August 11, 2019

Por que parte dos evangélicos abandonou Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro na Marcha para Jesus, em São Paulo, onde ouviu muitas palmas, mas também recebeu vaias Foto: Nacho Doce / Reuters

Elisa Martins e Henrique Gomes Batista

Para um grupo específico de eleitores, um detalhe de Jair Bolsonaro ganha destaque: seu nome do meio, Messias. Grande parte dos evangélicos vê o político do Partido Social Liberal (PSL) como um “predestinado” e o segue fielmente. Bolsonaro, por sua vez, retribui com inúmeros acenos a sua base — o mais recente foi a histórica participação na 27ª Marcha para Jesus, na segunda quinzena de junho em São Paulo, a primeira de um presidente da República. Bolsonaro, como era esperado, foi recebido com gritos de “mito” e aplausos. Mas também se ouviram algumas vaias quando ele apareceu nos telões espalhados pela Praça Heróis da FEB, na Zona Norte de São Paulo. Esses sinais de apoio e de crítica são indícios de uma divisão entre os evangélicos passados seis meses de governo. Alegando desacordos ideológicos, desavenças políticas e até perseguição, uma ala identificada como antiarmas e conservadores que não querem o envolvimento de pastores com política começam a ampliar a voz contra Bolsonaro — além dos que não votaram no candidato do PSL no ano passado.

Uma pesquisa feita pelo instituto Ideia Big Data para ÉPOCA entre os dias 13 e 17 de junho com 800 evangélicos em todo o país mostra que 69% deles votaram em Bolsonaro no segundo turno. Desse grupo, um em cada seis não repetiria o voto se a eleição fosse hoje. Entre todos os entrevistados, 88% são contra a ideia de que meninos devem usar azul e meninas rosa, defendida pela ministra da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também ela evangélica. Menos de 15% defendem a política ambiental do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Acima de tudo, a visão geral do governo não entusiasma. Para 25%, a administração é ruim ou péssima. Quarenta por cento dizem que é regular.
O pastor João Paulo Berlofa com os fiéis da “Igreja da Garagem”, de Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O pastor João Paulo Berlofa com os fiéis da “Igreja da Garagem”, de Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O microempreendedor Junior Ribeiro, de São José dos Campos, no interior paulista, votou em Bolsonaro no segundo turno. Evangélico há 20 anos, diz que resolveu dar um voto de confiança ao hoje presidente. “Achei que poderia ser diferente. Mas ele adotou posturas como a de querer liberar as armas, incitando o ódio. Isso não condiz com alguém que se diz cristão, que segue Jesus, que veio para trazer paz”, afirmou. Em conversas na igreja batista que frequenta, Ribeiro vê outros fiéis comentarem que esperavam mais de Bolsonaro. “Me arrependi profundamente de ter votado nele. Até agora não me representou”, disse. Ivaniella Batista de Carvalho, professora de Cubatão, São Paulo, afirmou que votou em João Amoêdo no primeiro turno e que, no segundo, votou em Bolsonaro, pois a outra opção — o PT — era muito pior, em sua opinião. Contou que ela e sua família votaram no candidato do PSL pois a mulher dele “era evangélica”. Mas hoje se dizem decepcionados. “O pior para mim é que ele, na reforma da Previdência, quer manter os privilégios da categoria dele, os militares.”

Caio César Souza Marçal, um dos fundadores da Rede Fale, grupo evangélico de Belo Horizonte, disse que os rachas no mundo evangélico sempre foram por teologia. “Este é o primeiro por ideologia”, afirmou Marçal, pastor e mestrando em teologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele acredita que a atuação mais ativa de pastores na política desagrada a parte dos evangélicos conservadores, que não querem que seu templo vire um movimento político. Esse sentimento não é de hoje, mas está se intensificando.
“Evangélicos contrários ao que descrevem como excesso de política nos cultos estão abandonando seus pastores e aumentando os números do movimento dos ‘desigrejados’”
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Um dos primeiros sinais aconteceu em plena reta final do impeachment, quando, em 16 de agosto de 2016, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, foi dar uma palestra na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte — a mesma frequentada por Damares Alves. Na visita, gravada em vídeo, Dallagnol referiu-se a si mesmo em terceira pessoa, afirmou ser cristão, integrante da “República de Curitiba” e surfista — no momento em que apareciam fotos dele sobre as ondas.
Em seguida, uma leva de fiéis abandonou a igreja por causa da presença do procurador. Uma semana depois, o pastor local, André Valadão, chamou os que saíram da igreja de “tolos”, “sem educação”, e disse ter “vergonha” deles. “No dia em que sua igreja recebeu a pessoa mais importante que lá esteve, eles viraram as costas, justo ao homem que Deus pode ter escolhido para mudar o país”, afirmou na ocasião. O pastor disse, ainda, que Evangelho não é ficar “contando anjinhos”, mas sim atuar na política. Procurado, Valadão não respondeu ao pedido de entrevista de ÉPOCA.

Entre os evangélicos, há vários tons de insatisfação. Um desses grupos se autodenomina “os desigrejados”. O termo, que já era conhecido no meio evangélico, tornou-se mais popular depois da eleição. São, em sua maioria, fiéis que começaram a sair de suas denominações de origem na época da campanha por acharem que seus pastores estavam falando de política muito mais do que o aceitável ou que eram contra a campanha pró-Bolsonaro. Esses movimentos independentes e desalinhados ao atual governo estão presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Campinas. Um dos mais recentes se reúne desde maio em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. As reuniões acontecem aos domingos de manhã em um bairro residencial. Na garagem da casa de um dos membros do grupo, há uma roda de cadeiras brancas de plástico e alguns banquinhos. Quem chega traz pão, bolo, suco, pão de queijo, biscoitos. Começa um café da manhã compartilhado, ou “ceia”, como o grupo prefere chamar. Às 10h30, com comida ainda sobre a toalha de mesa com estampa de frutas, todos tomam seus assentos. Eles cantam, agradecem por alguma bênção, pedem orações para parentes e amigos. É a hora do culto na chamada “Igreja da Garagem”.
“A política do governo sobre armas é um dos pontos que mais causam desconforto entre os evangélicos”
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O nome pegou aos poucos, em referência ao lugar que abriga as reuniões. É no espaço pequeno e reservado, com algumas frestas por onde entra luz, que o pastor João Paulo Berlofa, também um “desigrejado”, comanda o novo grupo. Ele se desligou em dezembro da igreja presbiteriana em que era pastor. Nos primeiros meses deste ano, começou, com outros fiéis, o “Inadequados”, um coletivo que surgiu na internet com o slogan “Para quem se sente meio inadequado dentro do movimento religioso tradicional”. A rede é formada por pastores e fiéis que saíram de suas igrejas e criaram um movimento que “defende uma teologia prática de amor ao próximo”. “Quando a campanha eleitoral começou a ganhar corpo, e pastores começaram a usar o púlpito como palanque, muitos fiéis se rebelaram e falaram: ‘Não aceitamos isso’. Recebi muitas mensagens de pessoas abaladas, de outras ameaçadas e até expulsas porque não aceitaram fazer campanha”, conta Berlofa.

A psicóloga Bruna Barreiros, de 30 anos, começou a frequentar a Igreja da Garagem há poucas semanas, pouco depois de acompanhar o Inadequados na internet. Evangélica há nove anos, conta que já havia percebido como se colocava “a política na espiritualidade” desde a eleição de Dilma Rousseff, mas se afastou da igreja de vez com as eleições de 2018. “Na campanha da Dilma, os pastores já falavam para pessoas mais próximas votarem no PSDB, chegaram a convidar o Geraldo Alckmin. No ano passado, já em outra igreja, senti que o clima entre os próprios fiéis era de ansiedade e não senti vontade de continuar. Acho que não tem como separar a discussão política, mas eu tinha uma visão social do Evangelho e não sentia esse propósito na minha igreja”, contou ela. O que incomodou a bancária Érika Piassa, de 34 anos, foi a falta de crítica ao que dizia o então candidato do PSL durante a campanha. “Quando chegaram as eleições, que eram um momento de se posicionar contra as atrocidades que Bolsonaro falava, a igreja calou”, disse Piassa. Fabio Bezerril, pastor há nove anos em São Paulo e “desigrejado” desde janeiro, foi outro que se opôs ao candidato do PSL desde o começo. “As igrejas evangélicas tradicionais militam muito em causa própria. E o problema não é falar sobre política. Ela faz parte da nossa vida. Mas não dá para criar essa esfera de bem e de mal, como foi na campanha. Quando falava de justiça, de paz, de pão, as pessoas diziam que se estava falando em ‘linguagem petista’”, disse Bezerril.
A jornalista evangélica Débora Diniz ora por conta própria. “Muitos sobreviveram quando a igreja virou uma empresa, mas agora não estão suportando ela ter virado um partido político. É a primeira vez que não me considero pertencente a uma igreja. Não me identifico mais”, disse ela. Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A jornalista evangélica Débora Diniz ora por conta própria. “Muitos sobreviveram quando a igreja virou uma empresa, mas agora não estão suportando ela ter virado um partido político. É a primeira vez que não me considero pertencente a uma igreja. Não me identifico mais”, disse ela. Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A “dissidência” e o trânsito de pessoas entre igrejas sempre existiram no mundo evangélico, que é extremamente segmentado, mas fiéis, pastores e pesquisadores que acompanham o tema confirmam não só um aumento desse movimento desde a última campanha eleitoral, como também um acirramento do fenômeno com o desenrolar do governo Bolsonaro. “Desde o impeachment, existe uma necessidade de tentar organizar melhor essa segmentação evangélica. Mas a eleição do Bolsonaro, principalmente, fez com que algumas comunidades e lideranças sentissem a necessidade de declarar seu voto, o que tem produzido uma reacomodação do segmento evangélico”, disse a antropóloga Jacqueline Teixeira, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). Hoje, segundo a antropóloga, passou-se a um “segundo momento” dessa declaração de voto da campanha — o de decisão sobre a continuidade do apoio de evangélicos a Bolsonaro. “Quando foi anunciado, o decreto sobre armamento produziu uma nova cisão, até mesmo dentro da chamada bancada evangélica. Bolsonaro sentiu isso. Quando ele disse que era hora de ter um evangélico no Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, foi porque percebeu que a aliança entrou em conflito, que não está consolidada. Foi uma sinalização de ‘Vamos fortalecer essa aliança, não desistam do governo’”, afirmou a pesquisadora da USP.

A presença de Bolsonaro na Marcha para Jesus agradou a líderes evangélicos da esfera mais tradicional, mas não gerou consenso. Criada na Assembleia de Deus, a fluminense Débora Diniz, de 48 anos, migrou para a Sara Nossa Terra e para a Igreja Batista Lagoinha de Niterói. No ano passado, durante as eleições, a jornalista decidiu que era hora de partir para uma vida religiosa fora das igrejas. “Muitos sobreviveram quando a igreja virou uma empresa, mas agora não estão suportando ela ter virado um partido político. É a primeira vez que não me considero pertencente a uma igreja. Não me identifico mais”, afirmou. Diniz disse que mantém sua fé, mas critica que, em nome de um alinhamento político, pastores defendam temas como o decreto do armamento. Ela contou que foi “demonizada” ao defender pontos como o feminismo. Segundo ela, os ataques contra ela e outras pessoas de mesma visão ficaram violentos com a proximidade das eleições. “Não é simples romper com a igreja. Temos mais que uma ligação espiritual, é uma ligação afetiva, pois para muitos a igreja é o centro da vida social”, disse Diniz. “Evangélico tradicionalmente não concorda com discurso de ódio e de armas, e de que ‘bandido bom é bandido morto’”, completou. Para ela, chegou a ser uma “hipocrisia” líderes evangélicos rirem enquanto Bolsonaro fazia o característico símbolo das armas com as mãos, em plena Marcha para Jesus. No mesmo evento, diante de cerca de 3 milhões de pessoas, segundo a organização, Bolsonaro admitiu pela primeira vez que tentará a reeleição “se o povo quiser”. “Bolsonaro sabe que fala para seu público mais fiel, que pode ser sua base para a reeleição”, afirmou Maurício Moura, professor da George Washington University, em Washington, e fundador do instituto de pesquisas Ideia Big Data. “O presidente pode ter sentido esses movimentos de ruptura de parte do eleitorado e começou a acenar ainda mais para os cristãos.”
Encontro de fiéis na Grande São Paulo. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Encontro de fiéis na Grande São Paulo. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Nos últimos três meses, redes de apoio a coletivos evangélicos foram criadas, na esteira da polarização dos templos. Uma delas é o Liberta. Criado em março, em Porto Alegre, pelo teólogo Tiago Santos, de 31 anos, o movimento já apoia 300 grupos familiares por todo o país. No espectro político evangélico, Santos está à esquerda. Durante as eleições, ele criou a página “Cristãos contra o fascismo”, que chegou a contar com 25 mil participantes no Facebook. “Durante as eleições, muitos cristãos deixaram suas igrejas por causa do apoio institucional ao Bolsonaro”, disse. Para ele, o apoio de muitas lideranças evangélicas a Bolsonaro é acrítico. “Muitos o colocam como um enviado de Deus. E não se pode criticar um enviado de Deus”, disse ele, lembrando que o próprio presidente incentiva isso, como fez ao postar em uma rede social um vídeo de um pastor africano que dizia que o presidente era um “escolhido” pelo divino.

Os evangélicos são um grupo grande e heterogêneo, disse Magali do Nascimento Cunha, pesquisadora de temas relacionados à religião. Segundo ela, desde o movimento reformista liderado por Martinho Lutero, no século XVI, as igrejas evangélicas se caracterizam por não ter uma hierarquia única, e sim uma diversidade, ao contrário da Igreja Católica, unificada na figura do papa e centralizada no Vaticano. “Os evangélicos têm essa fragmentação porque são grupos orientados pela livre interpretação da Bíblia . É uma questão que vem da Reforma. Incluem-se imigrantes da Alemanha, luteranos, anglicanos da Inglaterra, missionários dos Estados Unidos e até protestantes da França e da Holanda, ainda na época do Brasil Colônia. Mas o movimento evangélico se consolidou mesmo no Brasil nos séculos XIX e XX, quando os grupos se multiplicaram pelo país e passaram por renovações”, afirmou. Hoje, existem as chamadas igrejas mais tradicionais e antigas, como a metodista, a batista e a presbiteriana. Além dessas, há as pentecostais clássicas, como a Assembleia de Deus e a Evangelho Quadrangular, e as neopentecostais, entre elas a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer em Cristo. A lista é enorme, e a divisão não é objetiva, reforçou Cunha. “Quem fala em um grupo único de evangélicos tende a se referir à fatia conservadora”, completou.
“O pastor deputado Marco Feliciano defende que um evangélico seja vice de Bolsonaro em 2022. Quem poderia ser? Ele mesmo”
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A relação entre lideranças religiosas e o poder político no Brasil começou no início do século passado, e só se intensificou de lá para cá em um Estado que se diz laico. “O primeiro deputado evangélico surgiu nos anos 30, eleito para a Constituinte. Era pastor de uma igreja metodista. Por muitos anos, foi o único caso. Nos anos 70, começaram a aparecer outros, principalmente batistas e pentecostais da Assembleia de Deus. E, depois da Constituição de 1988, o número cresceu, até ser formada pela primeira vez a chamada bancada evangélica, que tem seus altos e baixos”, explicou a pesquisadora Cunha. Segundo ela, a bancada evangélica se aproximou do governo federal em 2002, no governo Lula, e se fortaleceu ao longo dos anos, principalmente as igrejas Universal e Assembleia de Deus, “que têm projeto político”. “Na campanha do atual governo, quando Bolsonaro, que se dizia católico, resolve ser batizado como evangélico, se consolida a jogada de aproximação com essa bancada”, disse a especialista. O papel fundamental dos evangélicos na eleição de 2018 é reconhecido até pelo lado perdedor. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em novembro do ano passado, Fernando Haddad, candidato derrotado do PT, disse que “há estudos mostrando que, se eu tivesse no mundo evangélico o mesmo percentual de votos que tive no mundo não evangélico, eu teria ganho a eleição”. Parte do problema, segundo os petistas, foi a quantidade de fake news distribuídas a essa fatia do eleitorado no período eleitoral contra Haddad.

Eduardo Carpenter, pastor de igrejas itinerantes no estado do Rio de Janeiro, afirmou que as igrejas sempre procuraram influenciar eleições e governos. Com Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, o motivo foram concessões de rádio e TV. Com Luiz Inácio Lula da Silva, foi a Lei de Liberdade Religiosa, “assinada pelo petista junto a todos os pastores que hoje estão com Bolsonaro”. Com Dilma Rousseff, o objetivo era continuarem próximas ao poder, o que repetiram com Michel Temer. “Mas com Bolsonaro é diferente: ele absorveu a agenda dos principais líderes evangélicos”, disse Carpenter. E isso desagradou a muita gente. É um descontentamento diferente dos antes comuns e mais vistos entre evangélicos. No passado, disse a pesquisadora Cunha, havia uma frustração com as igrejas por promessas de prosperidade que não se realizavam. Depois, deu-se um afastamento pela repressão pregada por algumas igrejas sobre o corpo e costumes. A desvinculação pela discordância de posturas das lideranças é a mais recente. “A questão da política é muito forte porque as igrejas não só assumiram um discurso ideológico-político, como também estão servindo de escudos de alguns personagens da política”, disse a pesquisadora.
Membro do grupo Liberta, de Porto Alegre, que se autodenomina um grupo evangélico de esquerda. Foto: Reprodução
Membro do grupo Liberta, de Porto Alegre, que se autodenomina um grupo evangélico de esquerda. Foto: Reprodução
Líderes evangélicos tradicionais, por outro lado, minimizam o movimento contrário à politização ou a Bolsonaro. “Temos cerca de 60 milhões de evangélicos no país. Cerca de 50 milhões, 55 milhões, estão em igrejas que apoiam Bolsonaro. As igrejas amam Jair Messias Bolsonaro”, afirmou o deputado Pastor Marco Feliciano (PODE-SP). Ele se tornou vice-líder do governo no Congresso, tem participado de viagens e “lives” em redes sociais com o presidente e se diz responsável pela participação de Bolsonaro em eventos religiosos em Santa Catarina, Amazonas, Pará, Goiás e na Marcha para Jesus. Segundo Feliciano, o que aproxima Bolsonaro dos evangélicos são as pautas de costumes. “Não pedimos nada, só queremos a valorização da família”, disse. O deputado minimiza o descontentamento de alguns grupos religiosos com a política de armas defendida pelo presidente, afirmando que, no que importa, “os grupos seguem unidos”.

E, falando claramente sobre política, fez uma previsão: “Todos sabemos que o vice-presidente ( Hamilton ) Mourão se indispôs com o presidente. Pois digo que, em 2022, Bolsonaro terá um vice-presidente evangélico”, disse ele, lembrando que o presidente chegou a ensaiar ter o então senador Magno Malta (PR-ES), evangélico e cantor gospel, como companheiro de chapa, mas que o processo foi abortado e o escolhido foi um militar.

“A dificuldade é obter um nome que una todas as correntes, como Assembleia de Deus, Universal, Batista, Quadrangular”, disse Feliciano, que imediatamente se colocou como nome mais indicado para a “tarefa” de tentar ser vice-presidente na eventual chapa de reeleição de Bolsonaro. “Se não temos um nome que converge todas as igrejas evangélicas, não tenho dúvidas de que tem de ser um nome que transite em todas elas. E não vejo quem faz isso hoje melhor do que eu.”
O deputado Pastor Marco Feliciano (PODE-SP) é uma das lideranças políticas evangélicas contestadas pelos “desigrejados”. Foto: Jorge William / Agência O Globo
O deputado Pastor Marco Feliciano (PODE-SP) é uma das lideranças políticas evangélicas contestadas pelos “desigrejados”. Foto: Jorge William / Agência O Globo
O deputado Silas Câmara (PRB-AM), presidente da Frente Parlamentar Evangélica — que reúne 195 deputados e oito senadores e realiza cultos todas as quartas-feiras no Congresso —, afirma que, se houver um movimento de dissidência de evangélicos de suas igrejas por causa do apoio a Bolsonaro, é algo “ínfimo”. Em sua opinião, o evangélico de verdade não abandonará sua fé e sua igreja por um eventual apoio a um político. Ele afirmou, inclusive, que “não existem no Brasil” líderes evangélicos que pedem voto nos templos. “O melhor exemplo sou eu. Sou da Assembleia de Deus, que tem 360 mil fiéis no Amazonas, e fui eleito com 117 mil votos. Se existisse orientação, eu teria tido muito mais votos”, disse. Câmara afirmou que a ida de Bolsonaro à Marcha para Jesus foi um “gesto de gratidão” do presidente, mas que é cedo para definir o apoio dos evangélicos a uma eventual reeleição. “Temos a mesma simpatia à proteção à família, à vida, aos mesmos princípios, mas é cedo para fechar compromissos”, disse ele. Câmara lembrou que a “maioria esmagadora” dos deputados da frente evangélica é contra as armas. Para ele, isso não gera necessariamente um problema na relação com o presidente, pois “em uma relação pode-se discordar de alguns pontos”. O deputado também minimizou o gesto de armas feito por Bolsonaro na marcha: “Isso não quer dizer mais que ele quer armar todo mundo. É mais uma marca dele”.

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