“MAYSA”: Só o apuro da reconstituição de época e as credenciais da minissérie, com texto de Manoel Carlos e direção de Jayme Monjardim, bastariam para atrair a atenção do público. Mas o programa também tinha como fio narrativo a vida marcada por excessos da cantora Maysa Matarazzo, vivida pela estreante Larissa Maciel. No time de revelações ainda havia Mateus Solano, elogiado no papel de Ronaldo Bôscoli.
“CAMINHO DAS ÍNDIAS”: Eram duas novelas em uma. A mais exótica se passava na Índia, onde o intocável Bahuan (Márcio Garcia) e a funcionária de telemarketing Maya (Juliana Paes) viviam uma paixão proibida, ameaçada pelo casamento arranjado dela com Raj (Rodrigo Lombardi).
A outra, passada no Rio, tinha como destaques a luta pelo poder na empresa Cadore, os saracoteios de Norminha (Dira Paes) na Lapa e o amor entre o esquizofrênico Tarso (Bruno Gagliasso) e Tônia (Marjorie Estiano).
Escrita por Glória Perez e dirigida por Marcos Schechtmann, a novela fez história ao ser a primeira produção brasileira do gênero a conquistar o Emmy Internacional. Ainda popularizou rituais e danças da cultura indiana e botou na boca do povo expressões como “are baba” e “atchá”. O público deu ao folhetim uma média de 39 pontos de ibope.
E chegou a influenciar a trama, consagrando o personagem de Lombardi, que terminou ao lado da mocinha.
“ESQUADRÃO DA MODA”: Versão do reality britânico de sucesso “What not to wear”, o programa conseguiu igual repercussão no SBT. Apresentada pela modelo Isabella Fiorentino e pelo stylist Arlindo Grund, a atração promove a transformação do guarda-roupa de uma pessoa comum. O ponto alto do ano foi a participação da cantora Stefhany.
“CARAS & BOCAS”: Apesar do tema — o mundo das artes plásticas —, a novela de Walcyr Carrasco nada tem de elitista. A atração das 19h, que conseguiu elevar em 20% a média de audiência dos últimos três folhetins do horário, chama a atenção pelas cenas de comédia, pelo texto ágil e por incluir um macaco pintor no elenco. A história é centrada na relação de amor e ódio entre a galerista Dafne (Flávia Alessandra) e o pintor Gabriel (Malvino Salvador). O sucesso popular fez a novela ser esticada em dois meses.
“POR TODA MINHA VIDA”: Embora tenha sido criado em 2006, o programa que biografa nomes da música brasileira teve em 2009 sua consagração.
Indicada pela terceira vez ao Emmy Internacional (pelo episódio sobre Mamonas Assassinas), a atração que une documentário e dramaturgia recriou as trajetórias de Cazuza, Claudinho (parceiro de Buchecha) e Raul Seixas.
Com boas audiências, virou fenômeno até no Twitter, onde fãs criaram o “Claudinho e Buchecha Day”.
“CINQUENTINHA”: Quatro viúvas, uma herança. Com essa receita de confusão, Aguinaldo Silva escreveu a divertida minissérie dirigida por Wolf Maya. As ex-mulheres eram vividas por Betty Lago, Maria Padilha, Marília Gabriela e Susana Vieira. O autor brincou com a biografia das atrizes para criar suas personagens.
“SOM & FÚRIA”: Escorada no prestígio do diretor Fernando Meirelles (de “Cidade de Deus”), a minissérie, versão da canadense “Slings and arrows”, foi das estreias mais comentadas do ano. A produção da 02 mostrava as coxias de montagens de Shakespeare.
No elenco, Felipe Camargo em seu primeiro protagonista de TV depois de 17 anos, Maria Flor e uma elogiada Andrea Beltrão.
“TRUE BLOOD”: A onda de vampiros que contaminou a ficção chegou à TV, pela HBO, com a série de Alan Ball. A trama se passa numa cidadezinha onde convivem sugadores de sangue, outros seres bizarros e humanos com a sexualidade a mil. Anna Paquin e Stephen Moyer são os protagonistas.
“GLEE”: Junte pérolas da música pop, uma trama passada numa high school e personagens à margem do sonho americano: esta é a receita do seriado de maior sucesso de 2009. Exibido pela Fox e inspirado no açucarado “High school musical”, o seriado retrata um coro de colégio formado por “perdedores”. Entre eles, um cadeirante, um gay e uma negra obesa. Além da história saborosa, a produção também virou fenômeno musical. Suas versões vocais de canções como “Don’t stop believing”, do Journey, chegaram ao topo das paradas.
“CILADA”: Roteirista e ator da sitcom, Bruno Mazzeo conseguiu um feito para poucos este ano: estar no ar, ao mesmo tempo, na TV aberta e na a cabo. Surgido no Multishow, o programa, na sexta temporada em sua versão original, virou quadro do “Fantástico” em abril. A proposta, de mostrar as roubadas em que o sujeito comum acaba se metendo, continua a mesma, mas agora Mazzeo faz graça com relacionamentos amorosos.
Os melhores de 2009 foram escolhidos pela equipe da Revista da TV
O Globo, 24 de dezembro de 2009
local onde publico os textos & artigos maiores citados no BLOG0NEWS de modo que os posts de lá não fiquem enormes.
December 26, 2009
December 17, 2009
O poder das empresas de ônibus do Rio
Na capa do jornal "O Globo" de ontem o destaque foi dado à grande via que a Prefeitura vai abrir ligando a Penha à Barra da Tijuca. Para viabilizá-la 3630 imóveis serão desapropriados e e o investimento será da ordem de 790 milhões de reais.
É muito dinheiro e seria interessante fazer uma avaliação que qual será o percentual da população que se beneficiará dessa grande obra. Afinal é realmente muito mais significativo o fluxo de gente daquela região para a Barra do que para o Centro da cidade?
Não seria mais importante criar vias alternativas e melhoras as que já existem, além da própria avenida Brasil tão abandonada e deteriorada?
Ao que parece esse grande investimento continua a fazer o dinheiro público fluir na direção dos interesses dos empreiteiros da Barra e dos donos das grandes empresas de ônibus.
Este é um mistério que sempre me inquietou: como é que as empresas de ônibus conseguem fazer com que todas as políticas públicas sempre as beneficiem e que nenhuma medida no sentido de contê-las se viabilize?
Não se viu nenhuma redução do número de ônibus que todos os dias atravacam as suas do rio com suas enormes carrocerias depois da restrição às vans. Não se consegue implementar o bilhete único que reduziria o extorsivo custo do transporte que atende (mal) à maior parte da classe trabalhadora. Não houve nenhum investimento significativo no sentido de melhorar e ampliar a malhar ferroviária que, no passado, já foi o mais importante meio de transporte para a população dos subúrbios.
E praças outrora lindas como a Saens Pena e a General Osório, desaparecem e se tornaram lugares feios e insalubres devido ao paredão de ônibus que fazem ali seu ponto final.
Será que não se deve também à força dessas empresas e de suas bancadas municipais e estaduais o atraso secular do projeto de ampliação do nosso metrô?
Uma das coisas interesses que esse grande urbanista que é Sergio Magalhães diz em sua entrevista publicada no caderno Razão Social do Globo e que linkei nesta página é que as autoridades são reativas. Ou seja elas reagem à pressão e podem modificar suas políticas em função de pressões de seus virtuais eleitores. É preciso então que todos, sempre que tiverem oportunidade, se manifestem contra essas duas forças do atraso que impedem a renovação do Rio de Janeiro histórico e popular: empreiteiros e empresários de transporte ganaciosos que não estão nem um pouco comprometidos com o bem-estar da população.
- Isabel Lustosa
December 16, 2009
Choque de ordem: uma fórmula antipática e ineficaz
A idéia de que a ordem social se transforma a partir de uma atitude de impacto não se comprova na prática.
A prática demonstra que choques de ordem funcionam no momento em que são aplicados mas não implicam em melhorias continuadas da ordem. Essas só ocorrem com projetos de longa duração, com investimentos de fluxo contínuo, com a constante presença do Estado junto à comunidade sob a forma de boas instalações e de funcionários bem formados.
Todas essas medidas que vemos anunciadas nos jornais com estardalhaço, algumas ridículas como o recolhimento dos brinquedos em algumas praças, outras atacando apenas os setores menos capazes de opor resistência, como os vendedores ambulantes; ou destruindo instalações de bares de alguns desapadrinhados, visam apenas a publicidade e o voto dos desavisados. E são desmoralizadas, por exemplo, pela volta dos moradores de rua aos mesmos lugares no dia seguinte. Sinal de que essa não é a solução para o problema da população de rua. É preciso achar uma outra política.
Não é assim que o Rio vai mudar para melhor.
Esse progresso só será alcançado a partir de um planejamento consciencioso e articulado das políticas públicas de longo prazo que contemplem as questões urbanas em seu conjunto: transportes, circulação, iluminação pública, limpeza das ruas, escoamento das águas, segurança e, é claro, saúde e educação.
Sem esquecer o planejamento ordenado do crescimento da cidade e, este é um problema que, no momento, diz respeito à expansão especulativa que se volta para a Zona Oeste e que pretende se beneficiar dos recursos públicos destinados às Olimpiadas de 2016.
A prática demonstra que choques de ordem funcionam no momento em que são aplicados mas não implicam em melhorias continuadas da ordem. Essas só ocorrem com projetos de longa duração, com investimentos de fluxo contínuo, com a constante presença do Estado junto à comunidade sob a forma de boas instalações e de funcionários bem formados.
Todas essas medidas que vemos anunciadas nos jornais com estardalhaço, algumas ridículas como o recolhimento dos brinquedos em algumas praças, outras atacando apenas os setores menos capazes de opor resistência, como os vendedores ambulantes; ou destruindo instalações de bares de alguns desapadrinhados, visam apenas a publicidade e o voto dos desavisados. E são desmoralizadas, por exemplo, pela volta dos moradores de rua aos mesmos lugares no dia seguinte. Sinal de que essa não é a solução para o problema da população de rua. É preciso achar uma outra política.
Não é assim que o Rio vai mudar para melhor.
Esse progresso só será alcançado a partir de um planejamento consciencioso e articulado das políticas públicas de longo prazo que contemplem as questões urbanas em seu conjunto: transportes, circulação, iluminação pública, limpeza das ruas, escoamento das águas, segurança e, é claro, saúde e educação.
Sem esquecer o planejamento ordenado do crescimento da cidade e, este é um problema que, no momento, diz respeito à expansão especulativa que se volta para a Zona Oeste e que pretende se beneficiar dos recursos públicos destinados às Olimpiadas de 2016.
- Isabel Lustosa
December 13, 2009
Sonho de cinema por trás dos muros
Menores infratores do Instituto João Luiz Alves, na Ilha, fazem filme sobre futebol
Tulio Brandão
Para os menores infratores do Instituto João Luiz Alves, na Ilha do Governador, o melhor da vida é a ficção.
Pelas retinas de cada um deles, escorrem lembranças de violência, colapso familiar, perdas. Para mudar as imagens dessa sala escura, eles ganharam de presente a oportunidade de fazer um filme. Decidiram, claro, não escrever sobre seus dramas reais, mas contar a história do mundo em que eles gostariam de viver. “Sonho de futebol” — que está sendo dirigido por Zelito Viana, Cris D’Amato e Cininha de Paula — narra as dificuldades de jogadores de um time de terceira divisão do Rio.
O filme — resultado do Projeto Oficinas Culturais Cine Degase, patrocinado pela Oi — tem cenas sendo rodadas neste momento no próprio Instituto João Luiz Alves. A Justiça só autorizou a participação dos menores no projeto com a condição de que eles aparecessem maquiados ou ganhassem uma caracterização de personagem.
A adaptação foi feita a partir de sugestões dos próprios garotos pelo maquiador Vavá Torres. José Renato Monteiro, um dos coordenadores da oficina, espantou-se com a reação de garotos que normalmente têm cara de mau ao ficar diante das câmeras: — A primeira pergunta é: “eu estou bem”? Alguns falam em continuar no ofício de ator, quando ficarem livres.
Um abismo separa os dois mundos.
X, de 16 anos, oscilava entre o sonho do galã e a dura realidade que o aguarda fora dos muros do instituto.
— Não tenho ilusão. No crime uma hora a casa cai: você morre, fica aleijado ou vai preso. Por isso vou mudar, mas antes tenho que resolver umas paradas sérias lá fora — diz ele. — Depois, vou procurar as pessoas para fazer um curso. Tudo o que eu quero, consigo.
Para a psicanalista Leila Ripoll, que apoia o grupo durante o projeto, eles têm pressa: — Nas filmagens, há uma intolerância muito grande à espera. Eles querem jogar bola, mas são obrigados a parar o tempo todo para filmar. Dizem que, assim, com interrupções, não tem graça. A questão do tempo, para eles, é muito complexa. Mas, ao mesmo tempo, gostam da experiência do cinema.
Um deles me disse que a filmagem é o único momento da vida em que ele não sofre.
A falta de paciência contrasta com o esforço dos menores em chegar preparados às filmagens. A diretora Cris D’Amato, que dirigia as cenas do campo de futebol, driblou com categoria os problemas da filmagem: — Encontrei pessoas delicadas, que decoram os textos e, literalmente, vestem a camisa para fazer um filme.
A arte é importante porque contribui para tirar esses jovens de uma realidade cruel, e oferece o lúdico, o amor, a esperança.
O talento salta os muros altos do instituto. Um dos menores confinados fez um rap sobre o filme. Virou a trilha sonora.
O filme deve ser finalizado até dezembro.
Os produtores ainda não sabem se haverá lançamento comercial. Só uma coisa é certa: cada menor infrator ganhará uma cópia, em DVD, para eternizar, ao menos na televisão da família, o sonho de uma vida longe do crime.
O Globo, 7 de dezembro de 2009
Tulio Brandão
Para os menores infratores do Instituto João Luiz Alves, na Ilha do Governador, o melhor da vida é a ficção.
Pelas retinas de cada um deles, escorrem lembranças de violência, colapso familiar, perdas. Para mudar as imagens dessa sala escura, eles ganharam de presente a oportunidade de fazer um filme. Decidiram, claro, não escrever sobre seus dramas reais, mas contar a história do mundo em que eles gostariam de viver. “Sonho de futebol” — que está sendo dirigido por Zelito Viana, Cris D’Amato e Cininha de Paula — narra as dificuldades de jogadores de um time de terceira divisão do Rio.
O filme — resultado do Projeto Oficinas Culturais Cine Degase, patrocinado pela Oi — tem cenas sendo rodadas neste momento no próprio Instituto João Luiz Alves. A Justiça só autorizou a participação dos menores no projeto com a condição de que eles aparecessem maquiados ou ganhassem uma caracterização de personagem.
A adaptação foi feita a partir de sugestões dos próprios garotos pelo maquiador Vavá Torres. José Renato Monteiro, um dos coordenadores da oficina, espantou-se com a reação de garotos que normalmente têm cara de mau ao ficar diante das câmeras: — A primeira pergunta é: “eu estou bem”? Alguns falam em continuar no ofício de ator, quando ficarem livres.
Um abismo separa os dois mundos.
X, de 16 anos, oscilava entre o sonho do galã e a dura realidade que o aguarda fora dos muros do instituto.
— Não tenho ilusão. No crime uma hora a casa cai: você morre, fica aleijado ou vai preso. Por isso vou mudar, mas antes tenho que resolver umas paradas sérias lá fora — diz ele. — Depois, vou procurar as pessoas para fazer um curso. Tudo o que eu quero, consigo.
Para a psicanalista Leila Ripoll, que apoia o grupo durante o projeto, eles têm pressa: — Nas filmagens, há uma intolerância muito grande à espera. Eles querem jogar bola, mas são obrigados a parar o tempo todo para filmar. Dizem que, assim, com interrupções, não tem graça. A questão do tempo, para eles, é muito complexa. Mas, ao mesmo tempo, gostam da experiência do cinema.
Um deles me disse que a filmagem é o único momento da vida em que ele não sofre.
A falta de paciência contrasta com o esforço dos menores em chegar preparados às filmagens. A diretora Cris D’Amato, que dirigia as cenas do campo de futebol, driblou com categoria os problemas da filmagem: — Encontrei pessoas delicadas, que decoram os textos e, literalmente, vestem a camisa para fazer um filme.
A arte é importante porque contribui para tirar esses jovens de uma realidade cruel, e oferece o lúdico, o amor, a esperança.
O talento salta os muros altos do instituto. Um dos menores confinados fez um rap sobre o filme. Virou a trilha sonora.
O filme deve ser finalizado até dezembro.
Os produtores ainda não sabem se haverá lançamento comercial. Só uma coisa é certa: cada menor infrator ganhará uma cópia, em DVD, para eternizar, ao menos na televisão da família, o sonho de uma vida longe do crime.
O Globo, 7 de dezembro de 2009
December 12, 2009
Solar Del Rei, em Paquetá, vive seus dias de plebeu
Imóvel que já hospedou Dom João VI está interditado e espera reforma emergencial para não desabar por completo
Jaqueline Costa
foto de Custódio Coimbra
Depois de ter sido a mais suntuosa propriedade de Paquetá e de ter hospedado por diversas vezes Dom João VI , o Solar Del Rei, em Paquetá, vive tristes dias. Logo na entrada, uma placa adverte sobre a interdição e o risco de desabamento. O imóvel, que abriga a única biblioteca da ilha, foi fechado pela prefeitura em 27 de outubro, após anos de abandono. A construção está caindo aos pedaços.
Em decorrência dos problemas no telhado, infiltrações e rachaduras se espalham por toda parte, o forro do teto está empenado e ameaça cair, e estão podres as esquadrias de madeira. O muro da propriedade também corre o risco de ruir. Nas salas que abrigam duas carruagens do século XIX, a água escorre pelas paredes internas nos dias de chuva.
Para garantir a restauração do imóvel histórico, o Ministério Público Federal está movendo uma ação civil pública contra a Fundação Anita Mantuano de Artes do Rio (Funarj), proprietária do solar. Mas a instituição informa que, como o imóvel está cedido para o município do Rio por prazo indeterminado desde 1976, cabe à prefeitura fazer a manutenção dele.
O município reconhece a responsabilidade e informa que está prevista uma obra emergencial, que inclui parte da cobertura, esquadrias e o muro. Mas ainda não há data para começar, já que os R$ 667 mil orçados ainda não foram liberados. Segundo Paulo Vidal, coordenador da Subsecretaria municipal de Patrimônio Cultural, está prevista uma restauração completa, financiada pelo BNDES.
— A reforma emergencial deve durar seis meses e visa a dar segurança ao solar, ao acervo e às pessoas que lá trabalham. Em seguida, assim que os trâmites do financiamento estiverem resolvidos, começará uma reforma completa, incluindo a parte de paisagismo, que custará cerca de R$ 1.900 — explica Paulo.
Em 21 de outubro, o Iphan realizou uma vistoria no local e constatou que o principal ponto de deterioração é o telhado. Foi feito um novo ofício à prefeitura para que obras emergenciais sejam iniciadas logo. Segundo o laudo, o imóvel está em franco estado de degradação interna e externa. A visita anterior da instituição ao solar ocorreu em 2006, quando já haviam sido feitas recomendações para cessar o processo de ruína.
Ameaça de multa pelos anos de abandono
Tentativa de acordo para a reforma do imóvel fracassou
Além da restauração do solar, o Ministério Público Federal (MPF) quer que a Funarj pague uma multa correspondente ao dobro dos prejuízos causados pelo abandono. Se não houver recursos suficientes para as obras necessárias, o MPF pede ainda que o Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan) se responsabilize pelas reformas.
— O MPF tentou resolver a questão por meio de um acordo, um termo de ajustamento de conduta, mas as instituições não se manifestaram — disse a procuradora da República Gisele Porto, responsável pela ação civil pública.
Cláudia Luna, coordenadora da ONG Nosso Papel, responsável pelo projeto Ponto de Cultura de Paquetá, lamenta o fechamento da biblioteca não só pela decadência do patrimônio histórico, mas pela interrupção do atendimento na biblioteca. Ela foi uma das organizadoras de um abaixoassinado entregue na última segunda-feira à Secretaria municipal de Cultura.
A Biblioteca Popular funcionava desde 1977 na construção.
O acervo, com cerca de 15.300 títulos, ainda está lá, assim como parte da memória da Ilha de Paquetá, que inclui fotografias antigas.
— O solar é fundamental para a educação das crianças da ilha porque, além dos livros, o espaço abriga exposições, lançamentos e cursos. A ilha tem cerca de quatro mil moradores, sendo cerca de 700 crianças e adolescentes. Eles são desprovidos de opções de lazer e cultura e vivem isolados até por conta do preço das passagens das barcas — argumenta Cláudia.
Bens tombados, porém tombados
Em Paquetá, há 17 bens tombados em níveis diferentes — um deles é um conjunto de ilhas próximas. A Escola Municipal Pedro Bruno, um dos dez imóveis tombados pelo município, é outra construção da ilha que carece de restauração.
Na fachada lateral, há infiltrações e muitas janelas estão com os vidros quebrados.
O palacete, em estilo neoclássico, foi a terceira e última sede da Fazenda São Roque e, desde da década de 60, funciona como escola. Paulo Vidal, da Subsecretaria municipal de Patrimônio, diz que há um projeto em curso para reformar toda a escola.
Em frente à escola, há um singelo coreto, na Praça São Roque, feito de alvenaria, com colunas toscanas e guarda corpo em cobogós cerâmicos.
No alto, há um beiral recortado em madeira. Alguns pedaços estão faltando.
No Parque Darke de Mattos, na Praia José Bonifácio, quase todas as luminárias e brinquedos estão quebrados. O lugar, tombado pelo Inepac, foi parte de uma antiga residência. Seus jardins têm árvores centenárias, túneis, mirantes e trilhas.
O Globo, 6 de dezembro de 2009
December 2, 2009
Mercado de armas no Rio e em SP é lucrativo
Grande fluxo bélico para os dois principais mercados do país segue por via rodoviária, vindos do Paraguai e da Bolívia
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O contrabando de armas para criminosos segue as mesmas regras comuns da economia legal, regulado pela mais básica das leis: a da oferta e da procura. O mercado está tão lucrativo que a novidade do momento no Brasil é a utilização esporádica de pequenos aviões para contrabandear armas como fuzis automáticos. Previamente, apenas cargas mais valiosas, como drogas, justificariam o uso de aeronaves.
O grande fluxo de armas para os dois principais mercados do país -criminosos da Grande São Paulo e do Grande Rio- segue mesmo é por via rodoviária, vindos da mesma direção básica: as porosas fronteiras com Paraguai e Bolívia.
Lotes maiores chegam misturados a cargas de caminhões. Os frigoríficos são boas opções, pois é difícil que um policial rodoviário queira se embrenhar no meio de carcaças de bois para vasculhar um eventual contrabando. Caminhões-tanque também são boas opções: as armas vão bem embrulhadas dentro do líquido.
O armamento, segundo se depreende pelas amostras apreendidas, tem origem muito variada.
Os fuzis automáticos preferidos são dos dois calibres mais comuns no mundo ocidental, o 5,56 mm padrão Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) -caso do M-16 ou sua versão semiautomática vendida livremente nos EUA, o AR-15- e 7,62 mm padrão Otan (caso das várias versões do fuzil belga FAL, utilizado pelo Exército). No momento, apenas Chile e Brasil produzem fuzis na América do Sul.
A Argentina chegou a produzir sua versão do FAL, mas sua produção está parada. Fuzis FAL argentinos já foram apreendidos no Brasil com criminosos, assim como armas que eram dos exércitos da Bolívia e Paraguai.
Mesmo uma arma razoavelmente antiga -como um fuzil americano BAR, que a Força Expedicionária Brasileira usou na Segunda Guerra- continua sendo potente hoje nas mãos de criminosos. Conforme o popular clichê da imprensa, "é capaz de derrubar helicópteros" (caramba, uma pedrada bem colocada basta para derrubar um helicóptero sem blindagem!). E certamente perfuraria um carro-forte se armado com a munição adequada.
As Forças Armadas brasileiras são uma pequena fonte de armas. Além de elas estarem bem vigiadas internamente, atacar um quartel é uma medida rara e arriscada para obtenção de armas. Em 2009, apenas 16 armas foram roubadas ou furtadas do Exército; e 12 já foram recuperadas.
Algumas armas do crime vêm direto de Miami por navio para os países vizinhos antes de começarem a jornada por terra. Fuzis Ruger, por exemplo, são apenas fabricados nos EUA.
Uma outra rota de contrabando, usada principalmente no Rio, é aquela feita por navios. Como os "clientes" estão nos morros ali perto, fica fácil usar uma lancha ou um aparentemente inocente pesqueiro para receber o armamento antes mesmo de o navio atracar. Por não ter "fregueses" tão próximos, Santos, não costuma estar na rota.
A rota por mar tende a ser mais usada por contrabandistas de um modelo de arma mais raro no país, mas que começa a se fazer presente: os fuzis russos da série AK, conhecidos como "a Coca-Cola das armas", pois estão em toda a parte, são produzidos em muitos lugares, e a quantidade produzida foi prodigiosa: 60 milhões.
O russo Mikhail Kalachnikov -o "K" do nome; o "A" é de "automática"- produziu uma arma robusta e simples de usar, também calibre 7,62 mm, mas disparando uma munição mais curta que a do padrão Otan. A AK-47 (que data de 1947), sua versão melhorada AKM, e uma versão de calibre menor (AK-74, calibre 5,45 mm), costumam ser contrabandeadas de países do leste europeu (os ex-satélites do mundo comunista), e de países africanos que viveram guerras civis, como Angola, onde uma arma dessas é vendida literalmente a preço de banana. O preço, claro, aumenta quando chega nos morros cariocas. Questão de mercado, de oferta e de procura
Folha, 22 de novembro de 2009
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O contrabando de armas para criminosos segue as mesmas regras comuns da economia legal, regulado pela mais básica das leis: a da oferta e da procura. O mercado está tão lucrativo que a novidade do momento no Brasil é a utilização esporádica de pequenos aviões para contrabandear armas como fuzis automáticos. Previamente, apenas cargas mais valiosas, como drogas, justificariam o uso de aeronaves.
O grande fluxo de armas para os dois principais mercados do país -criminosos da Grande São Paulo e do Grande Rio- segue mesmo é por via rodoviária, vindos da mesma direção básica: as porosas fronteiras com Paraguai e Bolívia.
Lotes maiores chegam misturados a cargas de caminhões. Os frigoríficos são boas opções, pois é difícil que um policial rodoviário queira se embrenhar no meio de carcaças de bois para vasculhar um eventual contrabando. Caminhões-tanque também são boas opções: as armas vão bem embrulhadas dentro do líquido.
O armamento, segundo se depreende pelas amostras apreendidas, tem origem muito variada.
Os fuzis automáticos preferidos são dos dois calibres mais comuns no mundo ocidental, o 5,56 mm padrão Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) -caso do M-16 ou sua versão semiautomática vendida livremente nos EUA, o AR-15- e 7,62 mm padrão Otan (caso das várias versões do fuzil belga FAL, utilizado pelo Exército). No momento, apenas Chile e Brasil produzem fuzis na América do Sul.
A Argentina chegou a produzir sua versão do FAL, mas sua produção está parada. Fuzis FAL argentinos já foram apreendidos no Brasil com criminosos, assim como armas que eram dos exércitos da Bolívia e Paraguai.
Mesmo uma arma razoavelmente antiga -como um fuzil americano BAR, que a Força Expedicionária Brasileira usou na Segunda Guerra- continua sendo potente hoje nas mãos de criminosos. Conforme o popular clichê da imprensa, "é capaz de derrubar helicópteros" (caramba, uma pedrada bem colocada basta para derrubar um helicóptero sem blindagem!). E certamente perfuraria um carro-forte se armado com a munição adequada.
As Forças Armadas brasileiras são uma pequena fonte de armas. Além de elas estarem bem vigiadas internamente, atacar um quartel é uma medida rara e arriscada para obtenção de armas. Em 2009, apenas 16 armas foram roubadas ou furtadas do Exército; e 12 já foram recuperadas.
Algumas armas do crime vêm direto de Miami por navio para os países vizinhos antes de começarem a jornada por terra. Fuzis Ruger, por exemplo, são apenas fabricados nos EUA.
Uma outra rota de contrabando, usada principalmente no Rio, é aquela feita por navios. Como os "clientes" estão nos morros ali perto, fica fácil usar uma lancha ou um aparentemente inocente pesqueiro para receber o armamento antes mesmo de o navio atracar. Por não ter "fregueses" tão próximos, Santos, não costuma estar na rota.
A rota por mar tende a ser mais usada por contrabandistas de um modelo de arma mais raro no país, mas que começa a se fazer presente: os fuzis russos da série AK, conhecidos como "a Coca-Cola das armas", pois estão em toda a parte, são produzidos em muitos lugares, e a quantidade produzida foi prodigiosa: 60 milhões.
O russo Mikhail Kalachnikov -o "K" do nome; o "A" é de "automática"- produziu uma arma robusta e simples de usar, também calibre 7,62 mm, mas disparando uma munição mais curta que a do padrão Otan. A AK-47 (que data de 1947), sua versão melhorada AKM, e uma versão de calibre menor (AK-74, calibre 5,45 mm), costumam ser contrabandeadas de países do leste europeu (os ex-satélites do mundo comunista), e de países africanos que viveram guerras civis, como Angola, onde uma arma dessas é vendida literalmente a preço de banana. O preço, claro, aumenta quando chega nos morros cariocas. Questão de mercado, de oferta e de procura
Folha, 22 de novembro de 2009
December 1, 2009
Traficantes utilizam via turística
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A CORUMBÁ (MS)
Os 120 km de terra da turística estrada Parque, que atravessa o Pantanal sul-matogrossense, são uma rota alternativa segura para os traficantes de drogas e armas que ingressam no Brasil a partir da fronteira com a Bolívia.
Com o piso ainda em bom estado, embora a temporada de chuvas já tenha começado, a estrada dá acesso às grandes fazendas pantaneiras e aos hotéis rurais que exploram as atrações oferecidas pelas planícies alagadas.
O motivo da preferência do tráfico pela rota turística é a absoluta falta de policiamento e vigilância. Recentemente, chamou a atenção dos policiais o aumento da frequência de caminhões.
"É uma estrada exclusivamente para o turismo, não há razão para caminhões de mercadorias passarem por ela. O que fazem os caminhões ali? Não é comum. Tem alguma coisa errada nisso", afirmou o delegado Hausner Helmut Voss, diretor-regional da Polícia Civil em Corumbá.
Como a falta de policiamento, a imensidão ajuda o tráfico. A estrada começa e termina na BR-262, em pontos diferentes, fazendo uma espécie de arco.
Os caminhões com armas e drogas não precisam nem deixar a estrada com o carregamento. Basta seguir para alguma propriedade, onde aviões de pequeno porte e helicópteros decolam sem qualquer vigilância, em direção aos centros urbanos da região Sudeste.
SERGIO TORRES
JOEL SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO SUÁREZ (BOLÍVIA) E CORUMBÁ (MS)
Folha, 22 de novembro de 2009
Os 120 km de terra da turística estrada Parque, que atravessa o Pantanal sul-matogrossense, são uma rota alternativa segura para os traficantes de drogas e armas que ingressam no Brasil a partir da fronteira com a Bolívia.
Com o piso ainda em bom estado, embora a temporada de chuvas já tenha começado, a estrada dá acesso às grandes fazendas pantaneiras e aos hotéis rurais que exploram as atrações oferecidas pelas planícies alagadas.
O motivo da preferência do tráfico pela rota turística é a absoluta falta de policiamento e vigilância. Recentemente, chamou a atenção dos policiais o aumento da frequência de caminhões.
"É uma estrada exclusivamente para o turismo, não há razão para caminhões de mercadorias passarem por ela. O que fazem os caminhões ali? Não é comum. Tem alguma coisa errada nisso", afirmou o delegado Hausner Helmut Voss, diretor-regional da Polícia Civil em Corumbá.
Como a falta de policiamento, a imensidão ajuda o tráfico. A estrada começa e termina na BR-262, em pontos diferentes, fazendo uma espécie de arco.
Os caminhões com armas e drogas não precisam nem deixar a estrada com o carregamento. Basta seguir para alguma propriedade, onde aviões de pequeno porte e helicópteros decolam sem qualquer vigilância, em direção aos centros urbanos da região Sudeste.
SERGIO TORRES
JOEL SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO SUÁREZ (BOLÍVIA) E CORUMBÁ (MS)
Folha, 22 de novembro de 2009