October 19, 2017

Decisão sela a pior semana da Lava-Jato



Pedro Dias Leite, O Globo

A última semana foi a pior para a Lava-Jato desde que a operação foi deflagrada, há mais de três anos e meio. A reação dos políticos, ensaiada fazia muito tempo e anunciada desde que Romero Jucá clamava por estancar a sangria, por fim se concretizou.

Essa contraofensiva só foi possível porque o Supremo Tribunal Federal deu ao Congresso o impulso de coragem que faltava até agora. Ao autorizar deputados e senadores a rever decisões contra colegas acusados de corrupção, na prática chancelou que os políticos tomem as medidas de autoproteção.
Os 44 votos a favor de Aécio Neves no plenário do Senado e a maioria pró-Michel Temer na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara têm o mesmo significado: não importam as investigações da Lava-Jato, os áudios comprometedores, as malas de dinheiro, as dezenas de delações; se depender dos políticos, e agora depende só deles, ninguém será punido.

O movimento é amplo e pluripartidário: salvou Aécio, salvará Temer. Se Lula estivesse nas mãos de seus pares, e não nas de Sergio Moro, poderia dormir tranquilo na cobertura em São Bernardo.
Éesse contexto de ataque escancarado à Lava-Jato que permite que Aécio, gravado aos palavrões com Joesley Batista, vá à tribuna se dizer vítima de “ardilosa armação”.

O clima mudou, e a vergonha e o temor dos políticos diante das denúncias de corrupção deram lugar aum enfrentamento aberto. O pior ainda está por vir. Começa a ganhar força uma série de iniciativas que enterram de vez a Lava-Jato — como a mudança da decisão que determina a prisão após sentença em segunda instância e regras em debate para dificultar as delações premiadas. Nessa nova realidade, aumentam as chances de que medidas fundamentais para o combate à corrupção sejam revertidas.

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