June 2, 2019

O novo Febeapá

Xexeo Foto: OGlobo
Ninguém está livre de proferir uma piada de mau gosto. Não é porque o sujeito virou prefeito ou ministro que uma dádiva dos céus faz com que ele só diga coisas certas e relevantes. Se bem que prefeitos e ministros têm o dever de pensar duas vezes antes de falar qualquer coisa. Mas, pelo jeito, os prefeitos, ministros e presidentes que nos cercam não pensam nem uma vez inteira antes de falar. É o que ficou demonstrado esta semana. 

Começou na terça-feira, num evento da prefeitura, quando Marcelo Crivella achou apropriado descontrair o ambiente com uma piada sem graça: “O pessoal está sugerindo aqui de colocar o nome da ciclovia de Vasco da Gama”, disse ele, para completar: “Está caindo muito”. Como é que é? O sujeito é responsável por uma ciclovia que já despencou quatro vezes, matou duas pessoas, e ele ainda acha que pode fazer chiste com isso? Pior, quando foi cobrado, três dias depois, pela inconveniência, pôs um sorriso nos lábios e disparou: “Quem vê o vídeo vai ver que teve um flamenguista que fez a proposta. Eu coloquei em votação exatamente para fazer a brincadeira e depois fui claro quando disse ‘a proposta foi rejeitada’. Isso é brincadeira que todo carioca faz.”
Não é não, prefeito. O carioca, geralmente, é sensível e sabe que brincadeira tem hora. Mas há exceções, é claro. 

Crivella parecia ter o direito de ganhar o troféu Mico da Semana, mas aí, na quinta-feira, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, postou um vídeo na sua conta no Twitter. Aparentemente gravado em seu gabinete, o vídeo mostra o ministro entrando pelo canto esquerdo da tela, portando um guarda-chuva aberto e cantarolando “Singin’ in the rain”, de Arthur Freed e Nacio Herb Brown. Mas o que é isso? Weintraub quer fazer teste para algum musical? Não! Quer denunciar fake news. “Essa última fake news, fresquinha pra vocês, alega que a paralisação da recuperação do Museu Nacional, aquele que o reitor da UFRJ não conseguiu explicar...” Peraí, como é que é? O que o ministro quis dizer? Que o reitor não soube explicar o museu? Como assim? O museu precisa de explicação? Bem, deixa o vídeo rodar. O ministro continua: “O que acontece? Haviam emendas parlamentares...” Para de novo. O sujeito é ministro da Educação e não conhece uma regra básica de concordância verbal?

Geralmente, esse erro é cometido por quem não sabe português direito, mas quer falar difícil. Aí surge o “houveram erros” ou o “haviam emendas”. No post, o ministro apresenta o vídeo com o seguinte texto: “Mais uma #FakeNews. Agora, sobre o contingenciamento de verbas no Museu Nacional, do Rio de Janeiro. Descubra a verdade”. Pois descobri. A verdade é que o ministro não sabe que o verbo haver, no sentido de existir, não varia. Nunca! É fácil, ministro. Não varia nunca! 
Nos anos 60 do século passado, o genial cronista Sergio Porto, na pele de seu heterônimo, Stanislaw Ponte Preta, inventou o Febeapá — o Festival de Besteira que Assola o País. Nele, colecionava burrices, bobagens, idiotices, cretinices, enfim, besteiras proferidas por políticos e autoridades do Brasil. Nos dias de hoje, ele realizaria um Febeapá e tanto.

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