March 8, 2020

A cavalaria do bolsonarismo

 
 O empresário Emílio Dalçoquio Neto e o presidente Jair Bolsonaro


Bernardo Mello Franco 

Um cavaleiro se aproxima a galope, empunhando um escudo e a bandeira do Brasil. Vestido de templário da Casa Turuna, ele freia o tordilho e solta o brado retumbante: “Patriotas, venho de longe em sagrada missão!”. “Contra os comunistas e traidores da pátria!”, prossegue, antes de partir ao som de uma marcha militar.

O vídeo viralizou na sexta-feira, para orgulho do catarinense Emílio Dalçoquio Neto. Herdeiro de uma transportadora de cargas, ele se inspirou nas cruzadas para divulgar os atos governistas do dia 15.

“A ideia é mostrar que estamos numa guerra santa contra o comunismo”, explica o catarinense de 54 anos. Para ele, quem fez piada com a produção amadora não tem amor pelo país. “O vídeo incomodou, né? Comunista fica nervoso mesmo”, provoca.

O empresário está ansioso pelas manifestações do próximo domingo. O objetivo, ele diz, é acusar Legislativo e Judiciário de conspirarem contra o presidente. “O governo é ótimo, mas não deixam o Bolsonaro trabalhar. O Congresso e o STF estão contra os interesses do povo brasileiro”, esbraveja.
Dalçoquio afirma que o tribunal “vai ter problema” se barrar os projetos do presidente. Perguntei se o problema incluiria o uso das Forças Armadas, mas ele preferiu fazer mistério. “Não vou responder isso daí”, desconversou.

O bolsonarista cultiva uma visão particular da História. A exemplo do presidente, sustenta que o regime instaurado pelo golpe de 1964 não foi um ditadura militar. “Isso é mentira, pô! Que ditadura é essa que tem novela, Chacrinha, Sílvio Santos?”, questiona.

Ele reprova a Constituição de 1988 e admira o ditador Augusto Pinochet, que comandou um regime sanguinário no Chile. “O Pinochet resolveu o problema. Ah, matou três mil? É verdade. A versão da barata sobre o Baygon é terrível”, ironiza.

Dalçoquio despontou do anonimato na greve dos caminhoneiros de 2018. Ele foi flagrado incentivando motoristas a queimarem veículos, e sua empresa foi investigada sob suspeita de promover um locaute.

“Quem estava coordenando a greve era o pessoal do MST. Era para ter uma intervenção militar e provocar o cancelamento da eleição”, despista. Na época, ele já trocava mensagens com o atual presidente. “Fui o primeiro a receber o Bolsonaro em Santa Catarina, em outubro de 2015. Quase ninguém acreditava nele”, orgulha-se.

Na visão do empresário, a vitória do capitão salvou o país da ameaça vermelha. “Nós estávamos a um passo de entrar para a Ursal. O único que podia mudar isso era o Bolsonaro”, discursa.

Argumentei que a União das Repúblicas Socialistas da América Latina só existe no mundo da ficção, mas ele se mostrou convencido do contrário. “A Manuela Dávila, do PCdoB, disse que o Brasil estava indo para a Ursal. Até o papa está fomentando isso. O papa também é comunista”, sentenciou.

Dalçoquio diz ter tirado dinheiro do próprio bolso para incentivar a campanha do capitão. Quanto gastou? “Nem eu sei”, enrola. O empresário não aparece na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral. Depois da vitória, ele fundou o grupo de ultradireita Lux Brasil. Em janeiro, o presidente o recebeu para uma sessão de fotos no Planalto.

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