May 24, 2020

Aliança da ala militar com centrão visa também um pós-Bolsonaro


Igor Gielow

Após o primeiro turno da eleição presidencial de 2018, quando a vitória de Jair Bolsonaro deixara de ser um delírio e passou a ser tratada como surpresa inevitável, conversar com oficiais-generais sobre política trazia duas certezas ao interlocutor.
Mourão e Bolsonaro, de máscara, participam de hasteamento da bandeira no Alvorada
Mourão e Bolsonaro, de máscara, participam de hasteamento da bandeira no Alvorada - Evaristo Sá - 12.mai.2020/AFP
Primeiro, que as Forças Armadas iriam tentar se preservar, mas que participariam em peso por meio de membros da reserva para garantir o sucesso de um governo que invariavelmente seria associado a elas.

Segundo, que a presença militar seria uma vacina dupla: evitaria erros de Bolsonaro, visto por seus mais notórios apoiadores públicos como um parvo manipulável, e seria uma espécie de garantia simbólica de que a mudança nas práticas políticas pregada na campanha seria cumprida.

O centrão, afinal, não iria bolir com os granadeiros como suas encarnações passadas pelo simples fato de que eles, os granadeiros, estariam no DNA do governo.

"Tempus fugit", o tempo passa, como diria Virgílio. Corta para maio de 2020, meros 19 meses à frente daqueles dias. Nada soa mais ilusório.

Aqui estão os militares do governo, muitos deles da ativa, agora em operação aberta com o antes espezinhado centrão, apavorados com a possibilidade de a gestão Bolsonaro ir para o vinagre. Uma aliança improvável, mas que embute várias nuances.

Primeiro, a ala militar acha que deu seu golpe de morte nos ideológicos que ajudaram a transformar o Brasil numa piada internacional, com seus macaqueios do trumpismo e delírios de rede social. O caso do Ministério da Educação, do tresloucado Abraham Weintraub, é apenas o mais vistoso.

Não foi só uma importante diretoria ou todo o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) que serão servido ao centrão. A infiltração chegará a locais antes considerados sagrados do MEC, como a coordenação-geral de materiais didáticos da Secretaria de Educação Básica.

É o lugar onde, em tese, são escolhidas temáticas de livros didáticos. Lá estava o coronel da reserva Sebastião Vitalino, desde antes de Weintraub chegar, mas não mais, segundo o que o militar disse a conhecidos. Crê ter sido rifado em nome da tal governabilidade.

No comments:

Post a Comment