September 29, 2020

Sobre “caboclos e índios”

 


Texto de Pedro Daltro

Bolsonaro culpou “caboclos e índios” lá na ONu, lembra? E não foi a primeira vez que ele expôs essa curiosa tese:

“Os incêndios que devastaram 25 mil hectares do Pantanal começaram em quatro fazendas de grande porte em Corumbá (MS), segundo investigação da Polícia Federal (PF) iniciada em junho (veja, abaixo, quais são as propriedades). A suspeita é que produtores rurais tenham colocado fogo na vegetação para transformação em área de pastagem.” [Folha]

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Quero saber o nome do índio ou do caboclo!

“Conforme a PF, havia gado em duas das quatro fazendas de Corumbá onde os focos teriam começado. As propriedades rurais são as seguintes:

– Califórnia, que pertence Hussein Ghandour Neto e tem 1.736 hectares;
– Campo Dania, que pertence a Pery Miranda Filho e à mãe dele, Dania Tereza Sulzer Miranda, e tem 3.061,67 hectares;
– São Miguel, que pertence a Antônio Carlos Leite de Barros e tem 33.833,32 hectares;
– Bonsucesso, de Ivanildo da Cunha Miranda e tem 32.147,06 hectares.”

Nenhum cacique?!

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“Todas elas se enquadram no conceito de grandes propriedades, segundo critérios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), já que têm área superior a 15 módulos fiscais. O módulo fiscal é uma unidade de medida agrária usada no Brasil. Ela é expressa em hectares e varia de cidade para cidade, pois leva em conta o tipo de exploração no município e a renda obtida com essa atividade, entre outros aspectos. Em Corumbá, o tamanho do módulo fiscal é de 110 hectares. Propriedades acima de 1.650 hectares são enquadradas com grandes. Por causa do grande aumento de queimadas na região do Pantanal, uma equipe da delegacia da PF em Corumbá começou a monitorar alguns focos. A suspeita é que foram provocados intencionalmente, por pessoas que se aproveitaram da situação climática atípica e da estiagem na área. Investigadores realizaram análises de imagens de satélite de toda a região. Alguns focos específicos de queimadas chamaram a atenção, porque eram próximos de áreas de preservação e começaram dentro de propriedades particulares. A PF chegou a descobrir, pelas imagens, quando os incêndios começaram nas fazendas: Califórnia, em 30 de junho; Campo Dania, em 1º de julho; Bonsucesso, em 14 de julho; e São Miguel, em 16 de julho. No dia 25 de agosto, para confirmar as informações coletadas dos satélites, uma equipe da PF sobrevoou as regiões das quatro propriedades e fez registros fotográficos. Os policiais ainda descobriram que, na fazenda São Miguel e Bonsucesso, havia outros focos de queimadas, além dos descobertos pelas imagens de satélite.”

E Bolsonaro dizendo que fogueira é detectada como incêndio, mas na realidade tem focos de incêndio que nem capturado pelos satélites são!

“No dia 14 de setembro a PF deflagrou a operação Matáá, que cumpriu dez mandados de busca e apreensão, sendo seis na área rural e os demais na cidade. Na casa de Pery Filho, os policiais encontraram armas e munições, e ele acabou preso em flagrante, sendo solto no dia seguinte por determinação judicial. Também foram apreendidos celulares, notebooks e outros materiais nas fazendas. “A materialidade tem que ser comprovada além da culpa, além do dolo. Nós temos que ter a intenção. Verificar se houve o ato intencional de destruição da vegetação. Essa que é a questão. Então, nós temos que apurar o ânimo do agente, dos investigados no caso. Se houve intenção de destruição do bioma ou não. Mesmo que seja para renovar pastagem”, disse o delegado de PF Leonardo Raifaini. Sobre a investigação, o delegado acrescenta que não estão restritos a apenas esse foco dos 25 mil hectares. “A investigação, acho que ela está sendo maturada, tá bem adiantada. Logo nós poderemos ter resultados para esclarecer os fatos”.”

Imagine a pressão que Bolsonaro vai colocar pra cima da PF.

“A Federação dos Agricultores e Pecuaristas de Mato Grosso do Sul (Famasul) informou que os produtores das regiões afetadas pelas queimadas têm “diversas iniciativas para prevenir e controlar a situação, amenizar os prejuízos, proteger a fauna, flora e a integridade física das pessoas”. “A Famasul defende o lícito, e confia no trabalho das autoridades para a apuração dos fatos”, disse o presidente da entidade, Maurício Saito.”

Entra em cena o constrangedor general vice-presidente da república – imagina chegar no Ulysses lá em 1988 e dizer que 30 anso depois teríamos um presidente capitão e um general vice…

“O vice-presidente Hamilton Mourão disse, nesta quinta-feira (24), que sobrevoou em Rondônia uma área de terra indígena apontada na leitura de um satélite como foco persistente de fogo – mas que o local não tinha incêndio e se tratava de uma rocha. Mourão afirmou que não estava “questionando dado nenhum”, mas usou o caso parar defender que os registros sobre queimadas sejam analisados qualitativamente para, na sua visão, diferenciar o que é um foco de calor do que é um foco de queimada.” [G1]

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Imagine, alguém desse governo questionando dados do INPE?!

E lá vem uma surra memorável, senhoras e senhores:

“Ninguém desacredita dado de queimada. Quando você vai no site do Inpe a coisa é muito colocada, tem x focos de calor, não é queimada”, argumentou Mourão. O coordenador do programa de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, rebateu o vice-presidente e explicou que, dentro do monitoramento feito pelo grupo, não existe diferença entre os dois termos: focos de calor ou focos de queimadas. “É tudo igual. Apenas nomes diferentes. Indicam vegetação queimando, ou algum incêndio residencial ou industrial”, afirmou Setzer. Ao falar sobre sua inspeção em Rondônia, o vice-presidente apontou uma suposta falha de leitura. “A minha avaliação é que o calor, a massa de granito ali reflete como se tivesse fogo. O satélite identifica qualquer ponto de calor, não necessariamente sendo fogo”, disse Mourão.”

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Alberto Setzer, especialista do Inpe, explica que os dados oficiais de monitoramento de queimadas não apontam equivocadamente rochas, asfalto ou outros elementos como focos de incêndio. Mesmo sem Mourão ter detalhado qual a origem dos dados usados no sobrevoo, Setzer explicou que, na ocasião, havia um foco detectado na terra indígena Uru-eu-wau-wau que foi registrado pelo satélite TERRA, e não pelo AQUA, que é o usado como referência na contabilidade das queimadas no país. “É um foco suspeito, isolado e não detectado por nenhum outro satélite. Não dá para dizer que é uma detecção falsa, apenas suspeita”, disse Setzer. Na quarta-feira (23), Mourão citou que o sobrevoo teve como base dados do satélite do Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), ligado ao Ministério da Defesa. Nesta quinta, questionado sobre a fonte exata dos dados, ele explicou que a origem na verdade é o Gipam, um grupo integrado de proteção à Amazônia que usa dados de todas as agências federais, inclusive do Inpe.

O coordenador do Programa de Queimadas explica que o Inpe recebe dados de 10 satélites – alguns mais antigos e outros, mais avançados, que são “extremamente confiáveis”, e considerados satélites de referência, como o AQUA. “Alguns dos satélites muito antigos, que têm mais de 20 anos, talvez possam dar essa informação como ele [Mourão] disse – poderiam detectar uma coisa de granito muito quente. Mas isso não é usado nos cálculos, nas estatísticas. Por essa razão que nós temos esse satélite de referência, que não é sujeito a esse tipo de possível engano”, explicou o especialista. O vice-presidente ainda levantou a possibilidade de os focos serem apontados em áreas urbanas. “O satélite identifica qualquer ponto de calor, não necessariamente sendo fogo. Quando você olha ali o mapa de calor, você vai ver, bota lá Manaus, Belém, está tudo aparecendo em vermelho porque são focos de calor”, disse Mourão.

O especialista do Inpe rebateu Mourão. “Não temos um único caso destas detecções [em nossas estatísticas] de superfícies quentes como praias, asfalto de ruas, áreas cimentadas [ou seja, todas áreas urbanas], carros e ônibus no sol, pistas de aeroportos, estradas, telhados metálicos”, rebateu Setzer. “Os sensores [dos satélites mais novos] possuem características técnicas mais avançadas que são utilizadas pelos algoritmos, e assim os falsos alarmes são removidos”, disse. “Existem alvos quentes que podem gerar falsos alarmes, como pátios de usinas siderúrgicas e refinarias de petróleo com “flares” [chamas]. Nestes casos, o monitoramento do Inpe descarta estes locais”, explicou.”

Que surra, senhoras e senhores!

E acredite, o vice usou um leitor de temperatura do helicóptero!

“Na quarta, Mourão usou uma rede social para falar do sobrevoo e usou um termo técnico para dizer que os focos detectados pelos satélites podem não representar um foco de incêndio. “Tecnicamente, esses focos registram temperaturas de +47ºC e não são necessariamente uma queimada ou incêndio”, escreveu Mourão. Para Setzer, coordenador do programa de queimadas, o vice-presidente citou equivocadamente em seu tuite o parâmetro de temperatura de 47°C. “Estes 47 graus se referem ao modo como eram discriminados os focos nos satélites NOAA, mais antigos. (…) Esta é a “temperatura radiométrica”, um termo técnico, e que não corresponde à temperatura indicada por um termômetro”, explicou Setzer.”

O especialista explica que todo objeto gera uma radiação térmica por causa do calor que emite (no caso de um ponto de fogo) ou que reflete (no caso de uma rocha). Essa radiação é captada pelos satélites e transformada em dados. Esses informações são submetidas a algoritmos e equações que podem apontar a temperatura radiométrica – e, ainda, serem filtradas para evitar falsos positivos. “Um corpo a várias centenas de graus emite energia principalmente na faixa de 3,7 μm a 4μm do espectro ótico, que é onde o sensor do satélite opera. Um corpo com temperatura menor, seja ambiente ou até uns 100 graus, emite mais energia na faixa de 11μm”, explicou, mostrando como é feito o filtro que elimina os falsos positivos. “Esta questão dos 47°C é sempre levantada quando querem desacreditar o monitoramento”, disse Setzer.”

E vem mais merda por aí:

“A fusão do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) será analisada pelo Ministério do Meio Ambiente. Tema recorrente na pauta do governo, essa possibilidade vinha sendo rejeitada até o fim do ano passado, mas agora entrou na agenda. O Estadão apurou que o prazo para estudar o plano de fusão dos órgãos é de até 60 dias. O pedido foi feito pelo ministro do MMA, Ricardo Salles. O grupo que será responsável por elaborar a análise será formado por servidores do Ibama, do ICMBio e do MMA.” [Estadão]

É tipo você colocar o COAF nas mãos dum presidente ligado à milícia e cuja famiglia tem tara por donheiro viv. Ah não, péra aí…

“Segundo a reportagem apurou, a ideia é aglutinar áreas que tenham sobreposição de tarefas, como trabalhos administrativos. A tendência é que o ICMBio seja incorporado pelo Ibama a partir do ano que vem. O ICMBio é o órgão federal responsável pelas unidades de conservação federal e foi criado em 2007, a partir da cisão de uma área do Ibama. A autarquia do MMA cuida de 334 unidades protegidas em todo o País. Já o Ibama é responsável pela fiscalização ambiental em todo o País e processos de licenciamento federais, entre outras funções.”

O STF tinha que PROIBIR esse governo de mexer nesses órgãos, nem pisar o pé lá eles podem. Só diretoria do ógão pra baixo e ponto final.

Mas felizmente…

“Apesar do desejo de Salles, a fusão dos órgãos precisa passar pelo Congresso Nacional. Isso significa que o governo tem de enviar sua proposta ao Congresso, seja por medida provisória ou projeto de lei.”

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A criação do ICMBio foi aprovada pelo Senado em agosto de 2007, como desmembramento do Ibama, durante a gestão da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O instituto tem seu nome em homenagem a Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, um dos maiores expoentes do País na luta pela conservação da Amazônia, covardemente assassinado a mando de dois fazendeiros em 1988, em Xapuri, no Acre.”

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