March 25, 2018

Facebook tira do ar página que bombou notícia falsa sobre Marielle Franco


LEONARDO SAKAMOTO

 

Envolvidos na difusão de notícia falsa sobre a vereadora Marielle Franco, a página Ceticismo Político e dois perfis no Facebook atribuídos ao nome ''Luciano Aya'', que se apresenta como o responsável por ela, foram retirados do ar. Os perfis de Ayan estão indisponíveis desde a noite de sexta (23) e a página neste sábado.

O Facebook confirma que essa página (facebook.com/ceticismopolitico) e os perfis não voltam ao ar. ''Nossos Padrões da Comunidade não permitem perfis falsos, e contamos com nossa comunidade para denunciar contas assim. Páginas administradas por perfis falsos também violam nossas políticas'', afirma porta-voz da empresa ao blog.

Após o bloqueio de sua página, o Ceticismo Político publicou, n um texto de alguém que afirma se chamar Carlos Augusto de Moraes Afonso e que seria responsável pelo pseudônimo Luciano Ayan e pelas páginas no Facebook.

Logo após a execução de Marielle, no dia 14, no Rio de Janeiro, ter criado comoção nas redes sociais e veículos de comunicação em todo o mundo, começou a circular informação falsa de que ela seria namorada do traficante Marcinho VP e aliada de uma facção criminosa.

Nesta sexta, o jornal O Globo publicou a reportagem ''Como ganhou corpo a onda de 'fake news' sobre Marielle Franco'', apontando que o link mais compartilhado na difusão do boato de ligação dela com o crime organizado pertencia ao site Ceticismo Político. O conteúdo foi divulgado através da página com mesmo nome no Facebook, atribuída a Luciano Ayan. E, logo depois, reproduzido pela página do MBL na mesma rede social.

De acordo com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura, da Universidade Federal do Espírito Santo, a publicação do Ceticismo Político havia sido compartilhada mais de 360 mil vezes no Facebook até a noite de quinta. Os dados do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo, reafirmam o número. Isso o coloca em primeiro lugar entre as postagens que trataram do boato, considerando tanto as que difamaram quanto as que defenderam Marielle.

Os nomes ''Luciano Henrique Ayan'' e ''Luciano Ayan'' são velhos conhecidos do debate político nas redes sociais desde os tempos do Orkut. Postagens com notícias falsas, desinformação, manipulação de dados e de reportagens e hiperpartidarização são comuns no material que divulga. Contudo, não se sabe se ele existe mesmo, se é um pseudônimo ou é um personagem alimentado por um grupo, o que dificulta sua interpelação e responsabilização. Pelo menos, até agora, com a carta publicada por Carlos Afonso, que se diz da ''área de tecnologia'', assumindo o pseudônimo. Mas que também não publicou foto ou deu mais informações sobre si.

O perfil que seria vinculado a ele no Facebook não está mais disponível desde ontem à noite. Não apenas Luciano Henrique Ayan (facebook.com/luciano.henriqueayan), como também ''Luciano Ayan'' (facebook.com/luciano.ayan.96) estão fora do ar.

De acordo com os Padrões da Comunidade do Facebook, que traz as regras de utilização da plataforma digital, as pessoas que desejam se conectar à rede precisam usar suas verdadeiras identidades. Ou seja, não são permitidas contas falsas. A regra, na prática, é pouco cumprida, o que leva à existência de milhões de contas falsas usadas com objetivos comerciais, políticos ou de simples desejo de anonimato.

Acionada por denúncias de usuários, a rede pode suspender perfis e páginas até que comprovem não serem falsos. Tanto a página quanto os dois perfis sofreram uma avalanche de denúncias por conta da matéria de O Globo.

Também pelas regras da plataforma, uma página tem que estar vinculada a um ou mais perfis de pessoas reais. A rede comprovou que os perfis por trás da página Ceticismo Político
 (facebook.com/ceticismopolitico) – com mais de 106 mil curtidas e que traz o nome e uma suposta foto de Luciano Ayan – eram falsos e a removeu do ar. Há outras menores, como a que está no endereço facebook.com/ceticismopolitico.org, com 25 mil curtidas, que permanecem, contudo, no ar.
A rede social não conta com políticas específicas para identificação de notícia falsa, a justificativa é de que a empresa não quer ser ''árbitro da verdade''. A remoção de conteúdos fraudulentos depende, na maior parte das vezes, de ordem judicial.

Mas sua política de autenticidade acaba sendo a porta utilizada para suspender quem veicula notícias falsas que prejudicam outras pessoas, uma vez que uma parte dos perfis que alimentam a rede de desinformação é fraudulento.

Para um perfil suspenso retornar ao Facebook, seu proprietário deve comprovar, com um documento de identidade com foto, que ele é ele. O mesmo se aplica aos perfis que administram páginas. No caso abordado aqui, a empresa afirma que eles não retornam.

A Constituição Federal, em seu artigo 5o, inciso IV, afirma que ''é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato''. Ou seja, garante a liberdade de expressão como direito fundamental, mas cobra daqueles que a exercem responsabilidade pela consequência de seus atos.
Veículos de comunicação tradicionais, independentes e alternativos, comunicadores em redes sociais, blogs, sites grande ou pequenos, que se apresentam publicamente com identidade real e formas de serem localizados, com endereço físico real, por exemplo, podem ser interpelados judicialmente caso alguém se sinta prejudicado por alguma ação por eles realizada. Já quem está sob o anonimato ou pseudônimos, não.

Há discussões no Tribunal Superior Eleitoral, no Congresso Nacional e junto às empresas que controlam redes sociais para aumentar a transparência e reduzir a possibilidade de anonimato durante as eleições deste ano.

Ressalte-se a importância de veículos tradicionais e alternativos na resposta aos boatos. Considerando a repercussão deste que difamou Marielle Franco, o Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP aponta que, em segundo lugar entre os mais compartilhados, ficou a postagem da plataforma de checagem Aos Fatos, manchete do portal UOL, com mais de 276 mil compartilhamentos.

O título era ''Não, Marielle não foi casada com Marcinho VP, não engravidou aos 16 e não foi eleita pelo Comando Vermelho''. Em quarto e quinto, duas postagens da plataforma de checagem E-farsas e do UOL relevando a mentira, com 73,6 mil e 57,7 mil, respectivamente.

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