March 9, 2009

Liberdade enquadrada e impressa em madeira

O xilogravador Rubem Grilo exibe sua fase mais autoral e subjetiva

Táia Rocha


O limite estético sempre foi associado a uma ameaça para as artes plásticas. Contudo, se a idéia de que é preciso liberdade total para criar uma obra parece ser consenso universal, o xilogravador mineiro Rubem Grilo só considera e reconhece seu trabalho artístico a partir de 1973, ano em que passou a ilustrar jornais e fascículos periódicos. Se para muitos artistas a demanda formal da imprensa seria um desestímulo à criação, para Grilo representou a redenção:

– Me formei em agronomia, nunca fiz faculdade de belas artes. Não gostava da academia, sentia uma atmosfera de crítica e repressão a cada passo dado ali. No jornal, era livre para criar sem ficar me perguntando se o que estava fazendo era bom a cada minuto – conta.

Grilo – que inaugura nesta terça-feira a exposição Xilográfico, na Caixa Cultural, com 170 gravuras figurativas e abstratas, da fase que vai de 1985 até 2009 – permaneceu na imprensa até 1985, quando a ditadura militar chegou ao fim.

– A democracia voltou e pensei: "Perdeu a graça. Agora não há o que contestar, vai se tornar apenas mais uma opção profissional, como as outras". – explica o artista de 63 anos.

Processo ancestral

Foi quando a nova fase de seu trabalho, maduro para ser livre, começou a despontar. Os 25 anos seguintes foram de experimentação. A xilogravura havia sido adotada por unir as duas técnicas que mais encantavam o artista: a escultura e o desenho.

– Quando comecei com a gravura, a academia rejeitava as técnicas mais rudimentares, e não há nada tão manual quanto a xilo. Eu diria que é um processo quase ancestral – define. – Escolhi a técnica por isso, e essa pressão por estar fora do mercado, de tudo ser mais difícil para uma arte menos reverenciada, acabou me estimulando a insistir.

Grilo conta que, para criar, se inspira nas experiências passadas, que reaparecem em novos trabalhos.

– Como a matriz de madeira é um registro físico da experiência, volta e meia revisito o passado. As experiências não se repetem: elas abraçam as antigas. – analisa.

O artista, que só começou a desenhar aos 23 anos devido à timidez que o tomava ao se comparar com a mãe (artista) e o irmão (bom desenhista) na infância, é considerado hoje um dos maiores xilogravadores do país.

– A criação nos jornais me fortaleceu, mas a produção livre me fez crescer como artista. A exposição, a maior já feita no Rio, representa um ciclo na busca pelo amadurecimento.


Jornal do Brasil, 1 de março de 2009

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