April 18, 2021

Sucesso de 'Minari', falado em coreano, é marco para diversidade de Hollywood

 

Homem sentado no vão de uma porta aberta

[RESUMO]Indicado a 6 Oscars, entre eles o de melhor filme, "Minari", falado em coreano, retrata a luta pela sobrevivência de imigrantes da Coreia do Sul nos EUA. Em entrevista, o diretor e o ator do filme, ambos de origem asiática, falam de como o sucesso do longa é um marco para levar mais diversidade a Hollywood e despertar o interesse das plateias por outras culturas.

Ana Maria Bahiana

As raízes de “Minari” —o filme estadunidense falado em coreano, indicado a seis Oscars, inclusive melhor filme— vêm do Arkansas, de Michigan, de Utah, de Ruanda.

“A Coreia do Sul é um espaço distante, mas presente”, diz o ator Steven Yeun, protagonista do filme, em uma entrevista remota via Zoom, de sua casa em Los Angeles. “Conversamos muito sobre isso, Lee [Isaac Chung, diretor e roteirista do filme] e eu. Estávamos contando uma história americana. Asiático-americana, mas americana, só que falada em coreano.”

Com uma bilheteria mundial de US$ 10,4 milhões (R$ 58,4 milhões) em plena pandemia, o quinto longa-metragem de Lee Isaac Chung fez muito mais do que agradar a críticos e colegas do meio cinematográfico. “Minari” fala diretamente a várias camadas de pessoas comuns, famílias, mães e pais, avós, crianças; é um pequeno épico em uma dimensão plausível, quase banal, o esforço para melhorar de vida.

“Eu não sabia o quanto eu ia aprender sobre mim mesmo, sobre minha família, quando estava fazendo ‘Minari’”, diz Lee (também via Zoom, também em Los Angeles). “Minari” concorre a 6 Oscars no próximo dia 25. Lee disputa as categorias de melhor diretor e melhor roteiro original.

“Quando escrevi o roteiro, não queria que fosse a história da minha família, queria que fosse outra família, uma nova família. Por isso, mudei os nomes e os detalhes do que aconteceu com minha família. Mas, ao mesmo tempo, as emoções começaram a vir à tona, sem parar, enquanto eu estava filmando.”

Lee Isaac Chung nasceu em Denver, no Colorado, filho de imigrantes da Coreia do Sul. Como os personagens de “Minari”, seus pais trabalhavam em uma empresa de processamento de galinhas. Quando Lee tinha 5 anos, seus pais se mudaram para Lincoln, no estado de Arkansas, uma região predominante rural no sul dos Estados Unidos.

Também como em “Minari”, o jovem pai da família Chung tinha sonhos de ter sua própria fazenda. Com eles seguiu a avó materna, a quem o cineasta dá o crédito de ter mantido “o idioma e a cultura da Coreia” dentro dele.

O diretor Lee Isaac Chung, diretor de 'Minari' - 28.out.2020/AFP/BIFF

“Minha avó não sabia inglês e nunca se interessou em aprender”, ele recorda. “Ela só falava coreano comigo e me ensinou tudo da minha cultura, inclusive os palavrões em coreano [ele ri muito]. Ela foi o espírito coreano, o espírito da sua geração. Ela foi essencial para mim.”

O contato com a natureza levou-o a estudar biologia na respeitada Universidade Yale. Sua primeira intenção era se tornar médico, mas, no meio do caminho, no contato com os alunos do programa de cinema e mídia da universidade, resolveu mudar de rumo. “Aí as coisas se complicaram”, conta. “Não tinha os créditos para me transferir para o curso de cinema.”

Lee saiu de Yale com um diploma de biólogo e um “desejo louco” de ser cineasta. “Meu pai não entendia nada do que tinha acontecido —’meu filho não ia ser médico?’”, ele recorda. “Mas minha mãe me dizia que eu era igual ao meu pai —eu era cabeça-dura e não abria mão de algo que eu realmente quisesse fazer. Como meu pai com a fazenda. Como o Jacob, de ‘Minari’.”

Chung se inscreveu em 15 universidades e foi rejeitado por todas elas. Finalmente, a menos conhecida Escola de Cinema da Universidade de Utah aceitou-o. “Eu fui muito sincero com eles e eles compreenderam minha paixão”, diz. “O fato de a escola ser pequena e menos conhecida foi algo positivo para mim, tinha muito mais liberdade para experimentar. Na minha carta de candidatura, escrevi que o cinema, para mim, era uma forma de ser útil para os outros. E acredito nisso.”

Cumprindo o que escreveu para a universidade, o primeiro filme de Lee foi o resultado de um gesto de apoio a quem precisa.

“Munyurangabo” (2007), a história de dois meninos tentando refazer suas vidas em um país massacrado, foi criado e realizado em breves 11 dias, a partir das aulas de cinema que o diretor ministrou em um campo de refugiados órfãos em Kigali, Ruanda. Seus jovens estudantes trabalharam como atores e operadores de câmera e som, e não atores do lugar colaboraram com o elenco.

 

 

 

 

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