March 23, 2019

Grupo de amigos e clientes reabre o Bip Bip, com o mesmo espírito e programação musical

Em 2018, Alfredinho em uma das tradicionais rodas do Bip Bip Foto: Guito Moreto

Lucas Altino

A morte de Alfredo Jacinto Melo, o Alfredinho do Bip Bip , não representou o fechamento do bar que leva seu nome. O espaço, que se transformou em um dos principais centros culturais da cidade, está sendo administrado agora por dezenas de amigos do antigo dono. Com a autorização da família, essa “comissão” reabriu as portas do estabelecimento há duas semanas, com o objetivo de manter intacto o espírito e a programação do Bip Bip.

— Depois da morte do Alfredinho, alguns amigos interessados e apaixonados pelo bar constataram que não conseguiriam viver sem ele. Então nos esforçamos e nos unimos para mantê-lo aberto, com a premissa de que tudo deveria continuar o mais parecido possível com o que o Alfredinho deixou, o que inclui a manutenção de projetos sociais e a programação musical — explica Chiquinho Genu, auditor fiscal e músico amador, responsável por inaugurar as rodas de samba do bar, e que diz ser o cliente mais antigo ainda vivo. — Estou lá há 30 anos. Hoje vivo no Catete, mas já até morei no prédio literalmente em frente ao Bip Bip, quando o Alfredinho conseguiu um apartamento para eu morar. 

A comissão de amigos voluntários tem cerca de 10 pessoas, segundo Genu. O plano de administrar o bar foi aprovado pela família, que nomeou, então, Matias Bidart como o gerente. O grupo, porém, admite que ainda está aprendendo a como gerenciar a casa, que só tem um funcionário, responsável por realizar as compras às tardes,  já que o bar só abre à noite. Um ponto positivo é o fato de o estabelecimento ser um imóvel próprio. Depois da morte de Alfredinho, o Bip Bip ficou fechado por uma semana, até ser reaberto no fim de semana pós carnaval.
“Uma vez, Jaguar escreveu que o Bip Bip é o único bar sem fins lucrativos, e é assim que queremos manter. A gente nem sabe se hoje dá lucro, vamos ver. O que queremos é que continue sendo um polo de cultura, amizade e, principalmente, de solidariedade”
Chiquinho Genu
Auditor fiscal e músico amador


— Uma vez, Jaguar escreveu que o Bip Bip é o único bar sem fins lucrativos, e é assim que queremos manter. A gente nem sabe se hoje dá lucro, vamos ver. O que queremos é que continue sendo um polo de cultura, amizade e, principalmente, de solidariedade — diz Genu, que se define como um “músico abusado”, com boa aceitação nas rodas de samba da cidade. — Outro dia até brinquei que só não consigo imitar a caligrafia horrorosa do Alfredinho e os esporros sem motivo. Mas o resto a gente vai fazendo.

A programação inclui o chorinho às segundas e terças; bossa nova às quartas; e samba às quintas e domingos. Sábado é um dia livre com debates políticos, lançamentos de livros e outras atividades. Sobre os projetos sociais, o objetivo é manter o trabalho que Alfredinho apoiava, como a distribuição de cestas básicas para 42 famílias carentes.

Outra iniciativa tomada por entusiastas do bar foi um abaixo assinado online para que se mude o nome da Rua Almirane Gonçalves para Alfredinho do Bip Bip. O projeto está sendo encampado inclusive por parlamentares, como o vereador Reimont (PT). Genu acredita que essa seria uma bela homenagem, mas não a coloca como algo primordial, e diz que por enquanto a comissão ainda não se envolveu diretamente nisso.

— O falecimento do Alfredinho saiu em tudo quanto é lugar, e o velório foi um acontecimento, uma coisa gigantesca. Esse sábado agora vai ter uma roda de samba na Lapa em homenagem a ele, inclusive. A verdade é que o Bip Bip há algum tempo que é uma verdadeira reunião da ONU, sai em todos guias turísticos, a à noite você ouve todas as línguas do mundo. É um bar turístico sem ser turístico.



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