February 11, 2019

Levando o Brasil no traço




AFFONSO NUNES

UM grande painel da sociedade brasileira no século XX através da ótica social, política e de costumes de três dos mais geniais artistas do traço é a proposta da 3º Bienal da Caricatura, em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal (Rio). O evento engloba cinco mostras, sendo duas dedicadas a Lan , o italiano mais carioca de que se tem notícia. Além dele, são homenageados Alvarus e Luiz Sá.

"Lan é uma lenda da caricatura, o decano dos caricaturistas brasileiros. A obra dele é um patrimônio artístico de nosso país", justifica o curador Luciano Magno. Os originais do artista, em sua fase como colaborador do Jornal do Brasil, são destaques nas mostras "Lan - Traço Carioca" e "Lan no traço dos caricaturistas", em que o desenhista é retratado por colegas - está última está sediada no Centro Cultural Solar de Botafogo, onde também estão expostas caricaturas de astros do cinema.




Na sua primeira estadia no Brasil, ainda criança, Lan entrou em contato com a miscigenação de raças. A diversidade que viu durante os dois anos em que viveu no país resultou em um grande fascínio, acessado nas memórias da infância quando, em 1952, em visita ao Rio de Janeiro, deslumbrou-se com a geografia carioca, com a alegria do povo, mas principalmente com as mulheres. Não raro, os desenhos têm as formas do corpo feminino misturadas às dos morros da cidade. Grande parte da obra de Lan é destinada a elas, a mais conhecida temática do caricaturista.

"Alvarus e seus bonecos" é o módulo da bienal que apresenta originais e vasta memorabilia sobre a história da Álvaro Cotrim, caricaturista que é apontado como o pai da escola brasileira no estilo. Estão em sua obra, além da típica carioquice, a leveza e economia de traços. "Uma tendência a sintetizar o caricaturado, em busca do que o próprio Alvarus chamava da busca da máscara psicológica", destaca Luciano Magno, que divide a curadoria da exposição com Guilherme Rodrigues, referindo-se ao artista que marcou época nas páginas de publicações como O Malho, Fon-Fon e Careta.

O caricaturista, que viveu entre 1904 e 1985, era dono de uma famosa biblioteca ligada ao tema caricatura. Mestre na técnica das caricaturas pessoais, foi um estudioso obstinado do gênero. Sua biografia sobre J. Carlos é uma obra de referência. dos melhores exemplares do gênero. "Pode se dizer, pela sua importância, que o artista foi a própria história da caricatura brasileira", defende o curador da bienal.

Alvarus colaborou para as publicações Granada, Para-Todos, A Noite, Carioca e Vamos Ler, entre outras. Trabalhou nos jornais A Manhã, Crítica, A Noite, onde atuou de 1929 até sua extinção, em 1954. Em 1960 decide abandonar a produção de caricaturas para se dedicar exclusivamente aos estudos e artigos - publicados no JB e nas revistas adultas Fair Play e Ele & Ela.

O outro caricaturista celebrado no evento é o cearense Luiz Sá (1907 - 1979), criador dos personagens Reco-Reco, Bolão e Azeitona que, durante anos, foram publicados na revista infantil O Tico-Tico. Mudou-se para o Rio em 1928, quando expôs bicos-de-pena aquarelados que retratavam costumes de sua terra.

Ligado ao cinema, produziu desenhos humorísticos para jornais cinematográficos. Foi o criador do Bonequinho, personagem usado até hoje na seção de crítica de cinema do jornal O Globo. Seu desenho é caracterizado pelo uso quase exclusivo de linhas curvas, tendo quase todos os seus personagens os rostos arredondados.







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