January 19, 2018

Após censura e chibatadas, artistas sauditas torcem por era de abertura




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Exemplo dos Emirados Árabes
Os planos do governo dariam um incentivo aos curadores independentes, músicos alternativos e cineastas de primeira viagem? Ou atrelariam a arte aos caprichos dos ministérios do governo e privilegiariam apenas os favoritos do Estado?
— A arte deveria estar distante de qualquer agenda. Isso é o que nos deixa preocupados — diz Abdulnasser Gharem, cofundador de um pioneiro coletivo de arte saudita chamado Edge of Arabia, cujas próprias obras, incluindo pinturas e instalações, são frequentemente exibidas no exterior.
O debate sobre a cultura diz respeito à natureza das mudanças em curso na Arábia Saudita sob a direção de Bin Salman. O foco em entretenimento e cultura é central ao plano para diversificar a economia dependente de petróleo, enquanto expandem-se algumas liberdades sociais. As autoridades sauditas e os apoiadores do príncipe herdeiro dizem que as mudanças — incluindo permitir que as mulheres dirijam e a redução da autoridade da polícia religiosa — representam um esforço muito atrasado de trazer o reino à era contemporânea. Algumas iniciativas, como abrir os cinemas, também prometem ser uma grande oportunidade econômica.
Mas os críticos alertam que demorará anos para determinar se as tão promovidas reformas do governo vieram para mudar um sistema ossificado ou simplesmente criar uma nova embalagem. Ao abraçar as artes, a liderança saudita aprendeu uma lição de imagem com o seu aliado e vizinho, os Emirados Árabes Unidos, que há muito tempo reconheceram que a sua cena cultural era “uma ferramenta poderosa de soft power e diplomacia”, segundo Beth Derderian, estudiosa do desenvolvimento da arte e da cultura dos Emirados Árabes Unidos.

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Outras atitudes da liderança saudita provocaram perguntas sobre as suas prioridades, incluindo a recente compra por um príncipe do reino de uma pintura de Leonardo da Vinci por US$ 450 milhões — um valor alto, considerando-se que o governo prometeu se comprometer com o combate à corrupção e com medidas de austeridade. Depois que reportagens indicaram que a obra havia sido comprada por Bin Salman, autoridades sauditas disseram que a pintura fora adquirida pelo novo Museu do Louvre em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos.
Mas os artistas ainda enfrentam perigo. Um deles, o poeta e curador palestino Ashraf Fayadh foi condenado por renegar sua fé em 2015 e sentenciado à morte por um tribunal saudita. As acusações — motivadas, segundo os advogados de Fayadh, por uma disputa pessoal — incluíam a suposta promoção do ateísmo pela sua poesia. Após pedidos internacionais, a sentença foi reduzida a oito anos de prisão e 800 chibatadas.

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Licença para filmar nas ruas
Apesar de tudo, um senso de possibilidade se apodera dos jovens artistas. Nada AlMojadedi, cineasta, acredita que levará tempo até que o público saudita abrace o conteúdo local. Segundo ela, a população não está acostumada a assistir a histórias sobre si mesma. Mas o encorajamento do governo, ou pelo menos o seu apoio a eventos culturais, já tem sido uma ajuda. O diretor Khaled Nadershah, de 26 anos, que grava o seu primeiro filme na Arábia Saudita, elogia os planos de reabrir os cinemas. A sua pequena e autofinanciada produção conta a história de uma mulher divorciada, que luta para conseguir a aprovação dos pais para estudar no exterior.
— As pessoas precisavam ver que existem os filmes sauditas e que essa indústria é real — diz Nadershah, cuja licença para filmar nas ruas demorou apenas uma semana para ser emitida, num sinal de mudanças dentro do reino. — Há uma nova onda de artistas tentando encontrar uma cultura popular saudita. É inspirador. Mas não posso dizer que já chegamos lá.

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