March 6, 2022

Putin contra o mundo

 



O PRESIDENTE RUSSO NÃO CONTAVA COM A REAÇÃO EM BLOCO DO OCIDENTE E AGORA PRECISA ESCAPAR DO LABIRINTO EM QUE SE METEU

p or S E RG IO L I R I O

Na nossa última con-

versa, cerca de duas

semanas atrás,

Pavlo Sadhoka não

escondia o alívio

diante de um su-

posto recuo das

tropas russas estacionadas na fronteira

leste da Ucrânia. A invasão ainda não ha-

via sido iniciada, subsistia a esperança de

uma solução diplomática e o Kremlin iro-

nizava os alertas de uma guerra iminente

emitidos pelos serviços de segurança dos

Estados Unidos. Presidente da associação

dos imigrantes ucranianos em Portugal, às

voltas com inúmeros pedidos de socorro

de compatriotas, o bancário que vive desde

2006 em Lisboa tinha um motivo adicional

de preocupação diante da escalada do con-

flito: os pais, idosos, viviam em Lviv, a mais

importante cidade a oeste da capital, Kiev.

Sadhoka traçara uma rota de fuga, um en-

contro na fronteira polonesa e uma viagem

de carro de 40 horas até uma casa empres-

tada pela família da mulher portuguesa. As

notícias “positivas” de 15 dias o levaram,

no entanto, a adiar o plano. “Fui um pou-

co ingênuo”, admite. O encontro protelado

aconteceu na terça-feira 1°, por coincidên-

cia dia do aniversário de 86 anos do pai de

Sadhoka, Olef. Ele, a mulher Natália, de 81

anos, e um neto com deficiência física va-

garam por três dias em uma jornada de 60

quilômetros entre Lviv e a fronteira polo-

nesa. Os pais caíram em prantos, diz, ele

escondia a emoção, preocupado em resol-

ver a burocracia em meio ao caos ao redor.

“Nunca imaginei que viveria uma situação

assim”, desabafa o bancário, mais tranqui-

lo, enquanto abastecia o automóvel em um

posto de gasolina alemão.


O KREMLIN, DE

CASO PENSADO OU

NÃO, REABILITOU

A UNIÃO EUROPEIA

E DEU SOBREVIDA

À OTAN


Olef e Natália dão nome e forma aos 2

milhões de refugiados, segundo os cálcu-

los das Nações Unidas, espremidos em es-

tações de trem ou postos de controle rodo-

viário na Polônia, Romênia, Lituânia, Le-

tônia e Estônia. A multidão cansada, fa-

minta, impaciente, formada por crianças,

idosos e mulheres (os homens são obriga-

dos a permanecer na Ucrânia para engros-

sar as fileiras de batalha), fornece as ima-

gens com as quais a mídia ocidental reite-

ra a fama de mau de Vladimir Putin. A co-

bertura, que qualquer desavisado poderia

confundir com um roteiro da Marvel, tem

produzido relatos heroicos e comoventes,

apesar de difícil verificação, sobre a resis-

tência ucraniana. Um tanque russo teria

atropelado um idoso. Bombas de frag-

mentação foram lançadas contra civis.


Uma alegada conversa despretensiosa no

Twitter – “Você vai sair de Kiev? Não, te-

nho um gato” – inspirou uma série de fotos

de soldados com felinos no colo ou nos om-

bros. Âncoras da tevê estatal em estúdios

improvisados em garagens despontam co-

mo ícones da liberdade de expressão. A in-

fluência da extrema-direita de viés neona-

zista nos grupos paramilitares ucrania-

nos é relativizada, enquanto o presidente

do país, Volodymyr Zelensky, comedian-

te até então visto com desconfiança, tor-

nou-se o “cara”, aplaudido de pé nos mais

influentes fóruns internacionais, exaltado

por celebridades do show business e, aca-

be como acabe a guerra, candidatíssimo

a personalidade do ano da revista Time

e, por que não?, ao Prêmio Nobel da Paz.


A Rússia também tem uma

forma peculiar, menos su-

til, de registrar os aconte-

cimentos. Por determina-

ção do Kremlin, os meios

de comunicação e os russos de forma geral

estão proibidos de chamar a invasão pe-

lo nome. Trata-se, impõe Putin, de uma

“operação militar especial” para desmi-

litarizar e “desnazificar” a Ucrânia, ar-

gumento que peca pelo excesso no sen-

tido contrário à leniência ocidental: não

se pode imaginar que os 44 milhões de

ucranianos tenham simpatia pelo nazis-

mo ou apoiem de forma acrítica milícias

como o Batalhão Azov, acusado de cri-

mes de guerra na região separatista de

Donbas. Moscou não tolera a dissidên-

cia. Desde o início da invasão que não po-

de ser chamada de invasão, mais de mil

manifestantes russos foram detidos e fi-

chados por defenderem o fim da invasão

que não pode ser chamada de invasão e

protestar contra o espírito belicoso de

Putin. A rede social Twitter foi suspensa.


A esta altura, quando o conflito com-

pleta uma semana sem uma solução à vis-

ta, o problema para Putin é um só: a de-

cisão de iniciar um ataque à Ucrânia iso-

lou a Rússia, reduziu a margem de ação

de quem estava disposto a negociar as

demandas russas, entre elas o incômodo

com o risco à segurança interna diante

da insistência ucraniana em aderir à Or-

ganização do Tratado do Atlântico Nor-

te, a aliança militar ocidental, e deu ra-

zão a quem torcia para o circo pegar fo-

go, a começar pelos Estados Unidos. “An-

tes da invasão da Ucrânia, a Rússia tinha

a vantagem moral, pois suas demandas

eram e ainda são legítimas. Mas, ao agre-

dir injustificadamente, colocou a vanta-

gem moral na boca de líderes ocidentais

que têm as mãos sujas de sangue”, anota

o colunista Aldo Fornazieri .


Putin apostava, antes do passo em fal-

so, na patente hesitação do presidente dos

Estados Unidos, Joe Biden, na fragmenta-

ção europeia e nos interesses econômicos

envolvidos: 25% do petróleo e 40% do gás

consumidos na UE, quase 50% na Alema-

nha, são fornecidos pela Rússia. Marcas de

luxo, o mercado imobiliário, revendedo-

res de jatos e iates, joalherias, restauran-

tes estrelados e times de futebol depen-

dem do estilo de vida consumista dos oli-

garcas, cujo patrimônio no exterior é es-

timado em 800 bilhões de dólares, e suas

relações umbilicais com o Estado. Um dos

mais notórios representantes da oligar-

quia russa, Roman Abramovich, que em

meio ao conflito doou a uma instituição de

caridade suas ações no time de futebol in-

glês Chelsea, atual campeão europeu, par-

ticipa ativamente das negociações de ces-

sar-fogo mediadas pela Bielorrússia.


O presidente russo carregava ainda a

memória de suas incursões militares an-

teriores, principalmente na Geórgia, em

2008, e na Crimeia, em 2014. Nas duas

ocasiões, os vizinhos europeus e os EUA

assistiram de camarote e se limitaram a

divulgar “notas de repúdio”. Desta vez, por

motivos diversos, o jogo mudou. A invasão

da Ucrânia forneceu, digamos, um novo

propósito à União Europeia, cujos prin-

cípios estavam em xeque desde a saí da do

Reino Unido do bloco. De Norte a Sul, de

Leste a Oeste, os europeus redescobriram

os pontos de união. Protestos populares

contra Putin inundaram as ruas das prin-

cipais cidades e pressionaram governos a

fazerem movimentos inesperados e inédi-

tos: a historicamente neutra Suíça prome-

teu aderir às punições ao sistema financei-

ro russo, e a Finlândia, apesar das amea-

ças diretas de Moscou, anunciou o envio

de armas à Ucrânia.



Estima-se que as sanções eco-

nômicas, em sua maior par-

te impostas pelos países eu-

ropeus, beirem 1 trilhão de

dólares. As medidas in-

cluem o bloqueio do acesso dos bancos

russos à plataforma Swift, sistema ele-

trônico de compensações, o congelamen-

to das reservas em ouro e dólar deposita-

das no exterior, o confisco de bens do pró-

prio Putin e aliados, o fechamento do es-

paço aéreo, incluídas aeronaves particu-

lares, e a restrição do comércio exterior.


“Provocaremos o colapso da economia

russa”, afirmou Bruno Le Maire, minis-

tro das Finanças da França. Exagero re-

tórico? Talvez, mas, de fato, as restrições

obrigaram o Banco Central russo a tomar

medidas drásticas ante a queda de 30% na

cotação do rublo. Os juros subiram a qua-

se 20% e a instituição anunciou um con-

trole de capitais para evitar a fuga de di-

nheiro. “As condições externas mudaram

drasticamente”, informou o BC em comu-

nicado. “Isso é necessário para sustentar

a estabilidade das finanças e dos preços

e proteger as poupanças dos cidadãos da

desvalorização.” As reservas internacio-

nais, estimadas em 600 bilhões de dólares,

apesar do bloqueio, dão certa margem de

sustentação à aventura militar de Putin.

O Ocidente promete aumentar o cerco.


Há ainda o fator China e sua renovada

parceria com a Rússia, resumida na decla-

ração conjunta divulgada no início de fe-

vereiro, 15 dias antes da escalada do con-

flito na Ucrânia, um dos mais importan-

tes documentos geopolíticos do século

XXI e um claro desafio ao poder impe-

rial exercido pelos Estados Unidos des-

de o fim da Guerra Fria. Nas instâncias

que ainda restam de negociação, o Oci-

dente tenta empurrar os chineses para o

campo da neutralidade. As mídias euro-

peia e norte-americana comemoram a de-

cisão de Pequim de se abster na votação

do Conselho de Segurança da ONU, que

só não condenou a invasão russa por cau-

sa de uma regra básica: as decisões pre-

cisam ser unânimes e a Rússia, como in-

tegrante permanente, vetou a resolução.


Minimiza, no entanto, as críticas chine-

sas ao avanço controverso e contínuo da

Otan em direção ao Leste, motivo da mo-

bilização do Exército russo. Teria o gover-

no chinês condições de compensar, ao me-

nos em parte, os prejuízos decorrentes

das sanções ocidentais? Ou interesse em

apoiar um conflito que atrapalha o fluxo

comercial no planeta e lança novas incer-

tezas sobre a recuperação econômica glo-

bal, abalada por dois anos de pandemia?


Na terça-feira 1°, Pequim voltou à cena di-

plomática. Após uma conversa com seu

par ucraniano, o ministro das Relações

Exteriores, Wang Yi, afirmou que o país

está à disposição para integrar os esforços

de cessar-fogo e “extremamente preocu-

pado com os danos aos civis”. A China é o

destino de 14% das exportações da Ucrâ-

nia, maior produtor de grãos da Europa.


Por erro tático ou de caso pensado,

Putin também deu uma sobrevida à Otan,

organização claudicante e questionada – o

francês Emmanuel Macron chegou a de-

cretar a “morte cerebral” da aliança em en-

trevista à revista inglesa The Economist –,

e aos entusiastas do rearmamento da

Europa. Ironicamente, militares de car-

reira têm se sobressaído entre as poucas

vozes ponderadas nos debates televisivos

e nas análises dos jornais, seja nos Esta-

dos Unidos, seja na Europa ou em países

não afetados diretamente pelo conflito.


Em meio à histeria, generais consultados

repetidos de desconforto da Rússia e, no

fundo, da China com a constante expan-

são da Otan para além do traçado da anti-

ga Cortina de Ferro, apesar da ingerência

desestabilizadora dos EUA em territórios

de influência russa (Geórgia, Ucrânia, Ca-

zaquistão) e chinesa (Taiwan). Há quem fa-

ça uma pergunta simples: como Washing-

ton reagiria se Putin fizesse um acordo

com Cuba e decidisse alocar tropas e ar-

mas na ilha comunista distante 140 qui-

lômetros da Flórida? A história explica.


Em outubro de 1962, a famosa “crise dos

mísseis” levou ao extremo o risco de uma

guerra nuclear. O suspense durou 17 dias,

até o momento em que os navios da União

Soviética equipados com projéteis inter-

romperam a viagem a Havana e retorna-

ram para casa. Em sua coluna à página 17,

Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial

de CartaCapital, recorre a uma declaração

contextualizada do general Sérgio Etche-

goyen, ex-ministro do governo Temer: “A

Europa estava submetida à paz que inte-

ressava à Otan e aos EUA. Não era a paz que

interessava à Rússia e a Putin. Ela empur-

rava os meios da Otan em direção às fron-

teiras russas, numa ameaça permanente”.


A Otan sofria de

“morte cerebral”,

antes de Putin

reavivá-la



Quais serão os novos ter-

mos? Putin será capaz de

impor uma pax russa no

seu quintal? Por enquan-

to, a invasão aguça a his-

tórica desconfiança mútua

entre a Rússia e a Europa, sentimento que

as décadas recentes de intenso comércio e

livre circulação de pessoas haviam ameni-

zado. À direita e à esquerda, excetuados os

últimos moicanos dos partidos comunis-

tas europeus, Putin é descrito como dita-

dor e louco. Os pacifistas perderam terre-

no. A guerra levou a burocracia europeia a

recolocar sobre a mesa a proposta de uma

nova e agressiva política de segurança. As

consequências são conhecidas e ultrapas-

sam o incremento das Forças Armadas:

vão do aumento da vigilância interna dos

cidadãos ao recrudescimento do controle

das fronteiras. Mais paranoia, menos li-

berdade. O primeiro passo foi dado pela

Alemanha. Na segunda-feira 28, o chan-

celer Olaf Scholz, liderança de um partido,

o PSD, que mantém laços históricos e afe-

tivos com a Rússia, antecipou-se ao bloco

e anunciou um reforço de 100 bilhões de

euros nos investimentos militares deste

ano, além da elevação de 1,5% para 2% do

PIB do orçamento destinado ao Exército.


“A invasão da Ucrânia marca uma vira-

da decisiva na história europeia”, discur-

sou no Parlamento um preocupado Mario

Draghi, primeiro-ministro da Itália. “São

dias sombrios, mas chegará a hora do diá-

logo e por isso devemos manter a atenção,

aproveitar quando esse momento chegar.”


O EXÉRCITO RUSSO

INTENSIFICOU

OS ATAQUES, EM

BUSCA DE UM

ACORDO QUE NÃO

PROLONGUE

A GUERRA


Quem sabe faz a hora, não espera acon-

tecer, diz aquela velha canção de Geral-

do Vandré, que poderia servir de lema

a Putin. Após um começo desordenado

e seis dias de ações limitadas, os russos

intensificaram os ataques a alvos ucra-

nianos entre a primeira reunião de nego-

ciações, na segunda-feira 28, e o segun-

do encontro, na quinta-feira 3. Embora

qualquer vida perdida em guerras preci-

se ser lamentada, a incursão russa produ-

ziu baixas limitadas até o momento. Os

números, imprecisos, falam em 136 civis

mortos e 400 feridos. As denúncias, tam-

bém carentes de comprovação, do uso

crescente de armas vetadas pelas con-

venções internacionais, entre elas bom-

bas de fragmentação, levaram o Tribu-

nal Penal Internacional a abrir uma in-

vestigação sobre crimes de guerra que, no

fim das contas, poderia resultar na con-

denação de Putin. A disseminação e a vi-

rulência dos ataques alteraram o humor

de Zelensky. O “vamos vencer” dos dias

anteriores cedeu lugar ao apelo dramá-

tico por mais apoio ocidental e a disposi-

ção de negociar desde que os russos acei-

tem um cessar-fogo. “Provem que estão

conosco. Provem que não vão nos deixar.

Provem que são realmente europeus e en-

tão a vida vencerá a morte e a luz vencerá

as trevas”, declarou o presidente ucrania-

no em um discurso ovacionado na sessão

de emergência convocada pelo Parlamen-

to europeu na terça 1°. “A UE será mui-

to mais forte conosco.” O apelo emocio-

nal não tira Zelensky da sinuca de bico.


Alçado à condição de lenda, como se fos-

se Leônidas, a Ucrânia, o desfiladeiro de

Termópilas, e Putin, o Xerxes que amea-

ça destruir a civilização, resta ao ucrania-

no o caminho da imolação. Ou, ao menos,

o de um acordo que não pareça rendição

humilhante nem fuga desesperada.

Putin, por sua vez, precisa encon-

trar um termo entre as suas reivindi-

cações, consideradas inaceitáveis pelo

Ocidente, e uma solução rápida que limi-

te os custos deletérios à economia russa.

Uma ocupação prolongada seria uma

péssima ideia. Basta ver as experiências

da União Soviética, nos anos 1980, e dos

Estados Unidos no Afeganistão. Forçar

a renúncia de Zelensky e a nomeação de

um testa de ferro sem apoio da população

igualmente manteria o Kremlin preso a

um arranjo instável e imprevisível, situa-

ção agravada pela decisão do atual gover-

no ucraniano de armar os compatriotas.


OS EUA E ALIADOS

VISAM MINAR

A LIDERANÇA

INTERNA DE PUTIN.

DERRUBÁ-LO

VOLTOU AO RADAR

OCIDENTAL


Uma ou outra medida elevaria, em vez de

reduzir, os riscos à segurança russa, ra-

zão que, em tese, determina as decisões de

Putin. Pior ainda são as ameaças, ou ble-

fe, de uso de bombas atômicas. Levantar

a hipótese do apocalipse, de uma “solução

final” para a humanidade, fez muito su-

cesso nos tempos da Guerra Fria, mas o

potencial dissuasório de um remake a es-

ta altura é questionável. Mesmo assim,

os russos insistem. Em entrevista à Al

Jazeera na quarta-feira 2, Sergei Lavrov,

ministros dos Negócios Estrangeiros, vol-

tou ao tema. “Biden tem experiência e sa-

be que não há alternativa às sanções a não

ser a guerra mundial. E ela seria nuclear e

destrutiva”, afirmou. “A Rússia tem mui-

tos amigos e não pode ser isolada.”


Uma saída possível, em um momento

no qual faltam interlocutores confiáveis

e lideranças responsáveis e de projeção

mundial, estaria em um meio-termo. Ou

quase. Zelensky permaneceria no poder

e a Rússia não se oporia à adesão da Ucrâ-

nia à União Europeia. Em troca, o gover-

no ucraniano desistiria da incorporação

à Otan e reconheceria a independência

da Crimeia e dos territórios separatistas

de Lugansk e Donetsk, na conflituosa re-

gião de Donbas. Coincidência ou não, na

terça-feira 1°, de forma unânime, o Parla-

mento Europeu aprovou o pedido de in-

corporação ucraniana ao bloco, envia-

do na véspera por Zelensky. É o primei-

ro passo de um longo e complexo proces-

so de integração que exige brutais con-

cessões financeiras de quem adere. Mes-

mo se contar com a total boa vontade da

UE, os ucranianos precisarão de ao me-

nos uma década para concluir o procedi-

mento. Além disso, a Europa será obriga-

da a derramar bilhões de euros se quiser

impedir um esfacelamento da frágil eco-

nomia da Ucrânia.




Encerrar a invasão russa, da

maneira possível, será dife-

rente de lidar com as con-

sequências no médio prazo

do conflito. Putin enfiou a

mão na cumbuca da geopolítica e fez aflo-

rar velhos ressentimentos. Isolado, cola-

do à imagem de inconfiável e perigoso, o

ex-agente da KGB que fez de tudo para

se manter no poder ao longo de 20 anos

aposta alto e ninguém sabe se apresenta-

rá garantias para cobri-la. As sanções oci-

dentais, estendidas aos esportes, às via-

gens, às redes sociais e à integração finan-

ceira dos russos comuns ao mundo globa-

lizado, miram o público interno, o cida-

dão que ainda apoia ou não se sente segu-

ro para sair às ruas contra o presidente.

Derrubar Putin subiu ao topo da agenda

dos Estados Unidos e aliados. Por enquan-

to, o presidente russo não parece abala-

do pela repulsa mundial. Ao contrário. O

“eu” contra “eles” é uma boa arma de pro-

paganda, desde que os adversários conti-

nuem longe das fronteiras. •


CARTA CAPITAL 



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