de sementes, o plantio, a fabricação de medicamentos e a comercialização dos produtos. Em junho passado, o prazo foi prorrogado até 30 de setembro. Agora, a Advocacia-Geral da União solicitou mais 180 dias para concluir o processo. O novo pedido prevê um cronograma com etapas a ser cumpridas nesse período, incluindo audiências públicas com a sociedade civil, análise e consolidação das contribuições recebidas, elaboração de documentos e da minuta do texto regulatório e, por fim, a publicação da norma propriamente dita.

Mesmo com as atuais restrições, 672 mil brasileiros fazem tratamentos com maconha medicinal – Imagem: Redes Sociais/Prefeitura de Volta Redonda/RJ

Apesar da demora, especialistas avaliam que a nova diretoria da Anvisa demonstra muita disposição para o diálogo. “Talvez seja até melhor assim, do que apresentar uma norma muito restritiva, que poderia excluir vários agentes importantes desse cenário”, afirma Maria ­Riscala, CEO da Kaya Mind, empresa de inteligência de mercado especializada em cannabis. A procura por medicamentos derivados da planta cresce de forma vertiginosa no País, mesmo diante das limitações impostas pela legislação. Em 2024, foram registrados 672 mil pacientes, aumento de 56% em relação ao ano anterior. “Em apenas quatro anos, podemos chegar a 6,9 milhões de pacientes, considerando apenas 26 patologias”, estima ­Riscala. “Nesse cenário, o faturamento anual pode superar 9,5 bilhões de reais.”

A projeção diz respeito apenas à cadeia produtiva da cannabis medicinal. Já o cânhamo – subespécie da maconha sem efeito psicoativo, que possui uma infinidade de aplicações industriais – pode movimentar 4,9 bilhões de reais a partir do quarto ano de uma regulamentação ampla, segundo estimativa da Kaya Mind. O debate sobre a liberação do uso recreativo da maconha ainda engatinha no País, mas poderia ganhar tração, pois representa um mercado ainda mais promissor: se fosse regulamentado, poderia gerar 12 bilhões de reais por ano. Somados, os três segmentos têm capacidade de criar até 328 mil postos de trabalho em cinco anos.

Atualmente, o acesso aos medicamentos de cannabis no Brasil ocorre por três vias. Quase metade dos pacientes (47%) recorre à importação direta; 31% compram o produto em farmácias, com retenção da receita médica; e os 22% restantes buscam acolhimento em associações cannábicas, que oferecem os tratamentos a preços mais acessíveis. Esse último arranjo, embora preste um serviço essencial, ainda depende de liminares judiciais para assegurar o direito ao cultivo, à produção e à distribuição.

A iminente regulamentação do cultivo de cannabis para fins terapêuticos já atrai grandes players da indústria farmacêutica. Com insumos nacionais e a produção internalizada, a tendência é de queda nos preços dos medicamentos. Um frasco de canabidiol chega a custar, nas prateleiras das drogarias, até três vezes mais do que o óleo produzido por associações. Embora haja receio de que a big pharma passe a controlar o mercado e imponha suas próprias políticas de preços, Riscala acredita haver espaço para todos: “No mundo inteiro, acharam que as entidades canábicas seriam engolidas, mas isso não aconteceu. Elas continuam com muita relevância”.

    O cultivo de cânhamo é mais rentável que plantar soja


Os critérios estabelecidos pela Anvisa podem, porém, restringir o mercado às grandes indústrias. Em agosto, os diretores da agência discutiram a proposta de incluir a ­cannabis no Anexo 1 da Portaria 344/1998, o que permitiria o cultivo da planta para fins medicinais no Brasil, desde que o nível de tetrahidrocanabinol (THC), o componente psicoativo da maconha, seja igual ou inferior a 0,3%. Trata-se de uma concentração tão baixa que dificilmente seria alcançada por métodos artesanais usados pelas associações. Curiosamente, a mesma Anvisa autorizou, em 2022, o registro de um medicamento com um teor dessa substância nove vezes superior ao limite proposto: 2,7%. Trata-se do ­Mevatyl, produzido pela britânica GW Pharma Limited, indicado para o tratamento sintomático da espasticidade associada à esclerose múltipla. Na fórmula da solução oral, a presença de THC é até maior que a de canabidiol (CBD), cuja concentração é de 2,5%.

De acordo com o psiquiatra Eulampio de Lacerda, o tratamento de diversas condições, como epilepsia, fibromialgia, ­Parkinson e Alzheimer, exige medicamentos com concentrações mais elevadas de THC. “Tenho pacientes autistas com disfunção na comunicação que, após a terapia com óleos extraídos da maconha, voltaram a falar”, relata. Professor da UFRN e presidente do Centro de Pesquisas e Estudos da Cannabis (Cebrapcam), entidade que também produz extratos e formulações terapêuticas a partir da planta, ele teme que, sem uma regulamentação abrangente, muitos pacientes fiquem dessassistidos. “Esse limite de 0,3% exclui muitas doenças. Só serve para atender aos interesses da indústria farmacêutica”, critica.

Ricardo Hazin, diretor-executivo da Aliança Medicinal, associação com produção em fazenda urbana em Pernambuco, também critica a limitação de THC, mas ressalta que previsibilidade e padronização são fundamentais para que a cannabis seja reconhecida como terapêutica confiável. A entidade cultiva a planta em dez contêineres marítimos, com controle genético total das inflorescências: usa clonagem a partir de uma única matriz e descarta sementes que possam gerar variações. O modelo atende mais de mil pacientes. “Assim, consigo controlar fatores climáticos e prever o que vou colher, quando e com quais características”, explica o engenheiro agrônomo. Para ampliar a adesão da classe médica, principalmente entre psiquiatras, a ONG promove oficinas e palestras, apresentando todas as etapas do cultivo e a segurança dos processos.

Não é fetiche do setor de vestuário. A fibra de cânhamo é resistente e favorece a ventilação –


Com potencial para desenvolver toda a cadeia produtiva da cannabis medicinal, o País pode tornar-se um exportador de produtos farmacêuticos e biotecnológicos de alto valor agregado. A produção nacional de insumos farmacêuticos ativos (IFAs), a partir do cultivo controlado, viabiliza formas farmacêuticas avançadas. Mais do que o óleo sublingual – extraído das flores – outras partes da planta, como folhas, caule e raízes, podem ser aproveitadas na fabricação de pomadas, loções, cápsulas e supositórios. A indústria cosmética também desponta como mercado promissor, com crescente demanda por produtos à base de cannabis, como séruns, cremes faciais e esfoliantes, já comuns em prateleiras internacionais.

Diretor da associação catarinense Santa Cannabis, Pedro Sabaciauskis acredita que o Sistema Único de Saúde pode democratizar o acesso aos tratamentos e também gerar riqueza para a agricultura familiar. Diversos municípios – como Campina Grande e João Pessoa, na Paraíba, e Velo, na Bahia – já adotaram leis ou convênios que integram a produção das entidades canábicas à demanda da rede pública. Santa Catarina aprovou a legislação mais avançada do País, garantindo o fornecimento gratuito de medicamentos à base de maconha para todas as patologias. São Paulo, por outro lado, tem uma norma restrita a menos de dez doenças. Para o especialista, essas parcerias fortalecem a economia local e podem impulsionar produções agroecológicas, com foco em itens orgânicos e de alta qualidade. “Com a economia circular, o dinheiro do SUS ficaria nos próprios estados e ajudaria a gerar renda de forma mais equilibrada”, afirma.

Apesar das restrições, o uso veterinário da cannabis medicinal avança no Brasil. Segundo o Panorama Nacional do Setor Associativo da Maconha Medicinal, mais de 7.050 animais de estimação já foram atendidos, e o uso pode estender-se também às espécies silvestres e de corte. O médico veterinário e pesquisador Lucas Pereira explica que a aplicabilidade é ampla porque “todos os vertebrados, incluindo cães e gatos, possuem o sistema endocanabinoide, alvo dos fitocanabinoides”. Os principais tratamentos incluem epilepsia refratária, dores crônicas, cuidados paliativos em casos de câncer e transtornos de estresse pós-traumático, como separação dos tutores ou maus-tratos. “É um medicamento muito mais seguro do que a morfina, por exemplo”, afirma o pós-doutor em Neurociência pela UnB.

Com a regulamentação do cânhamo, o Brasil também tem muito a lucrar com suas­ inúmeras aplicações industriais. Hoje, 60 países já o produzem e mais de 110 autorizam sua importação. Em parceria com o Instituto Ficus, a Embrapa elaborou um relatório detalhado sobre o tema, destacando o potencial da fibra extraída da planta para impulsionar 21 setores econômicos, incluindo os de vestuário, construção civil, cosméticos, alimentos e até o segmento naval. Tecidos feitos com cânhamo, por exemplo, permitem ventilação como o algodão e têm resistência semelhante à do linho. Já os tijolos de biomassa fabricados com a planta se destacam por serem “respiráveis”. Rica em ômega 3 e 6, a erva também vem ganhando fama como um “superalimento”, ideal para reforçar suplementos nutricionais.

Segundo Daniela Bittencourt, pesquisadora da Embrapa e coordenadora do projeto HempTech Brasil, o País tem potencial de “ser um grande player mundial na produção de cannabis e derivados nos próximos dez, 20 anos”. Com relação a outras commodities, o cânhamo oferece vantagens agronômicas e ambientais. Pode ser cultivado durante a “janela sanitária”, intervalo obrigatório de três meses entre o plantio de soja e milho, de forma a ajudar a recuperar o solo. Por ter as raízes muito profundas, a planta tem capacidade de descompactar o solo e torná-lo mais respirável para receber novas sementes. “Diferentemente do eucalipto, o cânhamo tem poder de fitorremediação, com alta capacidade de absorver gás carbônico.”

Por exigir menos cuidados que a ­cannabis medicinal, o cânhamo pode ser cultivado em larga escala, com vantagens competitivas em relação a outras culturas do agronegócio. Em comparação ao algodão ou à soja, é mais resistente a pragas e consome menos água – fatores que tornam o cultivo mais prático e rentável. Segundo relatório do Instituto Escolhas, essa nova commodity apresenta receita líquida média muito superior à propiciada por soja, milho ou canola (gráfico à pág. 15).

Os tijolos de biomassa fabricados com a planta se destacam por serem “respiráveis” – 

Consultor internacional e CEO do Instituto Terphyto, Gastón Lepera atuou no governo de Pepe Mujica pela regulamentação do mercado de cannabis no Uruguai. Segundo ele, o Brasil deve evitar os erros dos países vizinhos e desenvolver a cadeia produtiva dos derivados no mesmo ritmo da abertura da fronteira agrícola. “O País tem condições de crescer desde o início, impulsionando também pesquisa e inovação”, afirma.

Atualmente, as pesquisas com ­cannabis ainda enfrentam insegurança jurídica. Muitas universidades firmam parcerias com associações para acessar os insumos, enquanto, em outros casos, os próprios pesquisadores recorrem a liminares judiciais para cultivar a planta com fins acadêmicos. “Dá trabalho e custa caro. Às vezes, isso inviabiliza descobertas científicas”, avalia o biólogo Marco Vidal, diretor de Pesquisa e Inovação do Cebrapcam.

Professora e pesquisadora da UFRPE, Letícia da Costa e Silva resume o desafio: “Sem segurança institucional e jurídica, ainda não temos sequer como avaliar o impacto da cannabis medicinal no solo brasileiro”. Diante da demanda de outros pesquisadores, ela viu a necessidade de abrir canais de diálogo entre universidades e governo. Hoje, Letícia integra o Grupo de Trabalho Multidisciplinar, que reúne 29 instituições de pesquisa, além da Embrapa e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Em nota técnica entregue ao Ministério da Saúde e à Anvisa em agosto, o grupo reivindica uma regulamentação que facilite a pesquisa em toda a cadeia produtiva.

    A Anvisa pediu mais 180 dias para apresentar sua proposta de regulamentação

A pesquisadora Nídia Yoshida, da UFMS, tem grandes expectativas quanto à adaptação das sementes importadas ao clima tropical, mas teme que o limite de THC possa frear o avanço científico. “Em muitos países, grandes áreas foram destruídas porque as sementes se modificaram em razão do clima. Se a regulamentação for muito restritiva, podemos repetir o mesmo erro”, alerta. Atualmente, ela desenvolve, em parceria com a Associação Divina Flor, projetos voltados ao aproveitamento integral da planta, como a produção de dermocosméticos a partir de folhas, raízes e caules.

Thiago Ermano, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis e Cânhamo (Abicann), monitora a regulamentação da cannabis em países vizinhos e destaca os impactos sociais positivos, como a inclusão de indígenas e quilombolas no processo produtivo. Em parceria com a Unila, a entidade está implantando um centro de inovação em Foz do Iguaçu, para desenvolver pesquisas, e tem planos de lançar dez startups.

Em países com regulamentação ampla e consolidada, a indústria da cannabis já está gerando receitas bilionárias. Nos EUA, o setor emprega mais de 440 mil trabalhadores em tempo integral. Com um mercado interno robusto, o país produz milhares de subprodutos para consumo e exportação. No Canadá, onde o cânhamo foi legalizado em 1998, o país tornou-se um dos maiores exportadores globais de sementes para alimentação. Modelos em países vizinhos também revelam potencial para inclusão social: o Paraguai, que regulamentou o cânhamo em 2019, lidera a produção na América Latina, gerando renda para pequenos agricultores e comunidades indígenas.

Lojas de cosméticos e coffee shops se multiplicam no mundo desenvolvido. A cannabis pode desenvolver o semiárido nordestino –


Segundo Lepera, o programa Hemp Guarani garante a compra antecipada de toda a produção, focando principalmente em mulheres com filhos que possuem terras, para fixar os agricultores no campo. “Comunidades antes assediadas pelo tráfico de drogas hoje se desenvolvem de forma sustentável”, diz o consultor uruguaio. A Colômbia, que também avançou na legislação, optou pelo cultivo de ­cannabis com até 1% de THC. “É um teor que não chega a dar ‘brisa’ e facilita a adaptação ao clima tropical, uma boa referência para o Brasil”, avalia Maria Riscala.

Após visitar diversos países para conhecer suas experiências, Lepera acredita que o maior potencial do Brasil está no Nordeste, especialmente no Semiárido. “Nos EUA, o cultivo tem se desenvolvido em regiões secas, como Oregon e Colorado. A planta adaptou-se muito bem, e pode transformar a realidade da Caatinga.” Segundo ele, a indústria nordestina tem tudo para impulsionar o desenvolvimento das áreas­ mais pobres. Lepera também defende que o Brasil busque parceria tecnológica com a China, que é o maior produtor e exportador mundial de cânhamo e dispõe de maquinário avançado para o cultivo e processamento das fibras.

Apesar da natural desconfiança dos sertanejos nordestinos, o alto retorno financeiro pode convencê-los a investir nesse novo setor, avalia ­Sabaciauskis. Já Daniela Bittencourt, pesquisadora da Embrapa, destaca que o Brasil não pode perder essa oportunidade de desenvolvimento sustentável e se mostra otimista com o processo regulatório. “Mesmo com a demora da Anvisa, acredito que avançaremos para uma regulamentação mais ampla no médio prazo, capaz de beneficiar toda a sociedade brasileira.