March 23, 2022

Museus europeus enfrentam dilema de como devolver obras de coleções russas de exposições que estão chegando ao fim

 

Sala com as pinturas de Claude Monet na concorrida mostra da coleção Morozov, na Fundação Louis Vuitton. Foto: Marc Domage / Fondation Louis Vuitton / M

Alex Marshall and Vanessa Friedman / The New York Times

 

Mais de um milhão de pessoas foram à mostra da coleção Morozov, na Fundação Louis Vuitton, nos arredores de Paris, desde a abertura em novembro.  A coleção, que inclui telas de Picasso, Gauguin, Renoir e Van Gogh, nunca havia saído da Rússia e é tão importante para o país que o presidente Vladimir Putin autorizou pessoalmente a viagem para a França.

Em outros tempos, as obras seriam embaladas em caixas e devolvidas aos museus russos após o encerramento da exposição em 3 de abril. Agora, por causa das sanções levantadas após a invasão da Ucrânia, não está claro o que vai acontecer.

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Jean-Paul Claverie, consultor de Bernard Arnault, presidente da LVMH, cita algumas das preocupações.  Os curadores de três dos principais museus da Rússia, que normalmente supervisionariam essa remoção das obras, podem não conseguir viajar para a França, devido às restrições nos voos provenientes da Rússia.

A maioria dos países europeus proibiu a entrada de companhias aéreas russas em seu espaço aéreo, enquanto muitas companhias europeias suspenderam voos de e para a Rússia.

Ainda mais complicada é a questão de como as obras podem ser devolvidas com segurança. A Fundação Louis Vuitton, em coordenação com as respectivas instituições russas, estava avaliando o que fazer “se tivermos um problema” cruzando fronteiras, disse Claverie.

— Talvez tenhamos que colocar as obras em depósito, ou guardar em uma embaixada, ou guardar a coleção na caixa de segurança que temos na Fundação — acrescenta. — A segurança das pinturas é nosso único objetivo.

“A Coleção Morozov” não é o único programa de alto nível que enfrenta esses dilemas. O Museu Victoria & Albert, em Londres, tem 13 peças de museus russos em sua exposição esgotada sobre a joalheria Fabergé, em cartaz até 8 de maio. Entre elas, um ovo Fabergé doado por Putin Museu Hermitage, em São Petersburgo. Há também itens da fundação de Viktor Vekselberg, que está na lista de sanções do governo britânico.

Picasso viajou pela Ucrânia

Um porta-voz do museu se recusou a explicar em detalhes o que acontecerá com os 13 itens quando a exposição terminar. Já a assessoria do Ministério da Cultura da Grã-Bretanha disse que “vai trabalhar com o V&A para ver como podemos devolver os ovos Fabergé à Rússia no momento certo”.


Os museus russos também estão confusos em torno do tema. No início de março, o Hermitage informou vários museus italianos que, sob ordens do Ministério da Cultura da Rússia, estava pedindo o retorno de todas as obras emprestadas até 31 de março. Na semana passada, no entanto, o museu voltou atrás, “considerando os problemas de segurança e logística”, e desistiu do pedido de devolução.

A Fundação Alda Fendi  está exibindo em Roma o quadro “Jovem Mulher 1909”, de Picasso, emprestado pelo Hermitage até 15 de maio. Raffaele Curi, diretor artístico da instituição, considera que a desistência foi “conveniente” para a Rússia, já que era difícil devolver as pinturas no momento. O Picasso viajou pela Ucrânia de caminhão a caminho de Roma, disse Curi, acrescentando que “teria sido muito difícil do ponto de vista logístico” fazer essa viagem de volta agora.

Sem confisco

Robert Read, diretor do setor de arte da seguradora Hiscox, que trabalha com museus europeus, disse que as questões em torno da devolução de obras são logísticas e não políticas. Chefe do braço russo da empresa de logística de arte ESI, Frederic de Weck concorda, e acrescenta que conversou com funcionários do Museu Estadual de Belas Artes Pushkin, em Moscou, que frisaram que as pinturas da Coleção Morozov “permanecerão na França” até que voos diretos sejam possíveis.

— Enviar as obras de arte por caminhão não é uma opção — disse De Weck, que rechaça especulações sobre as peças não voltarem para casa. — Qualquer sugestão de que as obras possam ser confiscadas é infundada.

Robert Read concorda:

— Governos e museus não gostariam de ser vistos se recusando a enviar obras de arte de volta, pois isso “perturbaria todo o sistema” de empréstimos internacionais.

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