July 8, 2020

Em carta aberta, artistas e escritores de destaque alertam para 'clima de intolerância' nos EUA



O linguista e filósofo americano Noam Chomsky, um dos signatários da carta aberta, em São Paulo

Jennifer Schuessler Elizabeth A. Harris 

O assassinato de George Floyd trouxe um intenso momento de acerto de contas racial nos Estados Unidos. À medida que os protestos se espalham por todo o país, eles são acompanhados de cartas abertas exigindo —e prometendo— mudanças em instituições dominadas por brancos nas artes e na academia.
Mas na terça-feira (7), um tipo diferente de carta apareceu online.
Intitulada “Uma Carta sobre Justiça e Debate Aberto” e assinada por 153 artistas e intelectuais de destaque, o texto começa com o reconhecimento de “poderosos protestos pela justiça social e racial” antes de fazer um alerta contra um “clima intolerante” que envolve a cultura.


 
Os signatarários da carta incluem nomes como Noam Chomsky, Margaret Atwood (autora de "O Conto da Aia"), a ativista feminista Gloria Steinem e o colunista da Folha Yascha Mounk.
“A livre troca de informações e ideias, que é força vital de uma sociedade liberal, está diariamente se tornando mais restrita”, afirma a carta, citando “uma intolerância a pontos de vista opostos, uma moda de promover a vergonha e o ostracismo públicos, e a tendência de reduzir questões políticas complexas a certeza morais cegas”.
"Como escritores, precisamos de uma cultura que nos deixe espaço para experimentação, riscos e até erros."
A carta, publicada pela Harper's Magazine, também aparecerá em várias publicações internacionais de renome. Ela traz à tona um debate que vem ocorrendo internamente em Redações, universidades e editoras, que têm se deparado com demandas por diversidade e inclusão, ao mesmo tempo em que se perguntam quais demandas —e se a dinâmica das mídias sociais que as impulsionam— vão longe demais.

Nomes associados à tradicional defesa da liberdade de expressão também assinaram o texto: Nadine Strossen, ex-presidente da União Americana das Liberdades Civis, por exemplo, além de críticos contundentes do politicamente correto nos campi, como o linguista Steven Pinker e o psicólogo Jonathan Haidt.
Há ainda aqueles que perderam seus cargos por causa de controvérsias, caso de Ronald S. Sullivan Jr., professor da Faculdade de Direito de Harvard que deixou sua posição de reitor de graduação em meio a protestos por ele se tornar um dos advogados de defesa de Harvey Weinstein

    A presença de J.K. Rowling entre os signatários foi especialmente criticada. Ela tem sido alvo de polêmicas por uma série de comentários defendendo o conceito de sexo biológico amplamente vistos como anti-transgêneros.
    O poeta Reginald Dwayne Betts citou em particular o caso de James Bennet, que renunciou ao cargo de editor de Opinião do New York Times após reclamações pela publicação de um artigo do senador Tom Cotton, do Arkansas, no qual o parlamentar cobrava intervenção militar contra os protestos antirracistas.​
    “Você pode criticar o que as pessoas dizem; você pode discutir sobre plataformas”, disse Betts. "Mas parece que alguns dos excessos do momento estão levando as pessoas a serem silenciadas de uma nova maneira."
    A reação online à publicação da carta foi rápida e diversa. Muitos ridicularizam os signatários por falta de diversidade, privilégio e, como um usuário de uma rede social disse, medo da perda de relevância.
    Thomas Chatterton Williams, que começou a iniciativa e é colunista do Harper's e colaborador da New York Times Magazine, disse que não houve um incidente em particular que motivou a carta.
    No entanto, citou episódios recentes envolvendo o direito à liberdade de expressão: a renúncia de mais da metade do conselho do Círculo Nacional de Críticos de Livros dos EUA por sua declaração de apoio ao movimento Black Lives Matter; e o caso de David Shor, analista de dados de empresa de consultoria, demitido após publicar, numa rede social, mensagens sobre pesquisas acadêmicas que vinculavam saques e vandalismo de manifestantes à vitória eleitoral de Richard Nixon, em 1968.
    Tais incidentes, disse Williams, alimentaram e ecoaram o que ele chamou de um "iliberalismo" muito maior e mais perigoso do que o professado pelo presidente Donald Trump.
    "Trump é o Cancelador-Chefe", disse ele. "Mas a correção dos abusos de Trump não pode se tornar uma hipercorreção que sufoca os princípios em que acreditamos."
    Williams disse que por trás da iniciativa houve um esforço para reunir um grupo que fosse o mais diversificado em termos políticos, raciais e outros.
    "Não somos apenas um monte de velhos brancos sentados escrevendo esta c
    arta", disse Williams, que é afro-americano. “Isso inclui muitos pensadores negros, muçulmanos, judeus, pessoas trans e gays, velhos e jovens, de direita e de esquerda."
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