February 28, 2017

Novo documentário narra a trajetória do roqueiro Serguei



Se existe um cantor que transgrediu as regras a ponto de ser o rei do underground brasileiro, ele é Sérgio Augusto Bustamante. Aos 83 anos, Serguei ainda respira o estilo rock n' roll por cada poro, apesar da saúde debilitada pelo mal de Alzheimer. Hedonismo define o roqueiro, que agora tem a carreira retratada em três longas-metragens.

Um deles é o documentário "Serguei, o Psicodélico", que a reportagem assistiu com exclusividade e deve estrear nos cinemas no segundo semestre deste ano. Os outros são "O Último Beatnik", com o ator Eriberto Leão no papel de Serguei, e uma pornochanchada.

"Neste momento de caretice generalizada, contar a história de um artista que nunca se rendeu ao moralismo e à repressão governamental é necessário", afirma André Kaveira, diretor do documentário. Vivendo em difícil situação financeira, o músico é coprodutor do projeto feito com verba própria e independente.

A obra foi gravada em dois anos de viagens num motorhome pelo Brasil e os Estados Unidos para mergulhar na vida do cantor. A essência beatnik "pé na estrada" impulsionou a caça pelas testemunhas de eventos surreais, como a noite em que Serguei dividiu o palco de um prostíbulo em Copacabana com Janis Joplin.

"Naquele tempo não tinha selfie, senão a gente teria registrado tudo", brinca a cantora Alcione, que relata no documentário a aventura regada a vodca vagabunda, após a cantora norte-americana ser quase barrada no baile por conta do visual hippie de chinelos. "Ela parecia uma cigana doida com um lenço na cabeça".

BATEU UMA ONDA FORTE
 
Intervenções sensuais da atriz Elida Braz conduzem a narrativa, inspirada numa viagem de ácido, com animações lisérgicas e vídeos VHS. O visual bate com o teor polêmico das entrevistas. De cara, a polícia sai atrás de Serguei, que beijava um rapaz em plena Cinelândia carioca em 1950. Serguei estampou os jornais em 1967 ao protestar nas ruas do Rio empunhando um cartaz a favor da liberdade de expressão em plena ditadura militar.

ROQUEIRO DESCOLADO
 
O trabalho de comissário de bordo fez do artista um "sacoleiro hipster" da época. Serguei abastecia o armário do cantor Roberto Carlos com camisas roqueiras compradas fora do país. Ambos foram amigos e iam ao cinema, quando o "rei" entrava disfarçado das fãs pelos fundos no meio da sessão.
Fora do expediente, o comissário das lentes de olhos azuis "fazia a louca". Na Espanha, ele dançou e derrubou vinho na atriz italiana Gina Lollobrigida, considerada então uma das mulheres mais bonitas do mundo. Resultado: demissão. O cantor foi ao Festival Woodstock, morou em San Francisco numa comunidade hippie com Janis Joplin, onde conheceu Jim Morrison, e foi garçom num restaurante em Nova York nas Torres Gêmeas.

REGISTRO HISTÓRICO
 
Depoimentos de Ney Matogrosso, Frejat, Erasmo Carlos, Angela RoRo, Michael Sullivan, Angela Maria, Evandro Mesquita, Tico Santacruz, Nelson Motta, Maria Juçá, Silvinho Blau Blau, Alcione e outras personalidades dimensionam a importância do caráter contestador do músico na sociedade e na história do rock nacional. A trilha sonora apresenta 18 faixas do artista. Relatos de shows históricos, como do Rock in Rio de 1991, conquistam os fãs.

CONTÉM NUDES
 
Cenas de uma transa entre Serguei e um rapaz de 20 anos arrematam a aventura de uma personalidade que "gosta de sexo pra cacete". Questionado sobre qual reação espera do público, ele não titubeia. "Não me preocupo com o que vão pensar, aquilo ali sou eu na minha essência."

 O cantor Serguei em Saquarema em foto de 2016

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